Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Ataque (2013): filme de ação problemático, porém empolgante

Roland Emerich ataca os Estados Unidos mais uma vez e aposta em Channing Tatum como herói da vez.

O diretor Roland Emmerich deve ter algum problema com os Estados Unidos. Ao longo de sua filmografia, ele já atacou o país com alienígenas em “Independence Day“, um monstro gigante em “Godzilla“, tropas inglesas em “O Patriota“, e até mesmo a mãe natureza em “O Dia Depois de Amanhã“. Em sua nova produção “O Ataque”, seu alvo preferido é vítima de um elaborado ataque terrorista.

O filme tem início com a chegada do presidente americano Sawyer (Jamie Foxx) à Casa Branca, depois de um bombástico pronunciamento na sede das Nações Unidas. Por conta desse discurso, importantes membros do governo são convocados para debater a repercussão da retirada de tropas do Oriente Médio. Entre eles o vice-presidente Hammond (Michael Murphy), e o líder do Congresso Raphaelson (Richard Jenkins), que segue para o capitólio com seu segurança, Cale (Channing Tatum).

Depois de uma entrevista de emprego com Carol Finnerty (Maggie Gyllenhaal), a chefe da segurança pessoal do presidente, Cale leva a filha, Emily (Joey King), para uma visita à Casa Branca. Pouco depois da festa de despedida de Walker (James Woods), chefe do Serviço Secreto, ocorrem ataques sincronizados à Casa Branca e ao Capitólio.

A apresentação de inúmeros personagens, interrompida várias vezes por piadinhas desnecessárias, deixa o primeiro ato com um ritmo irregular. O longa só engrena mesmo depois que começa a ação. E nesse gênero Emmerich sabe trabalhar como poucos.

As perseguições por dentro da residência do presidente são tensas e as cenas de luta são bem executadas. O uso de armas, especialmente de calibre pesado, é retratado com realismo. O diretor exibe seu talento no uso de efeitos especiais, como nas cenas de destruição dos monumentos de Washington. Nos aspectos visuais, o filme só deixa a desejar nas tomadas no exterior da Casa Branca, quando o uso grosseiro do chroma key salta aos olhos.

A trilha sonora de Harald Kloser e Thomas Wander chama a atenção apenas nas sequências de ação. Em outros momentos é falha por ressaltar o tom das cenas com antecedência, o que prejudica o efeito surpresa no espectador. Mas, fechar a película com “Street Fighting Man” dos Rolling Stones os livra de qualquer crítica.

O roteiro de James Vanderbilt abusa de clichês, como a filha pré-adolescente que chama o pai pelo primeiro nome, ou o vilão que pratica atrocidades enquanto come um pedaço de bolo. Porém, algumas frases são interessantes, como: “Você não começa como político, você se torna um” ou “Eu não sou mais o herói da minha filha”.

O roteiro acerta ao abordar temas políticos importantes, como o custo de um trilhão (!) de dólares da Guerra contra o Terrorismo, ou os interesses econômicos por trás da belicista política externa americana. Há também uma caracterização dos políticos que os aproxima de seus equivalentes reais, como Bill Clinton, Donald Rumsfeld e o aspecto pop do casal Obama.

As atuações não vão além de corretas. Channing Tatum compensa sua limitação dramática com seu talento para a ação. Jamie Foxx, apesar de convincente como o presidente (repetindo até alguns maneirismos de Barack Obama), parece desconfortável durante toda a projeção. James Woods mostra sua competência habitual como um coadjuvante importante para a trama. Maggie Gyllenhaal faz o que pode com as limitações impostas à sua personagem pelo roteiro. O grande destaque Richard Jenkins, que rouba todas as cenas em que participa. Sua construção de personagem é excelente, retratando fielmente a essência de um político. Jason Clarke é desperdiçado em um amontoado de clichês como o Stenz, o chefe dos terroristas.

Com vários plot twists surpreendentes (algo raro nas fitas do gênero ultimamente) no decorrer da trama, “O Ataque” é um bom entretenimento de ação. Porém, poderia ter alcançado um resultado ainda mais satisfatório não fosse a quantidade imensa de elementos “inspirados” no clássico “Duro de Matar“. Os produtores só esqueceram uma coisa: Channing Tatum não tem o carisma de Bruce Willis.

David Arrais
@davidarrais

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