Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Corra que a Polícia Vem Aí (1988): risadas nostálgicas com Leslie Nielsen [CLÁSSICO]

Mesmo completando trinta anos, comédia continua divertida e traz risadas fáceis com as loucuras do policial Frank Drebin tentando evitar um atentado contra a Rainha da Inglaterra.

Os adultos que hoje desfrutam de smartphones, redes sociais, streaming e vantagens quase infinitas do mundo digital conectado ainda lembram com saudosismo dos anos 1980 e 90. Naquela época as crianças aguardavam na frente da TV para assistir seus filmes e programas favoritos, sem ter a opção de ver de forma instantânea, como é atualmente. Uma geração foi formada dessa maneira, mas parece ter esquecido desse período ao entrar em contato com as novas tecnologias. É fácil esquecer a época das fitas cassetes, locadoras e todo seu esforço para conseguir alugar um lançamento sem enfrentar filas, tendo a sorte de estar lá no momento em que a fita esperada é devolvida; ou ainda o esforço necessário para ficar acordado até tarde para assistir um filme na Tela Quente.

Ver atualmente “Corra que a Polícia Vem Aí” traz essa sensação de volta. Estar no quarto vendo um filme engraçado e divertido, onde as vezes nem tudo faz sentido, com piadas às vezes difíceis de se entender, lembra da época onde o único problema era ir para a aula e estudar. Mesmo assim, ao ver o rosto sempre engraçado de Leslie Nielsen (“Super-Herói: O Filme”), notável por papéis cômicos como em “Apertem os Cintos, … o Piloto Sumiu!”, de 1980, e mais recentemente o terceiro e o quarto filmes da franquia “Todo Mundo em Pânico”, a risada vem fácil, e o único problema é saber como ele se meteu naquela enrascada.

Após a clássica abertura, composta pela sirene de um carro policial descontrolado andando pelos lugares mais improváveis de Los Angeles, “Corra que a Polícia Vem Aí” mostra Nielsen no papel do atrapalhado policial Frank Drebin e suas aventuras para tentar descobrir quem quase matou seu amigo Norberg. O personagem, interpretado pelo ex-jogador de futebol americano O.J Simpson, é baleado por presenciar uma reunião de mafiosos da cidade envolvidos num plano para matar a Rainha da Inglaterra, durante sua visita a Los Angeles. Esta reunião está sendo organizada pelo empresário Vicent Ludwig (Ricardo Montalban, “Pequenos Espiões 3-D: Game Over”), que se torna o principal suspeito de Frank.

Além dessa história, o filme segue mais duas subtramas, todas bem conectadas. Uma mostra os esforços, ou não, de Frank para organizar a chegada da Rainha Elizabeth II à Los Angeles, enquanto a outra destaca o romance do policial com Jane Spancer (Priscilla Presley, da série “Spin City”). Todas as cenas são recheadas de comédia e trapalhadas do protagonista, as principais envolvendo a péssima qualidade dele no volante. Alguns carros pegam fogo, batem em pescadores, derrubam pintores e causam destruição, sempre deixando Frank livre de todos os problemas.

O diretor David Zucker (“Todo Mundo em Pânico 4″) – responsável por levar Leslie Nielsen para a comédia – consegue gerar piadas em qualquer cena, com qualquer personagem, em todas as situações possíveis. Algumas são mais evidentes, como na cena onde Frank invade o escritório de Vicent e acaba colocando fogo no local ao tentar ler uma carta por meio de um isqueiro, por exemplo. Outras são mais sutis, quando o policial atrapalhado acha a evidência essencial para inocentar um condenado executado a pouco tempo. As expressões de Nielsen são divertidas por si só, pois ele é engraçado até mesmo quando está parado sem fazer nada.

Mas “Corra que a Polícia Vem Aí” não é apenas uma comédia. Suas cenas e diálogos escondem críticas sociais e políticas despercebidas pelos menos atentos. A mais evidente ocorre quando Frank, na coletiva de imprensa sobre a chegada da Rainha Elizabeth II aos Estados Unidos, não consegue entender porque seus colonizadores ainda precisam de uma rainha. O filme também crítica Los Angeles e seus problemas, principalmente na chegada da monarca ao estádio de beisebol onde vai assistir uma partida e encontra dois “espertalhões” sentados em seus lugares VIPs.

O ato final do filme, todo composto por cenas no estádio de beisebol, mostra as tentativas de Frank de entrar no estádio para salvar a Rainha Elizabeth do prometido atentado. Para isso, ele deve se passar por um cantor de ópera e cantar o hino dos Estados Unidos para todo o estádio, mesmo sendo desafinado, e também virar árbitro da partida de beisebol ao mesmo tempo em que busca descobrir o jogador responsável pelo ataque.

Apesar do pouco tempo de duração (menos de uma hora e meia), “Corra que a Polícia Vem Aí” consegue entreter e divertir, prendendo a atenção do espectador por meio das constantes piadas. A diversão é garantida ainda hoje, trinta anos após o lançamento da produção, servindo de referência para outros filmes do gênero, como “Top Gang” ou a franquia “Todo Mundo em Pânico”, também referências para os jovens dos anos 90 que agora comentam nas redes sociais e reassistem a esses clássicos no streaming. O longa, assim como Leslie Nielsen, merecem ser lembrados.

Filipe Scotti
@filipescotti

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