Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de março de 2015

Renascida do Inferno (2015): Filme de terror genérico, mas com bons sustos

Filme aposta na pseudo-ciência para tentar criar uma história original, mas se perde pelo caminho.

O gênero suspense/terror é um dos mais antigos que existem no Cinema, quase tão velho quanto à própria arte em si. E um dos temas preferidos por produtores dessa linha é o sobrenatural que lida com o desconhecido para construir sua atmosfera de medo que tanto atrai e fascina os fãs desse tipo de obra. Vez ou outra, alguém consegue dar um passo além e criar algo novo, como “Atividade Paranormal”, “A Bruxa de Blair” ou “A Invocação do Mal”. O grande problema desses sucessos, são aqueles que vem em sua esteira, fazendo uso de temas, ou de estilos, como a pseudo-ciência, que tenta dar uma explicação científica para eventos estranhos e bizarros. E muitas vezes, tais produções tem um resultado artístic menor, parecendo meros pastiches daqueles que lhe deram origem. Infelizmente, “Renascida do Inferno”é mais um desses casos.

O filme conta a história dos cientistas Frank (Mark Duplass), Zoe (Olivie Wilde), Niko (Donald Glover), Clay (Evan Peters), que estão desenvolvendo o soro Lázaro, com a intenção de ressuscitar pessoas. Para documentar o experimento, eles convidam a jovem Eva (Sarah Bolger) para filmar todos os procedimentos. Tudo parecia bem depois que a tentativa de ressuscitar um cachorro tem sucesso, ainda que provoque alguns efeitos colaterais. No entanto, devido a um vazamento de segredos do laboratório o projeto é encerrado pela universidade, o que faz com que eles tomem uma atitude desesperada de repetir o evento, com consequências desastrosas: Zoe morre eletrocutada e os amigos a trazem de volta à vida.

O roteiro não perde muito tempo em apresentar seus personagens, usando para isso pequenos estereótipos que facilitam esse processo junto ao público, então temos o líder do projeto viciado em trabalho, que por sua vez é casado com a mais competente, e única mulher, do grupo, que também é uma católica fervorosa; O nerd bicho-grilo, que é genial, mas tenta ser relaxado, sempre fumando e tomando cerveja no laboratório; O especialista em softwares negro com interesse romântico na protagonista e a jovem bonita que estava na hora errada no lugar errado. Além disso, também faz uso do batido recurso de trazer todos os personagens em verborragia técnica quase infinita ao discutir a experiência, como forma de convencer o espectador da competência daqueles personagens (como se o simples fato de receberem uma verba milionária de uma universidade para tal não fosse prova suficiente dessa capacidade).

E como a adaptação em português (mais uma vez, parabéns aos distribuidores brasileiros) e o próprio trailer do longa deixam claro, Zoe, que era atormentada por um trauma de infância que a atormenta em repetidos pesadelos, começa a apresentar poderes paranormais, cuja explicação baseia-se num dos maiores mitos da ciência (assim como visto em “Lucy”): a capacidade cerebral potencializada para quase a sua totalidade. A partir daí, voltamos a ser bombardeados com uma grande quantidade de características repetidas em diversas outras obras do gênero, tanto visuais quanto temáticas, como os olhos negros da pessoa afetada, poderes de telecinese, levitação e outras coisas do tipo.

Entretanto, mesmo com tantos problemas com o texto, o diretor ainda consegue atingir, em partes, seu objetivo de realizar boas sequências, realmente assustadoras, como as tentativas de fuga no escuro ou os perturbadores jogos mentais que Zoe faz com seus ex-companheiros de trabalho. Tal sucesso é obtido graças à parte técnica, com destaque para a fotografia e a excelente montagem, que cria um ritmo sufocante no terceiro ato.

Dessa forma, ainda que seja uma obra menor, que se baseia quase exclusivamente no carisma de suas personagens femininas (todos os personagens masculinos são profundamente desinteressantes), “Renascida do Inferno” deve agradar boa parte dos fãs do gênero, especialmente ao deixar um gancho para prováveis continuações.

David Arrais
@davidarrais

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