Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Carmen Sandiego (Netflix, 1ª Temporada): muito mais do que uma roupa estilosa [SÉRIE]

Animação elegante traz de volta um ícone numa obra cheia de estilo e informação.

Carmen Sandiego é uma franquia originada em jogos de computador na década de 1980. Com o sucesso, a personagem foi explorada em outras mídias e sendo bem recebida pelo público, contando com livros, séries animadas e jogos de tabuleiro. No início de 2019, a Netflix traz uma nova abordagem à personagem com a primeira temporada de nove episódios com o título “Carmen Sandiego”.

Os dois primeiros episódios tratam das origens da personagem. E embora apele muito para exposição barata para criar a narração dos eventos contados em flashback, a série faz um bom trabalho em apresentar as motivações da protagonista, dos antagonistas e do mundo a seu redor. Encontrada quando bebê na Argentina, ela é levada para a ilha da V.I.L.E., sede da fachada da organização criminosa que procura treinar ladrões para serem usados em roubos ao redor do mundo.

Chegando a V.I.L.E. sem um nome real, ela recebe o codinome “Ovelha Negra”, apropriado para a única aluna que se rebela contra o sistema e passa a lutar contra ele. O resto da temporada entrega Carmen e seus aliados (Jogador, Zack e Ivy) em missões no estilo Robin Hood, roubando itens valiosos ilegalmente adquiridos pela organização do mal e devolvendo-os para museus. Os irmãos ruivos surgem sem uma devida apresentação, mas isso não é um defeito grande em uma série, que pode investir neles em outras temporadas.

Já a história de como Carmen e Jogador se conhecem é contada bem no início e, se falta profundidade ao “cara-da-cadeira”, a química entre os dois funciona logo de cara. Jogador, aliás, tem sua voz original feita por Finn Wolfhard, o Mike de “Stranger Things”; já Carmen tem a voz de Gina Rodriguez, a protagonista da série “Jane, the Virgin”. É entre os dois que a série entrega uma de suas marcas registradas. Sempre que eles vão a um lugar novo ou falam sobre algum artefato histórico, a série dá uma mini lição de história e geografia, que o roteiro tenta fazer passar por um diálogo comum. Pode soar estranho como conversa, mas é um conteúdo rico e muito bem ilustrado na animação, resultando em informações valiosas e interessantes.

Destaque também para a dupla de agentes da Interpol Chase Devineaux (Rafael Petardi), que rende as melhores piadas da série com sua autoconfiança injustificada; e Julia Argent (Charlet Chung), com sua inteligência e raciocínio batendo de frente com seu parceiro impulsivo. Mais do que apenas alívios cômicos, eles são ótimos artifícios narrativos para fazer a trama andar de maneira fluída.

A animação tem traços simples, mas bonitos, e eles são bem mesclados com figurinos e design de produção para criar o clima certo para cada ambiente e personagem. Carmen, com seu chapéu e sobretudo vermelhos, esbanja estilo, elegância e autoconfiança, destacando-se dos demais personagens.

A temporada termina com um feliz e imprevisto plot twist que enriquece a trama, traz complexidade e camadas a um antagonista e deixa um gosto de “quero mais” para as próximas maratonas. Com uma ótima protagonista, informações culturais e históricas relevantes, um traço simples e elegante e personagens bem utilizados, “Carmen Sandiego” é um excelente revival da franquia, que ainda tem um filme live-action anunciado pela própria Netflix e com a mesma atriz principal no papel-título.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe