Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Missão Impossível 4 (2011): Brad Bird entra com o pé direito nos filmes live-action

Dobradinha entre o diretor de animações da Pixar e o sempre acelerado Tom Cruise dá o ritmo certo à nova aventura de Ethan Hunt.

Quem viu “Os Incríveis”, longa da Pixar dirigido por Brad Bird, sabe que o cineasta é um fã incondicional da franquia “Missão: Impossível”, lançando mão de diversas referências à série dentro daquela animação. Pois bem, o maior acerto dos produtores Tom Cruise e J.J. Abrams na feitura deste “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” foi ter chamado Bird, que nunca havia comandado um longa em live-action, para assumir o leme da quarta película para o cinema do Agente Ethan Hunt.

Após o seu “felizes para sempre” no final de “M:I-III”, parecia que Hunt (Cruise) nunca mais assumiria uma missão da IMF. No entanto, nosso herói já começa este filme preso na Rússia. Após sair de lá, com a ajuda da agente Jane Carter (a estonteante Paula Patton) e do recém-promovido às operações de campo Benji (o sempre hilário Simon Pegg),

Hunt e sua equipe têm de lidar com uma ameaça de guerra nuclear provocada pelo insano terrorista Hendricks (Michael Nyqvist), também conhecido como Cobalto. Quando a missão dá errado e a IMF é desativada, Ethan e sua equipe improvisada, com a ajuda do analista Brandt (Jeremy Renner), se lançam para deter Cobalto antes que um conflito entre EUA e Rússia comece.

A fita pode ser descrita como um trabalho da DreamWorks dirigido por um homem da Pixar (com direito a um A113) e feito com atores reais. Digo isso porque o foco da produção é divertir, sem inventar muito no meio de campo, desejando apenas entreter o público com uma aventura de tirar o fôlego.

Nesse sentido, a contratação de Bird foi ouro puro, com o diretor arquitetando as melhores cenas de ação da franquia e, com a ajuda do consagrado montador Paul Hirsch, impondo um ritmo tão alucinante à projeção que acabamos por ignorar os problemas óbvios que o roteiro possui.

O script é extremamente genérico e não precisaria de muitas revisões para ser aproveitado por qualquer outra franquia, dando pouquíssima “voz” para seu protagonista. Somente por enxergarmos em Tom Cruise a figura de Ethan Hunt é que reconhecemos o personagem, além de algumas menções feitas ao terceiro filme da série, incluídas aqui e ali durante a projeção, especialmente em seu epílogo.

Além disso, o texto carece de um bom vilão, desperdiçando o competente Michael Nyqvist em um antagonista que não possui função dramática, jamais despertando raiva ou qualquer sentimento junto ao público, servindo apenas para ser o terrorista maluco da vez. Isso é especialmente decepcionante após o ótimo trabalho que Phillip Seymour Hoffman fez no episódio anterior da franquia, causando ódio na audiência desde sua entrada em tela.

Apesar disso, em momento nenhum a fita se leva muito a sério, com a equipe de Hunt percebendo os absurdos nos quais se metem e fazendo graça deles, e o timing cômico de Simon Pegg sendo impecável nesse ponto. Outro “detalhe” que faz com que o filme flua de maneira mais leve é o domínio de cena que Tom Cruise exerce. Mesmo beirando os 50 anos de idade, o astro possui aquele tipo de carisma que nos faz pensar logo “esse é o cara”.

O papel de Ethan Hunt lhe dá a oportunidade de fazer o impossível na tela de um modo que a audiência aceita as façanhas insanas que surgem na tela, quase como se ele fosse um super-herói (o fato de que o ator não usa dublês em algumas cenas mais arriscadas contribui para esse efeito). Isso permite que Brad Bird insira Hunt e os membros da IMF em sequências de ação que parecem vindas diretamente de “Os Incríveis”, inclusive com tiradas hilárias realmente engraçadas mescladas dentro da ação, o que dá àqueles momentos deliciosamente impossíveis um charme todo especial.

Jeremy Renner chega bem na franquia, mostrando disposição para o gênero de ação e desenvoltura para lidar com os necessários momentos mais bem-humorados da fita (“Da próxima vez, EU seduzo o ricaço”), além de seu pequeno plot em relação ao passado de Ethan ser um dos poucos em toda a série a exploraro psicológico do protagonista.

O filme ainda possui participações especiais de Tom Wilkinson como o secretário de defesa americano, Josh Holloway como um agente da IMF, Léa Seydoux como uma lida e mortal assassina (com direito a catfight com Paula Patton), além do retorno de outros dois atores dos capítulos anteriores, cujos nomes devem ser mantidos em sigilo. Por falar em retornos, não podemos olvidar o trabalho do sempre competente compositor Michael Giacchino, que aqui volta a brincar com o tema musical clássico criado por Lalo Schifrin.

Brad Bird manteve suas características como cineasta nesta transição da animação para a ação ao vivo, como o ritmo rápido, a musicalidade de suas cenas e a predileção por um tom mais vintage ao orquestrar até mesmo as cenas mais movimentadas. O resultado da estreia de Bird no mundo live-action é um verdadeiro presente de Natal para os fãs de filmes de ação, capaz de prender na cadeira audiências de todos os tipos, mesmo sem um roteiro impecável.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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