Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 14 de abril de 2016

Invasão a Londres (2016): espiral de pretextos e mais pretextos

Com o claro objetivo de enaltecer o heroísmo do protagonista e fazer Gerard Butler aparecer (e lucrar) muito, o filme serve, no máximo, como entretenimento raso, descerebrado e frívolo.

invasao-a-londres-posterA indústria cinematográfica cada vez mais se utiliza da sétima arte como pretexto para lucros astronômicos em detrimento do teor artístico dos filmes. Não que o lucro não deva ser objetivado, mas não deveria ser o principal escopo. “Invasão a Casa Branca” (2013) já não era uma preciosidade, todavia, atingiu cifras suficientes para obter uma continuação, que veio com Gerard Butler como produtor (não apenas protagonista). E os cinemas recebem “Invasão a Londres”, que consegue ser inferior ao predecessor.

Como chefe da segurança do Presidente Asher (Aaron Eckhart), Mike Banning (Butler) fica apreensivo com a nova viagem para Londres, no improviso, para o funeral do Primeiro-Ministro britânico – evento que reúne 40 Chefes de Estado, incluindo o dos EUA. O evento acaba sendo um blood bath (palavras do próprio Mike) em razão de um ataque terrorista que mata todos eles – exceto, evidentemente, Asher, que passa a ser o grande alvo.

Desta sinopse obtusa, o filme prossegue como pretexto para muitos tiros, muita porrada e muitas bombas – com efeitos visuais medíocres e nada impressionantes. O contexto (terrorismo) é contemporâneo e infelizmente real, porém, a abordagem, além de maniqueísta, é simplista. O foco é a ação com um mínimo fio narrativo, sem nenhum quê de inteligente.

Isto é, o filme é pretexto para o lucro (e só), e o roteiro é pretexto para a ação desenfreada: são pretextos e mais pretextos que reduzem a busca pelo artístico. Em determinado momento, o plot flerta com uma crítica à falibilidade da ação antiterrorismo, mas a abandona ao final, o que comprova que não pensava nisso. Não é necessário mencionar o final previsível – não que o desenvolvimento também não o seja – do roteiro, não é?

Com a falta de habilidade para dotar o limitadíssimo script de algum diferencial, as personagens acabam sendo unidimensionais. Mike é o exército de um homem só ao usar uma faca que funciona como uma metralhadora. Didaticamente, o roteiro insiste que ele é extremamente preocupado com questões de segurança, com o fito de justificar o Rambo que posteriormente aflora. Na verdade, posteriormente se comprova que ele é um paranoico e um sádico sem nenhum senso humanista e um humor negro questionável. Papel singelo de que Butler dá conta – Eckhart, idem.

Quanto aos coadjuvantes, são todos marginalizados na narrativa, seja para enaltecer Mike, seja para não permitir que Butler monopolize a tela. Angela Bassett interpreta uma personagem interessante e consegue explorar seus dois lados, profissional (séria, dedicada) e pessoal (carinhosa, emotiva). Entretanto, sua Lynn é interessante demais para permanecer nos holofotes. Morgan Freeman deve ser fascinante até mesmo ao ler a bula de um medicamento, figurando no cast (novamente como o Vice-Presidente) para tentar dar credibilidade ao filme. Charlotte Riley atua como Jacquelin, uma agente do MI6 cuja importância se reduz a dois momentos, para não aparecer demais. E o vilão? Na lógica do longa, Alon Aboutboul não poderia ter espaço para desenvolver e tornar seu terrorista mais complexo.

A direção de Babak Najafi é burocrática. Os cenários são pretexto para alavancar o turismo londrino, e não há habilidade nenhuma para tornar emotivas as cenas que têm algum potencial dramático. É tudo mecânico e frio como o protagonista. O enquadramento nas costas de Mike soa como um jogo, o que é coerente, afinal, de sério o filme não tem quase nada. Nas poucas cenas em que o diretor tenta criar algo mais rico, ele comprova carecer de um curso de filmagem em plano-sequência com Alejandro González Iñárritu.

Percebe-se que tudo e todos servem de pretexto para enaltecer o heroísmo de Mike e, em última análise, a participação (em atuação fajuta) de Butler. Fica o alento da melhora recente em caso de comparação com “Deuses do Egito”, muito mais amador. Se este era péssimo, “Invasão a Londres” é apenas ruim. A título de entretenimento raso, descerebrado e frívolo, porém, o espectador que busca algo do tipo sai satisfeito.

Diogo Rodrigues Manassés
@diogo_rm

Compartilhe