Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Família (2013): humor negro de pouca qualidade com Pfeiffer e De Niro

Dirigido por Luc Besson, filme tem na ideia original da história seu principal acerto, mas a falha execução permite que seus ótimos atores façam rir apenas eventualmente.

A FamíliaDesde que voltou realmente à ativa, em 2007, Michelle Pfeiffer não fez grandes escolhas para sua filmografia. À exceção de “Chéri”, que possibilitou reviver uma ótima parceria com Stephen Frears, a atriz tem concentrado seus esforços (possivelmente por falta de oportunidades) em longas de gosto duvidoso, mais especificamente em comédias. Nos últimos anos, o mesmo podemos dizer de Robert De Niro, que ainda teve a sorte de participar de um premiado projeto do gênero, “O Lado Bom da Vida”. Juntos desta vez, eles dão suas contribuições, mas não evitam que “A Família” seja mais uma sujeira desnecessária em duas lindas carreiras.

Como Giovanni Manzoni e Maggie, eles interpretam uma casal de mafiosos em plena fuga em família. Como parte de um programa de proteção à testemunha do FBI, os dois e os filhos, Belle (Dianna Agron) e Warren (John D’Leo), abrigam-se dessa vez na região da Normandia, na França. Para tanto, mudam novamente o sobrenome (agora chamam Blake) e até mesmo o nome (caso do patriarca). Os hábitos errôneos, porém, permanecem, como explodir o mercadinho da cidade ou arrumar confusão no colégio. O dom de desrespeitar regras e leis, assim como o de fazer justiça com as próprias mãos, está no sangue, e isso vai acabar chamando a atenção da máfia americana que os caça.

Dirigido pelo mais americano dos diretores franceses, Luc Besson, “A Família” traz realmente um plot divertido, bem como uma ótima seleção de atores. Afinal, quem não gostaria de ver Robert De Niro e Michelle Pfeiffer brincarem de mafiosos em uma pacata cidade francesa com direito a surras e até mortes para quem ameaçar contrariá-los? E tudo com aquele prazeroso tom de comédia politicamente incorreta. Poucos diriam “não”. No entanto, o filme não passa de uma ideia original mal escrita e dirigida que perde fôlego a cada minuto que avança, encaminhando-se para um final tão decepcionante quanto o restante da história.

Preocupando-se em deixar bem clara a falta de escrúpulos de seus personagens, sejam os mais velhos ou os mais novos, o filme é iniciado exibindo suas “danações”. E elas não são pequenas. Com um humor mais físico do que dialógico, o roteiro de Besson e Michael Caleo, adaptado do livro de Tonino Benacquista, não hesita em exibir execuções e brigas bem violentas. E tudo ao som de um rock que exalta cada feito alcançado por um membro da temporária família Blake. A introdução, no entanto, parece não ter fim, fazendo essas situações se repetirem constantemente. Fica claro, então, que estamos diante de uma trama perdida, sem qualquer conteúdo para além do plot, absolutamente despreocupada em desenvolver seus personagens, seja ao menos para dar-lhes características particulares.

Não há Blake nenhum que supere a caricatura descrita pelo script. Nem mesmo o talento de De Niro e Pfeiffer fazem Giovanni e Maggie serem mais do que um mafioso recluso, sedento por alguém que desperte seus dons matadores, e do que uma mãe superprotetora, que toma conta da casa e que eventualmente bota fogo em estabelecimentos comerciais. As tentativas de dar ao primeiro a chance de rever sua história por meio de um livro que começa a escrever, assim como de adicionar um pouco de religião à vida da esposa dele, não trazem a ironia e a comicidade necessárias.

Luc Besson, aliás, parece perdido em seu tom de comédia. Dando um ritmo morno à história (mais longa do que deveria), o trabalho do diretor pouco provoca gargalhadas e estaria mais para um padrão “Sessão da Tarde” se não contasse com cenas mais fortes e sensuais do que deveriam. A situação fica ainda pior no segundo ato da narrativa, quando um deslocado e raso drama é acrescentado, bem como um suspense nada instigante, resultando em um desfecho tão previsível quanto mal executado, possível graças a uma das maiores “forçações de barra” que a história recente do cinema já viu.

Desperdiçando ainda o transbordante talento de Tommy Lee Jones, como o agente do FBI responsável pela proteção dos Blake (excluir o personagem da história não faria mal nenhum), “A Família” sustenta-se em sequências pontuais, quando a categoria de seus atores principais supera a qualidade de um texto sem qualquer momento de inspiração. E, infelizmente, esses momentos são pouquíssimos, contáveis com os dedos de uma mão, acrescentados de outros que trazem boas referências cinematográficas de obras que possuem a máfia como tema. Em suma, o guilty pleasure de ver De Niro e Pfeiffer brincarem de matar, assustar e aterrorizar os outros nem é tão prazeroso assim.

Darlano Didimo
@rapadura

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