Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 03 de janeiro de 2019

Dragon Ball Super: Broly (2018): seja (muito) bem-vindo, Broly!

Com lutas incríveis e um roteiro acima da média, o longa faz mais do que apenas trazer Broly para o cânone oficial do anime, engradecendo tanto o lore como o próprio personagem.

Em 1989, “Dragon Ball Z” era lançado na TV japonesa. O anime logo se tornou um dos maiores símbolos da cultura pop, rendendo derivados de sucesso décadas depois de ter chegado a seu fim em 1996. Em 2015, estreava o anime “Dragon Ball Super”, continuação canônica que conquistou muitos fãs. Quatro anos mais tarde, “Dragon Ball Super: Broly” chega aos cinemas brasileiros com a missão de trazer o personagem-título oficialmente para o cânone da franquia.

Você pode até estranhar, mas Broly não é exatamente um personagem oficial do anime. Em 1993, um longa-metragem da série foi lançado com o nome de “O Poder Invencível”, e nele é apresentado Broly, que apesar de ser da mesma raça do protagonista Goku, quebrou expectativas dos fãs ao ser revelado como o verdadeiro lendário super saiyajin. Enlouquecido pelo choro de Goku quando ambos eram bebês, Broly se prova um enorme desafio para os personagens que precisam superar seus limites para conseguir derrotá-lo. Apesar da grande popularidade, Broly nunca foi parte do cânone oficial da série, tendo apenas algumas aparições esporádicas em jogos de vídeo game.

Supervisionado e escrito pelo próprio Akira Toriyama, criador da série, “Dragon Ball Super: Broly” traz uma premissa bem mais interessante e verossímil do que a de 1993, que, francamente, era estúpida. O filme abre com Goku e Broly ainda bebês no planeta Vegeta, mas mostra a chegada do exército de Freeza, que mantém os saiyajins subjugados com seu poder superior. Todo esse trecho traz informações que os fãs devem adorar, como a introdução dos scouters, o ambiente da monarquia saiyajin em funcionamento, o envio de Goku à Terra e até as Forças Especiais Ginyu como easter egg. Toda essa sequência que antecede os créditos iniciais enriquece bem a franquia.

É de se parabenizar também como o roteiro aqui funciona bem ao apresentar todos esses elementos sem pressa. A chegada das naves do exército inimigo mostra técnicas de animação sintonizadas perfeitamente com o longa e dá um tom lúgubre que fica ótimo como prefácio do que está por vir.

Após os créditos de abertura, o filme chega ao presente e já começa com Goku e Vegeta treinando. De novo sem pressa, o roteiro apresenta Broly com calma e trata seu descontrole de maneira mais verossímil e humana. O bom ritmo continua até os personagens se encontrarem e começarem a lutar. Um festival de gritos, transformações e golpes velozes que destroem montanhas se inicia. E é delicioso.

As lutas são muito dinâmicas, com boa variação de câmera que, se é frenética, não torna as coisas confusas. A direção de Tatsuya Nagamine valoriza as habilidades dos personagens ao não se delongar no desnecessário e investir em ângulos e planos variados com ritmo acelerado e empolgante. A velocidade, agilidade e força em tela são sentidas e vão conquistar qualquer fã de animes shonen. Alguns golpes e momentos de destruição são animados em computador, funcionando e transmitindo bem o escopo do nível de poder ali.

Se o roteiro acerta ao ter bom ritmo e apresentação, ele falha em outras partes. Há momentos de humor bobo e inocente que encaixam muito bem com o espírito da série, mas colocar alguns desses momentos em personagens mais sérios e sisudos como Freeza não cola. Há de se dizer também que os acontecimentos são, por vezes, convencionais demais. Mas isso logo passa, e o filme traz cenas tão deliciosas que vão arrancar um belo sorriso dos fãs de longa data.

Tudo é enriquecido pela ótima dublagem brasileira. A maioria ali dubla os personagens há anos e estão extremamente à vontade. Os gritos (e haja gritos!) seriam muito irritantes se viessem de atores que não sabem trabalhar bem com a voz, e o trabalho em conjunto de Wendel Bezerra (Goku) e Alfredo Rollo (Vegeta) na luta final só abrilhanta um momento muito aguardado pelos fãs.

No fim das contas, “Dragon Ball Super: Broly” é um ótimo filme da franquia. Mesmo com um roteiro que falha em alguns quesitos (Vegeta chega a sumir da obra por muito tempo sem explicação), o tom é respeitoso ao espírito da série, e o lore foi enriquecido não só pelas cenas de flashback, mas pela boa introdução de Broly ao cânone do anime – um grande serviço a um personagem já tão querido. Acrescente a tudo isso algumas das melhores lutas que Goku e companhia já entregaram nas telonas e os fãs do desenho podem ter a certeza de que sairão felizes das salas de cinema.

Bruno Passos
@passosnerds

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