Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Crimes em Happytime (2018): sexo, drogas e fantoches

Com piadas péssimas do começo ao fim, o filme é uma fracassada tentativa de subverter o gênero de fantoches.

A subversão de elementos e personagens geralmente associados ao universo infantil já não é nenhuma novidade no cinema. Só nos últimos anos foram lançados filmes com um urso de pelúcia usuário de drogas como protagonista, ou mesmo uma animação com salsichas e pães que fazem sexo explícito. Então, não houve nenhuma inovação quando Brian Henson (“Os Muppets na Ilha do Tesouro”) decidiu utilizar fantoches infantis para contar uma história cheia de violência, sexo e drogas. “Crimes em Happytime” não é a primeira experiência do diretor com tais bonecos (ele é filho do criador dos Muppets e já trabalhou em diversos filmes da série), mas é a primeira vez que faz algo voltado para um público adulto.

No mundo do filme, humanos e fantoches convivem em sociedade, sendo as marionetes vistos como cidadãos de segunda categoria e constantemente sofrendo diversos tipos de preconceitos dos humanos. O fantoche ex-policial, agora detetive, Phil Philips (na voz de Bill Barreta, “Os Muppets”), recebe a misteriosa missão de investigar o suposto assassinato de ex-membros do elenco de uma série de comédia de marionetes dos anos 1990. Sua ex-parceira e ainda policial, Connie Edwards (Melissa McCarthy, “A Espiã que Sabia de Menos”) é escalada para acompanhá-lo no caso, assim como sua secretária Bubbles (Maya Rudolph, “Emoji: O Filme”). Phil e Connie têm um turbulento passado que o fez ser demitido da polícia de Los Angeles e proibiu todos os bonecos de se tornarem policiais.

O enredo tem os contornos de um filme do gênero noir, sendo seu protagonista o bêbado solitário que julga não ter valor algum para o mundo. Mas a direção não permanece muito tempo por esse caminho e logo somos surpreendidos por uma enchente de piadas péssimas. O roteirista Todd Berger (“Cover Versions”) parece ter um senso de humor bastante infantil, mas não somente por fazer constantes piadas sexuais, mas sim por elas serem quase que totalmente desprovidas de graça. Nas mãos dele, a obra, que poderia ter se tornado uma versão moderna e mais suja de “Uma Cilada para Roger Rabbit”, acaba sendo apenas uma comédia de mau gosto.

Para completar, o roteiro ainda possui alguns furos e um problema com a repetição tediosa dos tais crimes que leva em seu nome, tornando o mistério da história bastante cansativo e pouco engajante. Há também uma tentativa de fazer uma alegoria com o preconceito que os fantoches sofrem com o que é vivido por alguns grupos de nossa sociedade. Porém, em momento algum isso é aprofundado e o filme não tem a coragem para fazer um comentário mais afiado sobre a questão, mesmo que a tenha para mostrar uma cena de um polvo tirando leite de uma vaca enquanto um abutre grava tudo para vender como pornografia.

“Crimes em Happytime” não funciona nem como uma paródia de um noir, nem como uma comédia escrachada de ação. Nem mesmo Melissa McCarthy e Maya Rudolph, geralmente ótimas, são capazes de salvar o filme da cova que ele próprio cavou.

Peter Frontini
@peterfrontini

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