Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de dezembro de 2014

Uma Noite de Crime: Anarquia (2014): mais violência, subtramas e conteúdo

Diretor James DeMonaco consegue expandir e melhor seu universo.

No ano de 2013, chegou aos cinemas um pequeno fenômeno das bilheterias americanas. Com um orçamento modesto, de três milhões de dólares, “Uma Noite de Crime” atingiu mais de sessenta milhões de dólares apenas no mercado doméstico, o que gerou instantaneamente o interesse do estúdio em uma continuação. E cerca de um ano depois chega aos cinemas “Uma Noite de Crime: Anarquia”, novamente escrito e dirigido por James DeMonaco.

A sequência tem início com dados estatísticos que mostram que o Expurgo já está consolidado no calendário nacional, e como ele é usado na propaganda oficial do governo como uma ferramenta eficiente de controle da violência e melhorias sociais. Porém, ao contrário do que ocorreu no primeiro filme, em que a história é baseada apenas em uma família, aqui vemos como a noite do Expurgo realmente funciona pelas ruas.

A trama é centrada no envolvimento de vários estranhos que se conhecem durante a noite do evento e precisam atravessar a cidade juntos para atingir um determinado objetivo. Um homem (Frank Grillo) que saiu de casa à caça de alguém, sem o risco de punição; Eva (Carmen Ejogo), uma garçonete que é perseguida por um grupo de ˜especialistas” em Expurgo, junto de sua filha Cali (Zoë Soul); e Shane e Liz, um casal à beira do divórcio, que são perseguidos por jovens mascarados depois que seu carro falha no meio da estrada;

A partir daí o roteiro passa a dar ênfase na construção da tensão, pelo clima suspense, com a impressão de que a qualquer o grupo pode ser atacado por um homem desesperado, um grupo organizado ou até mesmo um tiro vindo do topo de um edifício. Também é interessante a estrutura que ordena a narrativa: tudo ocorre de forma gradativa, o que torna os feitos dos personagens mais críveis, como a cena do jantar em família, ou a invasão da casa de Eva.Além disso,  James DeMonaco também acerta na concepção dos personagens principais: os membros do grupo são bem desenvolvidos, com personalidades diferentes e bastante realistas. Assim, quando vemos algum deles em perigo, somos tomados pela mesma preocupação que seus companheiros.

Outro aspecto positivo do roteiro é conseguir mostrar vários pontos de vista sobre o Expurgo, em várias camadas sociais. Estão presentes: a preocupação dos pobres, maiores vítimas da noite; dos negros, que ocupam também outra grande parcela das pessoas atacadas e, algumas vezes, se aproveitam da proteção do Expurgo para contra-atacar; da classe média, que prefere não sair para fazer parte do caos, mas se diverte assistindo pela tv às atrocidades que ocorrem por todo o país; e o ricos, que encontram formas cínicas, ainda que discretas, de desfrutarem do privilégios dessa noite.

No campo das atuações, a grande força do elenco está no bom entrosamento visto em tela. O diretor se mostrou competente na condução tanto das cenas de ação quanto nos momentos mais intimistas, em que os personagens discutem temas mais profundos ou pessoais.

Dessa forma, é fácil perceber que o diretor sabe exatamente como conduzir o material que criou (ainda que cometa alguns excessos, como câmera lenta exagerada)  e as possibilidade de expandir um universo tão rico e interessante, realizando um trabalho ainda melhor que o primeiro. Além disso, o pequeno gancho para mais uma continuação irá deixar os fãs ansiosos para a próxima noite anual do expurgo.

David Arrais
@davidarrais

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