Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 04 de maio de 2015

Uma Longa Jornada (2015): uma boa adaptação de Nicholas Sparks

Longa com boas lições de vida e que evita o drama fácil e exagerado

Nicholas Sparks é um dos mais famosos escritores da atualidade, com milhões de livros vendidos em todo o mundo. Desde o fenômeno “Diário de Uma Paixão”, se tornou um dos autores com mais obras adaptadas para o cinema na última década. Sua nova obra a chegar às telas é “Uma Longa Jornada”, roteirizada por Craig Bolotin.

O filme conta a história de Sophia Danko (Britt Robertson), uma estudante de arte e Luke Collins (Scott Eastwood), um peão de rodeio profissional. Depois de um primeiro encontro quase perfeito, o casal encontra, vítima de um acidente de carro, Ira Levinson (Alan Alda), um senhor que, entre outras coisas, coleciona as cartas que escrevia para sua esposa, falecida a pouco.

Depois de levar a caixa para Ira, Sophia se oferece para lhe fazer companhia e, ao ler suas cartas, cria um envolvimento quase paternal com ele, visitando-o quase todos os dias. Porém, ao conhecer aquela história ela percebe várias semelhanças com sua própria história com Luke, que está apenas no início, o que lhe provoca várias reflexões. Paralelamente, Luke tenta retomar sua carreira no circuito de rodeio profissional, depois de um acidente que quase lhe custou a vida.

E esse é o maior acerto do longa dirigido por George Tillman Jr. Acertar o ritmo entre as duas histórias que acompanhamos. Ele não cai na armadilha fácil de usar os relatos ou as cartas de Ira para traçar paralelos óbvios exatamente como que está se passando com Sophia e Luke. A química do casal também funciona bem, como fica visível na cena em que Luke tenta ensiná-la a montar, ou na primeira cena de sexo.

Infelizmente, essa química é o que sustenta esse relacionamento em tela, pois em momento algum a atuação da dupla de protagonistas convence. Scott Eastwood decepciona ao não conseguir retratar todo o conflito interno pelo qual seu personagem está passando. Britt Robertson também entrega uma performance fria, mesmo em momentos extremamente emotivos, especialmente no terceiro ato. Felizmente a dupla é amparada, além de sua beleza, por um roteiro consistente, com ótimos diálogos e um bom desenvolvimento de personagens. Algumas situações são extremamente bem construídas, como o primeiro encontro, a relação familiar de Luke e sua mãe (Lolita Davidovich) e o elo que se forma entre Sophia e Ira.

Outro ponto alto do longa é a trama paralela da juventude de Ira e sua amada Ruth (interpretados aqui pelo casal Oona Chaplin e Jack Huston). Como se trata de um casal que se formou na década de 40, eles foram profundamente prejudicados pela Segunda Guerra Mundial, com sequelas que os acompanharam pelo resto da vida. É curioso que os atores que deveriam ser os protagonistas acabam realizando os melhores trabalhos. Alan Alda demonstra seu talento habitual, ao passo que Jack Huston também aproveita com sucesso todas as suas cenas. Porém, ninguém tem um desempenho tão marcante na fita quando Oona Chaplin. Podemos ver em casa uma de suas cenas uma personagem complexa, com mágoas, dores e mesmo assim, um grande amor por Ira, seu trabalho e sua arte.

“Uma Longa Jornada” é uma das melhores adaptações de uma obra de Nicholas Sparks, pois evita o drama fácil e exagerado, como em “Um Dia”, com um desfecho otimista e uma excelente lição de vida, porém, sem soar paternalista ou um trabalho de auto-ajuda.

David Arrais
@davidarrais

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