Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Refém do Jogo (2018): ação clichê no tempero certo

Um filme de ação trivial com boas doses de adrenalina, cumprindo muito bem o entretenimento a que se propõe.

Os filmes de ação tiveram seu auge nas décadas de 1980 e 1990. Populares, eram fonte de entretenimento garantido. Explosões, perseguições e muita pancadaria marcavam os longas de ação, quase sempre levando o espectador à euforia. Porém, muito se fez ou se repetiu no decorrer dos anos, criando-se quase que uma fórmula em que todos os filmes de ação pura se baseavam. Com essa repetição, alguns elementos do gênero tornaram-se chavões, situações previsíveis ou pouco originais. Nesse contexto, na mesma pegada de “Duro de Matar” (thriller de 1988 estrelado por Bruce Willis), “Refém do Jogo” é, de fato, refém do clichê. E isso é bom.

O longa nos mostra Michael Knox (Dave Bautista, “Guardiões da Galáxia Vol. 2”), um ex-soldado americano em Londres visitando a família de seu falecido melhor amigo, Andy Holloway, para levar a sua filha Danni Holloway (Lara Peake, “Mercenário”) para assistir a um jogo de futebol (embora odeie o esporte). Entretanto, o que parecia ser apenas uma simples partida vira um perigoso jogo contra o tempo quando uma facção terrorista, comandada pelo russo Arkady Belav (Ray Stevenson, “Thor: Ragnarok”), invade o estádio fazendo todos de refém. E cabe ao nosso vigilante solitário impedir que o grupo atinja o seu objetivo, salvando a sua “sobrinha” e todos os demais presentes. O longa ainda conta com a participação de Pierce Brosnan (“Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo”).

O filme não tenta inovar: ex-soldado americano assombrado pelos acontecimentos do passado tenta se redimir de uma pesada culpa que carrega nas costas; adolescente rebelde que acredita ser injustiçada pela mãe; russo terrorista que se utiliza de armas pesadas e bombas para incitar revolução; britânico de descendência árabe hostilizado por preconceito racial. Contudo, clichê não quer dizer algo ruim. Uma história bem contada pode trazer elementos muito comuns e entreter o espectador do começo ao fim. E, nesse ponto, “Refém do Jogo” marca um gol de placa.

O experiente diretor Scott Mann (“O Sequestro do Ônibus 657”) dá ao filme uma boa dose de adrenalina, com cenas de ação empolgantes e sequências que nos prendem na cadeira. O roteiro de Jonathan Frank (“Vingança Entre Assassinos”) e do estreante em longas-metragens David T. Lynch adapta perfeitamente o estilo cinematográfico ao ambiente do jogo de futebol. Ele aborda, ainda que de forma rasa, temas como laços sentimentais, patriotismo extremo e diferenças culturais. E, embora possua alguns pontos de suspensão de descrença ou de mera conveniência, ele apresenta uma trama bem fechada, sem deixar pontas soltas.

Os personagens, embora pouco explorados, são marcantes. Bautista cumpre o seu papel como protagonista, conduzindo bem o enredo do filme. E, embora a relação entre Knox e sua “sobrinha” não seja demonstrada, sua atuação é bastante convincente. Embora mostre-se claramente apto às telonas, alguns momentos dramáticos tornam evidente não ser esse o seu ponto forte. Por outro lado, Stevenson consegue ser um ótimo antagonista, com momentos de frieza e determinação. Sua paixão patriótica é uma motivação clara para suas ações durante o longa, demonstrando-nos acreditar cegamente no que faz. Pierce Brosnan, no entanto, é muito mal aproveitado. Um dos maiores nomes do filme, mesmo interpretando um personagem de grande relevância, tem pouco tempo de tela e pouquíssimas falas (as quais desempenha de forma magistral).

O destaque do filme fica para Amit Shah (“Uma Razão Para Viver”), interpretando Faisal Khan, assistente do assistente do Chefe Steward. Com um misto de boa vontade e falta de jeito, Faisal serve de alívio cômico, ao mesmo tempo que age como sidekick para o nosso vigilante. Também é notável a atuação de Alexandra Dinu (“211“) no papel da badass Tatiana, uma russa capaz de bater de frente com qualquer brucutu.

Ainda vale a menção à partida de futebol, que em vários momentos parece estar mais interligada à trama do que meramente ser o palco de um atentado. Os acontecimentos dentro do gramado, em muitos momentos, aparentam seguir os acontecimentos fora dele, com destaque para o narrador do jogo descrevendo a tensão enquanto a acompanhamos. As reviravoltas também têm lugar dentro e fora do campo – cada movimento dos personagens seguido por gols de seus times representantes.

“Refém do Jogo” é um filme de ação na sua essência, não se propondo a servir mais do que o seu propósito. Entretenimento garantido, com boas doses de adrenalina.

Aristóteles Fernandes
@rapadura

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