Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 07 de novembro de 2018

Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível (2018): brincadeira como solução para a vida adulta

Com um cenário sombrio pouco visto na Disney, live-action faz um retorno à infância criando um paralelo entre a nostalgia e a melancolia.

Com o sucesso de “Malévola“, em 2014, a Disney descobriu uma nova maneira de homenagear suas animações clássicas (e de ganhar muito mais dinheiro). Foram lançados desde então “Cinderela“, “Mogli: O Menino Lobo“, a continuação de “Alice no País das Maravilhas“, e o grande sucesso “A Bela e a Fera” – a 14ª maior bilheteria da história do cinema, e com mais de US$ 1 bilhão de arrecadação para criar uma expectativa grande para os próximos lançamentos. Passaram-se mais de 90 anos entre a criação do Ursinho Pooh, pelo escritor inglês A. A. Milne, e a estreia do seu primeiro live-actionChristopher Robin: Um Reencontro Inesquecível“. Dirigido por Marc Forster (“Guerra Mundial Z”), o filme conta a história de Christopher Robin (Ewan McGregor, de “T2 Trainspotting“), o jovem que passou a infância brincando com os animais do Bosque dos 100 Acres, e que agora precisa lidar com os problemas da vida adulta.

Sem tempo para dar atenção a sua mulher Evelyn (Hayley Atwell, da série “Agente Carter“) e sua filha Madeline (Bronte Carmichael, de “Na Praia de Chesil“), seu emprego como gerente de eficiência de uma fábrica de malas de viagem fica em risco após um ultimato do seu chefe, Giles (Mark Gatiss, da série “Sherlock“). Ao saberem que Christopher já não é mais o mesmo, Pooh, Leitão, Tigrão, Bisonho e companhia tentam colocar o amigo de volta ao rumo certo.

Uma sequência já no início da história apresenta os primeiros sinais de melancolia da obra, mostrando o que aconteceu com o jovem desde o dia em que precisou dizer adeus, seja para os seus amigos da floresta, ou simbolicamente para a sua infância. O trecho conta bem como as feridas da guerra e a morte do pai ajudaram a formar a pessoa séria em que o protagonista se tornou. Dividido por capítulos nos primeiros minutos, as cenas em formato das páginas de um livro são também mais uma homenagem à origem dos personagens.

Christopher esconde suas memórias de infância em uma caixa, como se tivesse que esquecer todas as suas lembranças para poder amadurecer. Porém, sua atitude contagia sua filha, que é obrigada a permanecer estudando para entrar em um colégio interno. Ewan McGregor representa bem a angústia ao reconhecer ser um pai ausente e consegue interagir com naturalidade com os animais. Para Hayley Atwell, sobrou um papel discreto, com pouco tempo de tela.

Os personagens das profundezas do Bosque estão impecáveis. A proposta de criá-los como se fossem bichos de pelúcia foi muito bem pensada, pois transmite os sentimentos dos personagens sem se prender ao realismo dos animais. A dublagem também segue ótima, com Jim Cummings (“Pets: A Vida Secreta dos Bichos”) se destacando na voz rouca de Pooh e do elétrico Tigrão.

Todos os personagens enxergam uma dificuldade na vida, seja Pooh com saudade do seu amigo; os outros animais fugindo dos Efalantes e dos Woozies; Madeline, que não consegue brincar como uma criança comum; Evelyn, que não consegue aproveitar seu tempo com Christopher; e o protagonista, que acaba abraçando todas as responsabilidades do trabalho e esquece que a vida precisa também ter seus momentos de descanso.

Abusando de cores frias e planos abertos, a fotografia de Matthias Koenigswieser (“Por Trás dos Seus Olhos”) apresenta Londres se recuperando após a Segunda Guerra Mundial. Escrito por Alex Ross Perry (“Rainha do Mundo“), Tom McCarthy (“Spotlight“) e Alisson Schroeder (“Estrelas Além do Tempo”), o roteiro é bem estruturado, mas deixa escapar algumas soluções fáceis em prol da moral da história, principalmente no terceiro ato.

A trilha sonora composta por Geoff Zanelli e Jon Brion é excelente, criando o tom perfeito entre os momentos de brincadeira e de seriedade. Antes de sua morte, Jóhann Jóhannson (“A Chegada”) foi contratado para criar a trilha, porém o compositor faleceu antes de iniciar o projeto.

“Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível” mostra que por melhor que tenha sido a sua infância, uma hora as responsabilidades vão chegar. Mas isso não significa que é preciso abandonar suas boas lembranças. Independentemente de você lembrar da sua infância com nostalgia ou com melancolia, Pooh mostra que a vida adulta não precisa ser tão séria para ser madura.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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