Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os Mercenários (2010): empolgante e divertido, mas não funciona no cinema

Transformando as salas de cinema em DeLoreans, Stallone e seus companheiros levam o espectador de volta aos anos 1980 neste divertidíssimo filme de ação à moda antiga!

Quem nasceu nos anos 1980 sabe muito bem como um (típico) filme de ação daquela época era feito: sangue, suor, humor macho, frases de efeito e só. Roteiro? Qual seria a utilidade disso, se o negócio é diversão rápida e escapista, de um modo bruto e macho! E é isso que as audiências encontrarão em “Os Mercenários”, fita escrita, produzida, dirigida e protagonizada por um dos ícones máximos do cinema de ação, Sylvester Stallone.

O bom e velho garanhão italiano pode ter feito suas mancadas com relação aos brasileiros após ter filmado parte da fita por aqui, falado algumas barbaridades na Comic-Con sobre o país e (dizem por aí) dado um calote nos profissionais nacionais envolvidos na produção, mas sabe executar seu ofício como ninguém. Stallone reuniu um elenco de sonhos para este canto dos cisnes oitentista e criou um roteiro mínimo para amarrar a porradaria, filmada com maestria.

As sequências de ação, aliás, são recheadas de efeitos práticos e muitas explosões reais. Quando Stallone disse que tinha explodido o país durante as filmagens, ele não estava brincando. É interessante notar que o CG é tão pouco utilizado que, quando surge, causa estranheza, principalmente quando usado para simular sangue. Bom, teria sido melhor usar suco de groselha. As cenas de luta são bastante brutais, explorando bem o background marcial de cada membro do elenco.

Dentre tiroteios e pancadaria, destaco uma perseguição nas selvas que culmina em uma sequência envolvendo um avião e o realmente explosivo clímax da história, em uma batalha que quase parece uma versão idiota e divertida dos primeiros 12 minutos de “O Resgate do Soldado Ryan” na qual deve ter morrido mais soldados anônimos do que em “Comando Para Matar” e “Rambo II – A Missão” juntos.

Ah, ia esquecendo de falar da trama, que mostra um grupo de mercenários, liderado pelo sempre profissional Barney Ross (Stallone) que recebe a incumbência de derrubar um ditador esquerdista de uma ilha do golfo (David Zayas), que está sendo apoiado por um misterioso patrocinador americano (Eric Roberts). Mas, como não poderia deixar de ser, Barney acaba sendo tocado pela bela Sandra (Giselle Itié), o contato local dos mercenários e que guarda uma relação misteriosa para com o mandatário local.

Sly reuniu mestres da ação em todos os níveis. Da “nova geração” temos Jason Statham, astro da franquia “Carga Explosiva” e co-protagonista do filme ao lado do antigo Rocky, sendo o proverbial melhor amigo. Jet Li representa os artistas marciais orientais e recebe muitas piadas sobre seu tamanho, principalmente em sua luta contra o grandalhão sueco Dolph Lundgren, o eterno Ivan Drago, que aqui interpreta um mercenário com problemas psicológicos e de substância de abuso (parece profundo, mas não é).

Em participações menores, temos o grandalhão Terry Crews, cujo maior feito no filme é fazer graça com Jet Li e segurar uma arma do tamanho de uma pessoa e os lutadores profissionais Randy Couture, como um mercenário com “orelha de couve-flor”, e “Stone Cold” Steve Austin, que vive um capanga de vilão silencioso e destruidor chamado apropriadamente de Paine, que protagoniza uma luta brutal ao lado do diretor, devendo ter realizado o sonho de muitos atores por aí que adorariam chutar o traseiro do cara que fica gritando “ação” nos sets.

Mickey Rourke e Eric Roberts completam o elenco masculino sem protagonizar grandes cenas de ação. Enquanto Rourke faz o típico soldado aposentado e tem o que mais se aproxima de um momento dramático na fita, Roberts eleva sua canastrice ao máximo como o típico vilão engravatado e engomadinho. Ainda há de se falar das pontas de dois ícones hollywoodianos, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, em uma aparição que fará muito marmanjo por aí pular da cadeira feito moleque.

Na ala feminina, a brasileira/mexicana Giselle Itié tem o seu destaque, aparecendo deliciosa em cena e com um sotaque atroz, e Charisma Carpenter, a eterna Cordelia dos seriados “Buffy – A Caça-Vampiros” e “Angel” pouco tem a fazer como o interesse amoroso de Statham e nova garota-propaganda da Lei Maria da Penha.

Se me perguntarem se este longa funciona como cinema, eu teria de dizer que não. Mas é um espetáculo tão empolgante e divertido que fica difícil ligar para isso. Ação quase que ininterrupta, boas tiradas, uma trilha sonora calcada no rock e uma cena memorável que reúne, no mesmo quadro, os eternos Rambo, Exterminador do Futuro e John McClane fazem de “Os Mercenários” uma fita imperdível para a geração da década perdida e uma das produções mais divertidas do ano.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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