Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Revivendo o Natal (2011): o feitiço do tempo de Natal [NATAL]

Uma natalina comédia romântica de loop temporal sobre escolhas e consequências, onde a protagonista descobre que o que está destinado para ser, será.

A oportunidade de reviver um dia específico de sua vida, alterar o curso que fora estabelecido, fazer as coisas de maneira diferente, ou apenas repeti-las. Todos já tivemos esse desejo. Mas, o que de fato faríamos se ficássemos presos no tempo? Com uma mistura de “O Feitiço do Tempo” (clássico filme de comédia americano da década de 1990 estrelado por Bill Murray) e a tradicional cantiga natalina americana “The Twelve Days of Christmas” (canção que inspirou o título original do longa – “12 Dates of Christmas”), “Revivendo o Natal” surge para nos agraciar com uma divertida e gostosa comédia romântica natalina, com reflexões sobre escolhas e consequências.

Kate Stanton (Amy Smart, “Menina dos Olhos”) é uma metódica publicitária determinada a reconquistar seu ex-namorado, Jack Evans (Benjamin Ayres, “Birdland”). No entanto, a sua véspera de Natal não sai do jeito que planejou. Ao ser borrifada com um perfume no rosto e desmaiar no meio do shopping, sob o som de “The Twelve Days of Christmas”, ela acorda para o que parece ser um longo dia. Neste dia, ela revive a tentativa de reconciliação com Jack, o contato com antigos amigos e pessoas recém-conhecidas, e o encontro às cegas com Miles Dufine (Mark-Paul Gosselaar, “O Sequestro do Ônibus 657”).

A química presente entre Smart e Gosselaar funciona bem. Desde o primeiro momento em que se encontram, fica claro que dão certo juntos, ainda que não saibam disso. Detalhes como trocas de olhares, elogios sutis e pequenos gestos demonstram a existência de um sentimento entre os personagens. E, à medida que o tempo passa e conhecemos cada vez mais ambos, torcemos para que fiquem juntos no final. De repente o encontro, que começou como uma obrigação, passa a ser algo ansiado.

Smart é ótima no papel, dosando na medida certa os momentos cômicos, românticos e dramáticos/reflexivos. A evolução de Kate (dúvida, negação, aceitação, superação e redenção) no decorrer dos doze dias é visível, embora aparente ser muito corrida. Essa rapidez, no entanto, não chega a comprometer o enredo, sendo compreensível visto ser necessária a sua resolução em doze dias – ou o título original não faria sentido. Gosselaar, por sua vez, mantém um tom de mistério ao mesmo tempo em que demonstra carisma, cativando o espectador. Miles é gentil e bondoso, correto e focado. A sua evolução é contrastante com a de Kate. Enquanto ela repete o mesmo dia, para ele é como se fosse a primeira vez. Nesse ponto, a atuação de Gosselaar é bastante convincente.

Embora à primeira vista pareça mais um clichê batido de personagem preso no tempo repetindo o mesmo dia, presente em longas de sucesso como “No Limite do Amanhã” e “Antes Que Eu Vá”, o roteiro de “Revivendo o Natal” não se apega à ficção do fato. Não se vê uma causa para repetição do dia, ao menos não claramente. E nem interessa. A trama se foca nos (re)encontros de Kate com Miles, bem como nas ações e escolhas que ela toma no decorrer do longa. No fim são doze dias, doze pessoas, doze encontros. Nada mais do que uma pura e simples comédia romântica. Dessa forma, o loop temporal se torna apenas uma ferramenta para contar a história escrita por Aaron Mendelsohn (“Bud: O Cão Amigo”) e Blake Harris (“A Pequena Sereia”), conduzida de forma fluida e natural pelas mãos de James Hayman (“A Vingança das Damas de Honra”).

Um filme de Natal simples, leve e tranquilo, perfeito para assistir com toda a família. Ou para assistir com aquela pessoa especial. Ou assistir sozinho. Tudo depende do dia em que você esteja no momento. E, quanto à música “The Twelve Days of Christmas”, vale mencionar que, de fato, é a versão natalina de “Um Elefante Incomoda Muita Gente”.

Aristóteles Fernandes
@rapadura

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