Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 17 de novembro de 2018

Covil de Ladrões (2018): um filme de assalto genérico

Trazendo poucas novidades ao seu subgênero, o longa se apoia na tensão e ação desenfreada para conquistar seu público.

É difícil julgar um filme de assalto e atestar sua qualidade, pois trata-se se uma produção que nunca sai de moda e tem seu público, visto o sucesso recente da série “La Casa de Papel” da Netflix. Falar sobre um longa que inicialmente já revela o exagero e suspensão de descrença que devemos ter, se torna mais fácil à medida que fatos que não abrangem a realidade pipocam na tela. O caso de Los Angeles ser uma das cidades recorde em assaltos a banco, não justifica a inflação dos números apresentados pelo estreante Christian Gudegast (roteirista de “Invasão a Londres”) neste “Covil de Ladrões“.

Apresentado de forma indireta como mais um filme de assalto, o longa traz tudo que já vimos no subgênero: o contestado lado da lei e o lado simpático dos ladrões, a construção de um plano perfeito e uma forma de desestruturá-lo, além de apresentar as duas figuras distintas e duronas em lados opostos. No primeiro está Nick (Gerard Butler, “Fúria em Alto Mar”), líder de uma unidade de elite que apresenta meios pouco convencionais de conseguir o que deseja; no outro temos Ray Merrimen (Pablo Schreiber, da série “Deuses Americanos”), que tenta ser bem mais respeitado do que necessariamente é.

O início empolgante e recheado de tiros, gritaria e explosões parece ditar o tom de pouco mais de 148 minutos de puro entretenimento, mas o que se vê é uma tentativa falha de desenvolvimento e profundidade ao focar na vida pessoal dos protagonistas, em uma delas, rendendo um momento estranho que beira o risível. O Nick de Butler se mostra um homem repulsivo e controlador, não gerando empatia, nem nas cenas em que aparece com a filha, forçando um choro difícil de sair.

Por outro lado, Donnie (O’Shea Jackson Jr., “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.”), é aquele que mais se aproxima do sentimento de torcida e apego por parte do espectador. O personagem parece cair de paraquedas em todo o plano e transita entre os dois lados de maneira convincente. Nem o rapper 50 Cent (“Rota de Fuga 2: Hades”), em mais uma investida na carreira de ator, consegue trazer a nuance necessária, e seu arquétipo se sobressai, mostrando suas limitações.

A ação de primeiro escalão é o principal combustível do longa, o que também o prejudica, já que os bons momentos são extremamente raros. Entre um ápice e outro, sobra enrolação e falta de objetividade. Para não cometer injustiças, o que o diretor consegue fazer com bastante talento é manter a tensão, como poucos filmes de assalto fazem. Trata-se de um plano complicado e isso o diferencia das demais produções, fazendo com que fiquemos na ponta da cadeira inúmeras vezes. As cenas de tiroteios são eficientes e muito bem coreografadas, criando um cenário bastante verossímil.

Cenário esse quase estragado pela necessidade ingênua e irresponsável de um plot twist que não se justifica e muito menos faz sentido, gerando inúmeras pontas soltas, além de ser anti-climático. Com seus planos abertos, a cidade de Los Angeles se torna um personagem da trama, fazendo com que “Covil de Ladrões” se valorize mais de maneira estética do que narrativamente falando.

Tiago Soares
@rapadura

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