Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 01 de fevereiro de 2015

Caminhos da Floresta (2014): cheio de altos e baixos, mas divertido

Rob Marshall realiza mais um musical divertido, mas cheio de altos e baixos.

Em 1986, chegou aos teatros americanos a peça “Into The Woods”, escrita por James Lapine e Stephen Sondheim. Ela trazia uma proposta inovadora, de misturar vários contos de fada escritos pelos Irmãos Grimm, em uma única história. Repleta de canções, e personagens encantadores, o musical foi um grande sucesso de público, chegando a Broadway no ano seguinte. Hoje, quase trinta anos depois, finalmente a obra foi transposta para as telas do Cinema, pelas mãos do diretor Rob Marshall, com roteiro de um dos autores originais, James Lapine.

Assim como na peça, “Caminhos da Floresta” reúne Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford), Rapunzel (Mckenzie Mauzy), João do Pé de Feijão (Daniel Huttlestone), Cinderela (Anna Kendrick) em uma fábula. O ponto de interseção dessas histórias é o casal formado pelo Padeiro (James Corden) e sua esposa (Emily Blunt). Para escapar de uma maldição lançada pela Bruxa Malvada (Meryl Streep), eles precisam reunir uma vaca branca como leite, um sapatinho dourado, fios de cabelo da cor do milho e uma capa vermelha como sangue.

Um dos pontos altos do filme são as constantes citações, sutis e explícitas, a outros elementos relevantes das histórias que a maioria do público conhece desde a mais tenra infância: o Lobo Mau (Johnny Depp), o Príncipe Encantado (Chris Pine), a Vovozinha, as irmãs e a madrasta de Cinderela, os feijões mágicos. Nesse aspecto o roteiro é bastante eficaz, pois permite que tais elementos surjam de forma orgânica, sem chamar mais atenção para si que para o andamento da trama. Infelizmente, o script também tem vários problemas. O maior deles é a constância de diálogos desnecessários ou aborrecidos. Isso acaba fazendo com que algumas cenas percam bastante sua força, como a exageradamente longa conversa de Chapeuzinho com o Lobo na floresta ou os gigantes do pé-de-feijão.

O longa é bastante irregular, principalmente por conta de sua montagem, deveras mecânica, que deixa o desenvolvimento da história episódico e repetitivo. Sempre fica no ar a sensação de que uma determinada ação teve início exatamente no momento em que a anterior acabou, ao invés do senso de urgência que lhe cairia bem melhor. Também existem graves erros de continuidade e soluções que beiram o Deus ex Machina.

Igualmente irregular é o trabalho do diretor Rob Marshall, o que parece ser uma constante na sua filmografia (exceção feita a Chicago). Até mesmo nos aspectos visuais essa irregularidade está presente. Se o design de produção é bastante eficiente, na criação do interior da floresta, castelos, o mesmo esmero é visto nos efeitos visuais ou maquiagens. Algumas caracterizações funcionam, como a da Bruxa Malvada, em outros casos aprecem uma transposição desleixada do teatro, como no caso do Lobo.

Porém, quando entra em sua zona de conforto, os números musicais, Marshall acerta em cheio. Impossível não se emocionar com a plasticidade e elegância do momento em que Cinderela canta na escadaria do castelo. Da mesma forma, é difícil não se divertir com o “duelo musical” travado pelos dois príncipes em uma cachoeira, com pitadas de exageros típicos dos anos oitenta.

Outra irregularidade constante está nas atuações. Obviamente Meryl Streep rouba todas as cenas em que aparece, seja como a ameaçadora feiticeira que é, seja em passagens dramáticas, em especial quando canta para uma das princesas. Chris Pine surge encantadoramente canastrão, como o mulherengo e galanteador Príncipe Encantado. Infelizmente, Billy Magnussen, que interpreta seu irmão, não consegue se manter à altura. Outra boa surpresa é Daniel Huttlestone, que demonstra talento, principalmente quando demonstra seu carinho pela sua vaca de estimação. E se Anna Kendrick confere doçura e fragilidade a Cinderela, o mesmo não se pode dizer de Mackenzie Mauzy ou Lilla Crawford. E, mais uma vez, Johnny Depp parece emprestar a persona de Jack Sparrow para outro personagem, quase no piloto automático. Emily Blunt e James Corden tem boa química e demonstram grande entrosamento em seus duetos, apesar de sofrerem com um dos piores plot twists (e não são poucos) da fita.

Mesmo com esses problemas, não chega a ser um desastre completo. Claro que está longe de outras obras semelhantes, como “Encantada”, mas consegue divertir graças ao carisma do elenco e os belos números musicais.

David Arrais
@davidarrais

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