Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 29 de novembro de 2018

De Repente Uma Família (2018): equilíbrio perfeito entre humor e emoção

Um elenco hilário e cativante, e um roteiro sensível e bem escrito formam o que deve ser uma das melhores comédias do ano.

Sean Anders (“Pai em Dose Dupla”, “Sex Drive: Rumo ao Sexo”) tem uma carreira com muito mais baixos do que altos. As comédias que dirigiu são, em geral, sem graça, toscas e pouco interessantes. Mas o diretor encontrou grande força ao se inspirar diretamente em temas de sua vida pessoal em seu novo filme. “De Repente Uma Família” conta a história real de um casal que repentinamente decide adotar três irmãos, e é baseado em como o diretor e sua esposa adotaram seus filhos.

Pete (Mark Wahlberg, “Transformers: O Último Cavaleiro”) e Ellie (Rose Byrne, “Sobrenatural: A Última Chave”) são um casal de meia idade que decidem adotar uma criança pequena. Mas ao conhecer Lizzy (Isabela Moner, “Transformers: O Último Cavaleiro”), uma teimosa jovem de 15 anos, acabam escolhendo adotá-la, junto com seus dois irmãos menores.

A dinâmica entre esse quinteto é uma enorme virtude do filme. Wahlberg e Byrne tem uma química invejável, assim como o trio de crianças – formado também por Juan (Gustavo Quiroz, “A Justiceira”) e Lita (Julianna Gamiz, da série “Jane, A Virgem”) -, que interagem entre si como se fossem irmãos de verdade. Cada um deles tem carisma único, e suas peculiaridades são exploradas com o tempo certo de tela, sem parecerem forçadas.

O restante do elenco também não decepciona. O filme apresenta uma série de personagens hilários, em sua maioria interpretados por comediantes famosos. Tig Notaro (da série “Transparent”) e Octavia Spencer (“A Forma da Água”) atuam como as agentes sociais que acompanham a adoção das crianças, ambas funcionando como mentoras e como alívio cômico refrescante. Todos esses personagens são naturais e convincentes, apesar de suas respectivas bizarrices.

Talvez o maior desafio de se fazer um filme sobre adoção seja retratar o drama vivido pelas crianças, sem explorá-los ou diminuí-los. O roteiro do próprio Anders e de John Morris, seu parceiro desde o início de suas carreiras, consegue fazer isso com êxito. A obra mostra bem as dificuldades dos órfãos e até mesmo as consequências que podem gerar em sua vida adulta. Porém, nada disso é exibido de maneira melodramática, mas sim com boas doses de comédia entre os momentos mais tristes.

Esse equilíbrio é a chave para o sucesso do filme. Há um balanço perfeito entre os temas mais sérios e os cômicos. Ambos funcionam a sua própria maneira, sendo possível gargalhar e chorar na mesma cena. A única ressalva aqui é que em alguns momentos o filme pode lembrar um vídeo institucional sobre adoção, mas isso não apaga nenhum de seus méritos.

“De Repente Uma Família” é uma comédia familiar muito bem-sucedida, que surpreende por sua sensibilidade com o tema tratado, não falhando em divertir e emocionar. Algo cada vez mais difícil de se encontrar dentro desse gênero.

Peter Frontini
@peterfrontini

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