Com personagens com frases prontas, um casal sem química, coadjuvantes sem desenvolvimento e uma trilha sonora esquecível, o longa é uma comédia que não é engraçada.
Nos últimos meses, a Netflix tem apostado no sucesso de suas comédias românticas. Foram lançados “A Barraca do Beijo”, “Para Todos os Garotos que Já Amei”, e mais recentemente “Quando Nos Conhecemos”. Este último, dirigido por Ari Sandel (“D.U.F.F. – Você Conhece, Tem ou É”), escolhe a viagem no tempo como principal motor para sua história, tentando replicar o sucesso de “Feitiço do Tempo”. Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a queda da qualidade do conteúdo original do serviço de streaming, o filme ajuda a esclarecer essa questão.
O roteiro apresenta Noah (Adam Devine, de “Modern Family”), um jovem que é colocado na famigerada friendzone por Avery (Alexandra Daddario, de “Baywatch”). Ao tentar entender os seus erros, o protagonista recebe mais uma chance de mudar o destino ao voltar três anos no tempo acidentalmente em uma cabine fotográfica. O garoto acorda justamente no dia em que se conheceram, em uma festa a fantasia no Halloween.
Utilizando a estratégia de causa e consequência, acerto e erro, realizado com muito êxito no ótimo “Questão de Tempo”, o filme peca no roteiro raso e nas atuações medianas. Quando volta no tempo, o protagonista fala sozinho, confere o jornal, olha no celular e cita lentamente o retorno ao passado, só para ter certeza que todo mundo entendeu.
Sandel, que venceu o Oscar em 2007 pelo curta “West Bank Story”, aposta na comédia pastelão, com Devine abusando das caretas e trejeitos que passam do ponto e beiram à vergonha alheia em determinado momento. Já nas primeiras cenas, o personagem deixa de ser interessante para se tornar irritante.
Além do casal protagonista, Carrie (Shelley Hennig, de “Teen Wolf”), Max (Andrew Bachelor, de “Para Todos os Garotos que Já Amei) e Ethan (Robbie Amell, de “A Babá”), têm pouquíssimo tempo de tela e acabam sendo pouquíssimo desenvolvidos. Carrie e Max aparecem esporadicamente apenas para aconselhar Noah, enquanto Ethan serve apenas de apoio para algumas piadas, sendo completamente descartável para o andamento da história.
Cheio de clichês, a obra é mais uma versão daquela velha história de alguém que não aproveitou uma oportunidade, se arrependeu e é obrigado a ver a pessoa que ama com outra pessoa. A proposta de ter pequenos plot twists a cada retorno ao passado acaba sendo frustrada pelo roteiro previsível. A própria Netflix já lançou, com poucos meses de diferença, um filme com exatamente a mesma proposta: “Nu”, com Marlon Wayans. Em duas comédias sobre viagem no tempo, a diferença é que Wayans desempenha o papel de protagonista com muito mais êxito do que Devine.
Sem trazer novidades ao gênero e genérico desde o primeiro minuto, “Quando Nos Conhecemos” é um filme que pode servir apenas de passatempo. Mas cuidado, pois diferente do protagonista, você não pode recuperar o seu tempo depois.