Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Predador (2018): maior e pior caminhando juntos

Entre problemas de roteiro e excessos da direção, o filme caminha pela fina linha que separá uma boa homenagem de uma ruim.

A nostalgia é uma ferramenta recorrente no cinema. Não raro, estúdios preferem investir grandes orçamentos em produções que dão sequência para clássicos ou para filmes que decidem recomeçar uma história. Só este ano tivemos Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, Oito Mulheres e um Segredo e Jumanji: Bem-Vindo à Selva, para ficar apenas em alguns exemplos. “O Predador” segue o mesmo conceito: aproveitar uma fórmula que deu certo no passado para tentar conquistar o público atual.

E para que o longa não perdesse o ar nostálgico e oitentista, a Fox escolheu um diretor que ajudou a conceber alguns dos clichês narrativos da década: Shane Black (“Dois Caras Legais”). Mais conhecido como roteirista da franquia “Máquina Mortífera”, Black deveria trazer a essência dos filmes de ação do passado, porém com os retoques necessários para não ficar datado. O resultado oscila tanto quanto a própria franquia.

A trama deste novo “O Predador” nos apresenta a um novo grupo de militares unidos pelo acaso – e pela loucura -, e que irão somar forças para impedir que um novo predador, maior e mais evoluído, cace mais pessoas na Terra. O grupo é liderado por Quinn McKenna (Boyd Holbrook, de “Logan”), que junto com a bióloga Casey Bracket (Olivia Munn, de “Oito Mulheres e um Segredo”), precisa localizar o filho antes dos alienígenas.

Buscando proximidades e referências com os dois primeiros exemplares da franquia, o roteiro inicia com uma cena na floresta, mesmo local onde a narrativa é concluída. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento do filme ocorre em um ambiente urbano. Em ambos os casos, é possível perceber citações diretas às obras anteriores, reforçando a necessidade que o longa tem em se apegar ao passado. Se isso não prejudica o desenvolvimento da trama por um lado, do outro limita a evolução da franquia, pois para conseguir ir além do que os anteriores já fizeram, busca crescer em tamanho na tentativa de compensar a falta de criatividade. Assim, tudo o que nos é entregue é igual, porém maior.

E Shane Black parece não se importar com isso. Afinal, este “O Predador” busca atualizar clichês e piadas, e não fazer a franquia seguir para novos rumos (embora a cena final sugira isso). Porém, o humor da produção é fraco na maior parte das vezes, além de ofensivo em duas ou três cenas. E mesmo nos momentos de ação, que tem seu valor (apesar de os militares não serem dos mais inteligentes que o cinema já testemunhou), a comicidade é quebrada por pequenas sequências dramáticas, que buscam reforçar – ou até mesmo criar – um vínculo afetivo entre as personagens.

Ainda assim, o longa oferece boas sequências de ação, sobretudo no terceiro ato, deixando um forte sentimento de que o roteiro poderia ter investido mais em sequências na floresta. E não só por apelo ao filme de 1987, mas também pela eficiência das cenas, afinal, poucos lugares servem melhor de cenário para uma narrativa sobre predadores. Mas a obra não se censura, mostrando que a luta pela sobrevivência ali é visceral. E, mesmo que o gore não seja incômodo, ele torna tudo mais real.

Quem busca um filme de ação, pode se satisfazer com “O Predador”. Apenas é necessário estar disposto a elevar a suspensão de descrença e não se importar com os diálogo excessivamente expositivos, especialmente nas cenas envolvendo Jacob Tremblay (“Extraordinário”). O jovem ator é convincente no papel, apesar do roteiro utilizá-lo como causa e consequência de boa parte da trama. Se 2018 está sendo um ano para retomar o passado (ainda teremos o retorno de “Halloween”) – uma prática cada vez mais recorrente -, este filme acaba com uma sensação mista, de que poderia ter sido ótimo recordar a caçada envolvendo humanos e alienígenas, mas talvez seja melhor ficar com a obra original.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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