Esse terceiro capítulo da saga certamente é o mais fraco até aqui, com sua protagonista se mostrando descaracterizada em meio a uma história sem ação, drama ou rumo.
Ao falar sobre “A Série Divergente – Insurgente”, coloquei que a segunda parte dessa saga sofria com um roteiro que tinha plots absolutamente desprovidos de sentido. Passou-se um ano e o problema não foi resolvido neste penúltimo capítulo da franquia. Escrito a seis mãos por Noah Oppenheim (“Maze Runner – Correr ou Morrer”), Adam Cooper e Bill Collage (esses dois últimos de “Êxodo – Deuses e Reis”), o roteiro é um dos pontos mais fracos deste “A Série Divergente – Convergente”, embora esteja longe de ser o único problema do filme.
Novamente – e pela última vez – sob o comando de Robert Schwentke (que está passando por uma fase bem ruim desde o horroroso “RIPD – Agentes do Além”), o longa se mostra uma bagunça técnica e narrativamente falando. Novamente retomando a trama do ponto onde seu antecessor parou, os moradores de Chicago que corriam para finalmente conhecer o mundo do lado de fora, se deparam com os portões fechados por ordem de Evelyn (Naomi Watts), que assumiu o poder após a morte de Janine.
Seguindo aquele ditado russo de “conheça o novo chefe, ele é igual ao anterior”, Evelyn começa a “julgar” e executar os colaboradores de sua antecessora e insiste em manter Chicago isolado, com medo daqueles que criaram a cidade. Não demora para que Tris (Shailene Woodley), Quatro (Theo James), Peter (Miles Teller), Christina (Zoë Kravitz) e Caleb (Ansel Elgort) furem o bloqueio e conheçam o mundo futurista que criou sua cidade e o sistema de castas, representado pelo Departamento de Auxilio Genético e seu lider, David (Jeff Daniels).
Se até aqui a série e todos os personagens dela mostravam que Tris era uma guerreira inteligente e determinada, isso vai pelo ralo nos dois primeiros atos desta produção. A personagem de Shailene Woodley se mostra facilmente manipulável e completamente desprovida de qualquer personalidade a partir do momento em que adentra o Departamento e cai na lábia de David.
Por mais talentosa que Woodley seja, fica difícil para a intérprete vender a heroína aqui, especialmente por suas ações contradizerem tudo o que conhecíamos da garota. Desperdiçada, a moça entrega uma performance no piloto automático, sem vida e sem brilho, com Tris estando mais preocupada em arrumar uma nova figura paterna do que prestar atenção no que acontece ao seu redor.
A protagonista não ganha sequer um adversário no nível da falecida (e agora saudosa) Janine. Se nas cenas em “Divergente” e “Insurgente”, Shailene e Kate Winslet tiravam leite de pedra, graças à determinação que beirava a insanidade da vilã, aqui esta é substituída por David, que mais parece Jeff Daniels depois de se entupir de ritalina, um antagonista que nem menos um plano definido tem – a cena do Conselho é particularmente efetiva em mostrar quão perdido esse “vilão genial e sedutor” é.
Sem o filme explicar exatamente o que são os “puros” e os “danificados” pregados por David, as motivações dele se esvaem, tornando o vilão tão vazio quanto os seus hologramas. Igualmente sem explicação é o conflito entre Evelyn e Johanna (Octavia Spencer), além das sandices de Edgar (Jonny Weston), o capanga de Evelyn que me fez ter saudades da canastrice de Jai Courtney nos dois longas anteriores.
Quem se salva aqui (mas não por muito) é Theo James, pois o seu Quatro é o único herói proativo na aventura, tomando o lugar que era de Tris nas fitas anteriores. Miles Teller faz o seu dúbio Peter funcionar na marra, mas é inexplicável que alguém nesse ponto da história ainda confie no caráter do personagem. Ansel Elgort continua preso a um Caleb extremamente sem sal (acrescentem chorão aqui também) e Zoë Kravitz… está lá.
Com um orçamento mínimo para misturar distopia urbana, pós-apocaliptica e um mundo pseudo-futurista, “A Série Divergente – Convergente” certamente conta com um dos visuais mais sem imaginação da franquia além de efeitos especiais bem fracos. O deserto da Margem é tão falso que jamais convence como perigoso (algo imperdoável em um mundo pós “Mad Max – Estrada da Fúria”) e a arquitetura “avançada” do Departamento e da cidade de Providence só consegue se mostrar brega e pouco funcional.
O diretor Robert Schwentke entrega aqui algumas das mais fracas cenas de ação da franquia, constantemente lançando mão do choque para tentar manter o público acordado – vide a morte praticamente telegrafada de um certo personagem no fim do primeiro ato. Há uma cena em que um veículo surge no deserto que é absolutamente indefensável, até mesmo do ponto de vista plástico. É a primeira vez que me vejo obrigado a recomendar ao público que NÃO assista a um filme em IMAX, pois o formato apenas ressalta a pobreza do visual.
Esse terceiro capítulo da saga certamente é o mais fraco até aqui e até mesmo o próprio estúdio parece ter entendido isso, pois Robert Schwentke não irá comandar a conclusão da série. Considerando o que vimos aqui, foi uma decisão acertada.