Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

211: O Grande Assalto (2018): tiroteio e falta de coerência

Filme policial estrelado por Nicolas Cage apresenta história de assalto a banco que tem o mérito de conectar todos os personagens, mas falha em quesitos técnicos e no desenvolvimento da produção.

O gênero policial no cinema se destaca por valorizar a ação em detrimento da trama em si, com muitas obras sendo pouco fundamentadas e pecando em roteiro e execução. Neste tipo de produção, muitas vezes o que mais importa são os tiroteios e a destruição advinda de uma perseguição em alta velocidade, só para exemplificar. Mas o final quase sempre é o mesmo: a força policial se sobressai sobre os criminosos, mostrados como vilões cruéis sem muitas explicações do porquê serem como são. A falta de coerência e explicações traz uma imagem negativa para parte dessas produções, mas algumas conseguem se notabilizar. Neste caso, “211: O Grande Assalto” tenta fugir dessa pecha inovando em alguns pontos, mas no geral mantém o rótulo que os filmes policiais carregam.

Dirigido por York Alec Shackleton em sua primeira produção ficcional, o longa, baseado na história real de um tiroteio em 1997 na Califórnia, começa com uma cena no Afeganistão envolvendo quatro ex-agentes de uma força de operações especiais, liderados por Tre (Ori Pfeffer, “O Anjo da Mossad”), em busca do pagamento pelos serviços de proteção a um empresário do setor de construção, responsável por reconstruir o país. Dessa cena – uma grande matança, por sinal -, a história vai para a cidade de ficcional de Chesterford, nos Estados Unidos, onde os quatro ex-agentes, fortemente armados, pretendem roubar um banco onde o empresário escondeu o dinheiro devido.

Apesar de mal executado em certos pontos, o cruzamento das histórias dos personagens nos permite conhecê-los melhor, sempre tendo como enredo principal a tentativa de assalto. Três papéis chamam a atenção: o policial Mike Chandler, interpretado por Nicolas Cage (“Mandy”), prestes a se aposentar do departamento de polícia, onde é companheiro de patrulha de seu genro, Steve MacAvoy (Dwayne Cameron, do documentário “McLaren”); e o garoto Kenny (Michael Rainey Jr., da série “Orange Is the New Black”), vítima de bullying na escola, que ao revidar uma provação acaba tendo como punição passar um dia na companhia dos dois policiais, para, quem sabe, tomar juízo.

Ao tentar abordar uma van estacionada em local proibido na frente do banco escolhido para ser assaltado, os policiais, junto com o jovem Kenny, são recebidos a tiros pelos bandidos, mobilizando todas as forças policias da cidade em função do forte armamento impregnado pelos ex-agentes de guerra e pelo atentado à bomba causado por eles para chamar a atenção da polícia, trazendo diversas mortes e mutilações.

O problema de “211: O Grande Assalto” (o número 211 é o código para assalto usado pela polícia da Califórnia para se comunicar por rádio de maneira mais rápida) está nas suas motivações, e quanto mais a história é explicada, menos ela se sustenta. É difícil entender como quatro soldados decidem assaltar um banco para roubar menos de US$ 2 milhões (isso imaginando que o valor será dividido por quatro), e para isso matando várias pessoas de maneira cruel, seja por tiros ou pelo atentado terrorista de antes, e achando que vão sair vivos ou impunes, principalmente nos Estados Unidos pós-11 de setembro.

Apesar dos problemas (alguns graves, como erros de continuidade e edição), a produção tem pontos positivos, entre eles, o uso de câmeras não convencionais, como imagens de celular (sempre na posição vertical), de drones e de câmeras de segurança, trazendo mais dinamicidade para a narrativa. Outro ponto de destaque é a influência do personagem de Nicolas Cage (que se sobressai entre atuações fracas) sobre o destino dos demais, uma conexão fraca no começo do filme, mas que vai melhorando no decorrer da narrativa. Mike Chandler luta contra os bandidos mesmo quando não tem condições, e o ambiente ao seu redor é de caos total. O jovem Kenny, ao que parece, deveria ter mais espaço na tela, mas acaba aparecendo pouco e, quando surge, tem atuação apagada. Sua história se desenvolve bem quando ele está com o telefone na mão fazendo vídeos, fotos ou dando um jeito de ligar para a mãe quando está sem bateria.

Mesmo com partes positivas e tentando fugir do senso comum em certos momentos, esses pontos não são suficientes para salvar “211: O Grande Assalto”. A produção erra em quesitos técnicos quando não deveria, não conseguindo assim dar verossimilhança ao longa. além de pecar pela falta de conteúdo e melhor desenvolvimento da sua história. Um bom filme policial, mesmo com seus vícios, consegue ter ação e ser interessante ao mesmo tempo. Aqui faltam os dois.

Filipe Scotti
@filipescotti

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