Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Wheelman – Piloto de Fuga (2017): a tensão e a claustrofobia

Com uma trama simples e apostando na clausura para gerar urgência e tensão, a Netflix proporciona um longa intenso e interessante dentro da fronteira das quatro portas.

A claustrofobia – o medo de ficar em espaços pequenos e incapaz de escapar – é uma ferramenta poderosa para se contar histórias no cinema. A impossibilidade de fugir aumenta os riscos inerentes à ação; de “O Quarto do Pânico” e “Por um Fio” a “Rua Cloverfield, 10” e “127 Horas“, o cinema explora o desespero de se estar preso, adicionando urgência ao perigo para nos engajar em seu roteiro. Também é isso que faz “Wheelman – Piloto de Fuga“, longa da Netflix que nos põe a viver uma noite com um carro e seu piloto em um roubo que dá errado.

O roteiro é simples no que ele precisa que você saiba: o Motorista (Frank Grillo, “12 Horas para Sobreviver: o Ano da Eleição“) deve fugir com seus cúmplices para um local seguro após o assalto de um banco. O roubo sai dos trilhos quando o Motorista recebe uma ligação anônima que o informa de que o trabalho é uma armadilha da qual ele não sairá vivo.

Não sendo o roteiro de “Wheelman” seu principal trunfo, o longa aposta em colocar o espectador no centro da ação. Para este efeito, diretor e roteirista Jeremy Rush (se me permitem o infame trocadilho, predestinado em seu nome a conduzir esse filme, seu primeiro longa-metragem) nos transforma no co-protagonista: o carro. A câmera varia entre o banco do passageiro e o banco de trás, algumas vezes indo para a janela do piloto ou para o capô quando precisa explorar as reações do Motorista e das perseguições inevitáveis para o gênero.

A proposta de Rush para a película funciona principalmente por ele explorar muito bem o diminuto espaço do interior do carro e o contraste sons/silêncio. Enquanto a câmera pouco se move entre freadas bruscas e saraivadas de balas, nota-se que, assim como o Motorista, a audiência não tem para onde escapar, e a fotografia é bem explorada em diversos ângulos para evitar que se caia em monotonia. As acelerações e tiros, por sua vez, quebram o silêncio tenso ao qual o Motorista está submetido, nos colocando em um estado de suspensão constante quanto a de onde virá a próxima ameaça.

É nessa direção que o longa segue, só interrompendo para trocar de carro, e aproveitando esta lógica para versar com simplicidade sobre seus personagens. Nos momentos em que a audiência fica sozinha no carro, ela compreende como o Motorista se sente tanto em seu trabalho – sendo obrigado a testemunhar os crimes sem tomar parte direta deles – quanto em sua vida pessoal, na qual não consegue se conectar com sua filha adolescente e muito menos manter uma relação saudável com sua ex-mulher.

Se é na claustrofobia que “Wheelman” ganha impulso, é na abertura de seus espaços que o filme perde força. A inclusão de novos personagens na trama pouco acrescenta, parecendo terem sido soluções fáceis para dar fluxo às suas subtramas. Neste sentido, as revelações do roteiro destoam do resto do filme; enquanto a narrativa e a estruturação do longa são modestas para dar espaço a ação, os plot twists tentam fazer com que entendamos quem traiu e quem enganou a quem – sem que nenhum dos personagens tenha nome, de forma que as viradas da trama são tão incompreensíveis quanto são irrelevantes.

Isso se dá porque o filme claramente não se propõe a ter um roteiro memorável. Sua concepção e realização apontam para o que ele de fato é: um bom thriller com ótima cadência e ritmo narrativo, que prende o expectador por seus suficientes oitenta minutos de duração. Em suma, o longa é uma experiência interessante, tanto para seu diretor iniciante quanto para a audiência, que usa o enclaur entretém e mantém o público tenso nos momentos necessários para funcionar. Explorando a clausura, “Wheelman – Piloto de Fuga” entrega o que promete sem maiores percalços, deixando a ação encomendada em nossa casa. Missão cumprida.

Erik Avilez
@eriksemc_

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