Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Apenas um Garoto em Nova York (2017): repetindo a velha receita

De volta às suas origens, Marc Webb decepciona ao contar apenas mais uma história sobre relacionamentos em Nova York.

Depois de surgir com a comédia romântica indie “500 Dias com Ela” (2009), Marc Webb foi convidado para dirigir entre 2012 e 2014 os dois filmes do reboot “O Espetacular Homem Aranha”. Entretanto, os principais elogios dos críticos sobre as obras do aracnídeo foram direcionados ao relacionamento entre Peter Parker e Gwen Stacy. Após a experiência com a ação não dar muito certo, o diretor retorna para o gênero que o consagrou em “Apenas um Garoto em Nova York”.

O filme conta a história de Thomas (Callum Turner, de “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald”), um jovem que terminou a graduação e não sabe qual caminho seguir na carreira. Apesar de ter uma família rica, decide morar no Lower East Side, uma região mais afastada da antiga residência. Sua vida muda quando descobre que seu pai, Ethan (Pierce Brosnan, de “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo”), um milionário dono de uma editora, está traindo sua mãe, Judith (Cynthia Nixon, de “Além das Palavras”) com Johanna (Kate Beckinsale, de “Anjos da Noite: Guerras de Sangue”).

Ainda tentando absorver a notícia, Thomas conhece o novo vizinho W.F. Gerald (Jeff Bridges, de “Kingsman: O Círculo Dourado”), um escritor alcoólatra que se propõe a ajudá-lo a encontrar um rumo. Ao saber do caso extraconjugal, o jovem passa a seguir a amante para tentar identificar o motivo da traição, protegendo a mãe, que não teria estruturas para aguentar mais uma perda. Ao conhecer mais sobre Johanna, assim como seu pai, eles acabam tendo um caso, criando assim um bizarro triangulo amoroso.

O roteiro de Alan Loeb (“O Espaço Entre Nós”) tenta manter um ar de intelectualidade com discussões sobre arte, literatura e as transformações de Nova York ao longo dos anos, porém soa forçado com diversas citações de autores jogadas ao vento. O personagem de Bridges, que também é o narrador da história, acaba sofrendo com o texto, sendo obrigado a destilar pequenas pílulas de conhecimento a cada conselho direcionado a Thomas.

Outro problema é a falsa casualidade – Manhattan parece uma vila de tanto que os personagens se encontram “por acaso” ao longo da obra. Webb insiste em destacar Nova York sempre com um olhar nostálgico, como se a cidade tivesse perdido a alma e a vibração de outrora. Seus personagens têm um olhar crítico, mas priorizam o que menos importa – sentem falta das guloseimas da Segunda Avenida, mas criticam as novas instalações urbanas.

Ao discorrer sobre as privacidades desconhecidas de um casal, a obra conta como pai e o filho interpretam de formas diferentes o relacionamento com Johanna. Enquanto o primeiro justifica com o casamento desgastado, o segundo vê como descobrimento e aventura. Estes distintos cenários poderiam criar uma dinâmica interessante, mas o roteiro realmente não ajuda – em um certo ponto, uma personagem chega a culpar a influência de Manhattan para a infidelidade.

Mesmo com as boas atuações de Brosnan e Bridges, todos seguem o estereótipo: o pai rico, a mãe frágil, a femme fatale, o vizinho sábio e o jovem imaturo. Também não precisava ser tão clichê na trilha sonora, com as óbvias “The Only Living Boy in New York“, de Simon & Garfunkel (em referência ao título do filme) e “Visions of Johanna”, de Bob Dylan. A receita é aquela mesma que estamos acostumados e este é só mais um filme de relacionamentos em Nova York.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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