Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 24 de abril de 2010

Alice no País das Maravilhas (2010): fotografia é o ponto alto do filme

Depois de ter estreado em quase todo o mundo, chega aos cinemas nacionais um dos filmes mais esperados do ano. O mais novo e ousado trabalho do diretor Tim Burton repete a dobradinha de sucesso com Johnny Depp.

Neste novo filme sobre Alice, ela está prestes a ser pedida em casamento, quando vê um coelho muito diferente, segue-o e acaba caindo em um buraco que o leva a um fantástico mundo que ela acredita fazer parte de seu sonho. O país das maravilhas é repleto de figuras estranhas e um perfeito cenário que se torna um prato cheio para os efeitos em 3D. Esta tecnologia, mais uma vez, rouba a cena e é responsável pelos melhores efeitos do filme, embora ainda caia no vício de ter um excesso de objetos sendo jogados na cara do espectador. Para se ter ideia do excelente resultado visual é só dizer que ele é comparável ao do recente fenômeno mundial “Avatar”.

O diretor americano Tim Burton (“A Fantástica Fábrica de Chocolate”), mais uma vez, mostra uma forma peculiar de conduzir suas obras, algo que é visivelmente diferenciado dos outros cineastas e, por isso, é bastante apreciado. É um misto de sensibilidade de captar o imaginário com uma forma ousada de lhe dar vida. Sua parceria com Johnny Depp (“Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet“), mais uma vez encabeçando o elenco principal de uma obra do diretor, só vem a mostrar a confiança que ele tem não só no trabalho de Depp, mas também no seu próprio à medida que repete elementos, deixando-a com a sua cara.

Johnny Depp está mais uma vez espetacular. É impressionante a desenvoltura do ator para personagens ímpares. Mia Wasikowska (“Amélia”) faz uma Alice na medida certa. Anne Hathaway (“Idas e Vindas do Amor”) aparece um pouco artificial, mas também agrada. O grande nome do filme é, sem dúvida, Helena Bonham Carter (Harry Potter e o Enigma do Príncipe). A cabeçuda rainha vermelha é responsável por quase tudo no filme, desde os momentos cômicos, e principalmente estes, até os momentos decisivos na obra.

O maior receio que se tem de obras como esta é quanto ao roteiro, uma vez que temos observado muitos exemplos de obras fantásticas visualmente e, em contrapartida, um roteiro medíocre se comparado ao fascínio promovido pelos recursos utilizados. E não é que aconteceu de novo! Embora não comprometa totalmente, o roteiro é o ponto fraco do longa. Linda Woolverton não conseguiu dar a história o tom alcançado por Burton e, muito menos, a grandeza esperada pelos fãs.

Algo fundamental que faltou a obra foi o fator emotivo. As cenas que deveriam emocionar, simplesmente, não o fazem. O lado sensitivo de Burton até pode suprir parte disso, mão não tem como não reparar a falta de emoção. Alice é forte, decidida. O futuro noivo não é nada romântico e muito menos gosta dela. Ela é ajudada por todos e quase não encontra dificuldade para conseguir o que quer, nem sua relação com o Chapeleiro consegue arrancar algo que não seja cômico. Assim, o que corre é o público simpatizar mais com a cômica vilã do que propriamente com a mocinha.

Quanto ao aparato técnico, o filme é excelente. A fotografia é incrível e mais parece ter sido tirada de um sonho, formando um ambiente sombrio, nebuloso e até enigmático. A trilha sonora é boa e moderna e se alia à edição inteligente. Os efeitos visuais transformam o filme e fica difícil imaginar assistir ao filme em salas que não tenham o 3D, uma vez que sem os efeitos, o longa não atinge a  mesma eficiência.

Tim Burton merece ser reconhecido por seu talento e, principalmente, por sua peculiaridade que acrescenta muito a um universo cada vez mais marcado pela falta de originalidade. A obra pode até pecar em alguns pontos cruciais, mas sua grandeza sensitível envolve e fascina público.

Marcus Vinicius
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