Cinema com Rapadura

Acme   sábado, 14 de dezembro de 2013

500 Dias com Ela é um terrorismo ou a dura realidade sobre términos e recomeços?

Um filme difícil de assistir, principalmente para os homens que estão passando/passaram por uma situação difícil recentemente. Mas assim como um recém fim de relacionamento, você aprende que assistir é uma forma superar.

500 Dias com Ela é um terrorismo ou a dura realidade sobre términos e recomeços?>

“Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vias ou mortas é coincidência. Principalmente com você, Jenny Beckman. Vadia”.

Diz o letreiro inicial. O co-roteirista do filme, Scott Neustadter, admitiu que o filme foi baseado em um romance real.

Essa não é uma história de amor”, já avisa o narrador no prólogo.

Será que não é?

Você acha que nunca vai ser feliz. Você está sozinho. A vida é uma rotina chata. Aparentemente, ninguém te entende. Até que você encontra a pessoa perfeita. Ela é a tua alma gêmea. Pelo menos você acha isso, afinal ela corresponde tudo que você sente. Até que do dia pra noite, tudo muda! E você, um cara apaixonado, perde o chão. “500 Dias com Ela” é um filme feito para mostrar o efeito devastador que algumas mulheres fazem com os homens que se entregam a uma relação. Nós sempre vimos o outro lado da moeda. Sempre vimos em comédias românticas a mulher sofrendo, mas no fim tudo fica bem! Por isso esse gênero é tão popular. Mas no “500 Dias” não é assim…

Imagina só… Você é Tom (Joseph Gordon-Levitt), um cara que não é fácil de se apaixonar, mas que estava ali, de coração aberto, apenas esperando uma oportunidade. Até que ele acha a Summer (Zooey Deschanel), uma garota diferente e apaixonante. Mas como toda garota que você se apaixona, de início ela não dá bola, e ele questiona:

“Por que todas as garotas bonitas acham podem tratar todos mal e ficar tudo bem?”

Pois é. Até que Tom encontra Summer, casualmente, no elevador, e ela diz:

The Smiths? Eu amo The Smiths. Você tem bom gosto musical”, e sai do elevador.

Pronto. A faísca virou uma fogueira!

Aos poucos Tom vai percebendo que ela é a pessoa ideal para estar ao lado dele, mas Summer não enxerga isso. Ele se apaixona, ela não. Ela não percebe que o cara está apaixonado por ela. Talvez ele não tenha tomado a iniciativa certa, mas é o jeito dele. Até que numa festinha da empresa, um amigo do Tom pergunta pra ela se ela tem namorado, e quando ela diz que não, ele fica surpreso e pergunta “por que não?”, aí ela responde:

“Não fico confortável sendo namorada de alguém. Não fico confortável sendo nada de ninguém. Eu gosto de ter vida própria, relacionamentos são confusos, as pessoas ferem os sentimentos, quem precisa disso? Somos jovens, moramos em uma das cidades mais lindas, podemos nos divertir enquanto podemos e guardar as coisas sérias para depois”.

O amigo reage (brilhantemente):

“Puta merda, tu é um homem”.

Hahhahaha! Tom reage:

“Espere, e se você se apaixonar?”

Ela diz:

“Você não acredita nisso, né?”

Ele diz:

“É amor, não é o Papai Noel”

Ela diz:

“O que essa palavra significa? Já tive relacionamentos e acho que nunca vi isso. E a maioria dos casamentos acabam em divórcios hoje. Como os meus pais…”

ISSO! Já conseguimos traçar um possível perfil da Summer. Teve relacionamentos, não deve ter dado muito certo (viu os seus pais, que deviam representar o símbolo do amor perfeito) se separando. Óbvio que ela iria ser descrente no amor. Óbvio que ela está pouco se importando pra esse sentimento, pelo menos nesse momento. E óbvio que ela não vai se importar com quem tem esse sentimento.

Até que rola o seguinte diálogo:

Ponto! É bem isso mesmo, né? Quando você sabe que está apaixonado? Quando você pensa naquela pessoa que você gosta e se sente bem. Aquele sentimento te faz bem. Mesmo que aquela pessoa não corresponda, mas o fato dela existir neste planeta, já é um motivo para estar vivo e sentir aquilo tudo. Principalmente quando você está tão próximo dela e ELA CORRESPONDE. Os sinais estavam todos ali. Era questão de tempo. Aos poucos Summer vai correspondendo todos os sinais.

Eles fazem planos, se divertem, ficam juntos. Uma vida feliz. Tudo está funcionando. Casal perfeito, como todo casal no começo de relacionamento. Tudo funciona, tudo dá certo. Tudo é meio mágico. Tudo agrada. Até os defeitos, que aparecem aos poucos, são relevados. Eles fazem bem um ao outro. Especificamente, Tom está em chamas. Feliz, dançando na rua.

Quanto mais eles passam a se conhecer, eles se entendem e se aceitam. Parece óbvio, mas vai funcionando. Ela diz que gosta do Ringo Starr pelo simples fato de que ninguém gosta dele. É curioso.

Ela passa a se interessar pelas coisas dele. Por arquitetura. Ele se sente bem em compartilhar as coisas que ele ama com ela. Ela sente que está fazendo bem a ele. E vice-versa. Eles se entendem.

Ela nunca havia se aberto com ninguém. Nunca trouxe pessoas para a sua casa. Não era apenas um relacionamento, era uma novidade para ela. Ela estava finalmente se abrindo com alguém. E alguém que a entendia e a aceitava do jeito que ela era. Ele respeitou o espaço que ela pediu quando disse que queria uma relação casual. Ele aceitou. Mas não iria ser casual com o tempo passando. O envolvimento só crescia e o sentimento também. Não era apenas algo casual. Era uma relação bonita, verdadeira e desejável. Ela começou a contar coisas que provavelmente nunca contou pra ninguém. Coisas que a atormentavam. Coisas que ela queria falar pra alguém, mas nunca teve alguém por perto para ouvi-la. Tom estava lá. Ouvindo. Não eram histórias para qualquer um ouvir. Tom teve que merecer ouvir. E mereceu. Fez por onde. Se entregou a relação. Se entregou de corpo e alma ao sentimento.

Após contar uma história de um sonho que a fazia muito mal, e ela acordava sozinha, atormentada, praticamente um trauma rotineiro, ela diz:

“Eu nunca contei isso pra ninguém”.

Ele diz:

“Acho que eu não sou qualquer um”.

Pronto. Corações abertos. Juntos. Um só.

O tempo vai passando e a Summer vai começando a ficar noiada com algumas coisas, até que ela diz:

“Nós somos apenas amigos…”

Tom reage:

“Como assim? Beijos no escritório, mãos dadas na loja, sexo no chuveiro. Meses juntos. Amigos uma ova”.

Ela diz:

“Eu gosto de você, Tom. Mas só não quero um relacionamento…”

Meio tarde pra isso, né Summer? Quase 8 meses juntos, NAMORANDO, mesmo que ela não assumisse a relação, era namoro, tava meio óbvio. Qual o problema dela? Medo de assumir o rótulo “relacionamento sério”, vulgo “namorando”?

Mesmo discordando dessa situação, eles se entendem. Ficam juntos.

Até que Tom pergunta:

“Você já namorou antes?”

Summer diz:

“Tive alguns namorados. Passou”.

Tom questiona:

Ahhh, essa vida…

Até que ela diz:

“Nós devemos parar de nos ver”.

COMO ASSIM? Se você corresponde a todos os sinais, como você pode simplesmente DO NADA mudar de opinião? Que sentimento vazio é esse? Que consideração é essa? Como você deixa de amar uma pessoa que está ao seu lado apenas te fazendo o bem… SIMPLESMENTE DO NADA? Nunca é do nada, né?

Aí entram os amigos…

“Você é um cara excelente. É como dizem, ‘o mar está cheio de peixes’. Você vai passar por isso”.

É óbvio que vai, mas isso é a última coisa que você quer ouvir nessa hora. Os amigos são as melhores pessoas pra esses momentos, mas eles as vezes não sabem o quanto isso é ruim de ouvir. “O tempo cura tudo”. Essa frase é tipo uma facada no coração e que você vai puxando lentamente.

“Eu não quero esquecê-la. Eu a quero de volta”.

É isso que Tom pensa! É isso que TODOS OS TOMS pensam. Até que você percebe que se aquela pessoa pouco se importa com você, por que você se importaria com ela? O problema é que você não consegue simplesmente seguir em frente. Você quer, mas não consegue. Você conhece pessoas novas, pessoas interessantes, mas nada se enquadra no que aquela mulher conseguiu fazer. Nenhuma consegue preencher o vazio.

O tempo passa…

Até que você a encontra, após alguns meses do término. Ele claramente não superou. Ela, claramente, superou. Óbvio, afinal quem termina a relação sempre sai por cima (não é regra, mas é regra na maioria das vezes). Quem sofre, no fim de uma relação, é quem é pego “desprevenido”. Ela está melhor que ele. Ela superou. Aliás, ela seguiu em frente. Pra ela, até ter algo de novo com Tom seria normal, afinal ela não é uma pessoa de “relacionamentos”. Pra ele, que estava tentando superar, é uma facada no meio do peito. É tipo aquela inocência que você tem ao ver uma mensagem no Facebook de alguém que estava um dia desses ao seu lado. Parece ser uma msg para você. Talvez uma possibilidade de retorno? Talvez uma ilusão? Sim, uma ilusão de alguém apaixonado.

O filme até faz uma brincadeira, mostrando duas telas ao mesmo tempo, do encontro que Tom vai ter com Summer na casa dela: uma tela com as expectativas de Tom e uma tela da realidade.

Obviamente a realidade é dura. Mas é verdadeira. Ela superou. Ela seguiu em frente. Ele ficou preso a uma possibilidade. Ficou preso a um amor que não era correspondido. Até que ele percebe que ela seguiu em frente mesmo. E estava num relacionamento sério. O cara pediu ela em casamento e ela aceitou. Tudo que ela não fez com ele. Ela fez com o outro. Tudo que ela dizia acreditar mudou com esse novo relacionamento. Tudo que ela dizia ser a verdade, era tão real assim. As coisas mudam e as opiniões também, no fim das contas.

A paixão vira raiva. Até que aquilo que você sentia por aquela pessoa especial simplesmente some. Você passa a não acreditar no amor. Você não acredita que vai gostar de alguém como gostava daquela pessoa. Você acha que ninguém mais vai te compreender como ela te compreendia. Você vira a Summer do começo do filme que não acredita no amor. Até que você para de lembrar só das coisas que te faziam bem, e passa a reparar nas coisas que não deram muito certo. A irmã de Tom fala isso pra ele. Será que estava tudo bem mesmo? Será que ela correspondia a todos os sentimentos que ele tinha por ela?

É. Sintonias diferentes. Não era tudo tão perfeito assim.

Tom segue em frente. Passa a pensar mais em arquitetura, algo que Summer sempre dizia que ele deveria se dedicar. E ele faz isso. O relacionamento acabou, mas ficou algo de bom. A vida é assim, né? Nem sempre tudo é tão ruim quanto parece. Por mais que a gente queira esquecer tudo que aquela pessoa fez contigo (principalmente se você sofreu tanto), esquecemos que tiveram coisas boas. Alguma coisa ficou. Alguma coisa boa.

Tom e Summer se encontram, 488 dias desde o dia que se conheceram. Ela casada. Ele seguindo em frente.

Tom diz:

“Eu nunca vou entender. Como que alguém não queria nem ser namorada, agora é esposa de alguém”.

Summer diz:

“Eu só acordei um dia e soube”.

Tom diz:

“Soube o que?”

Summer diz:

“O que eu nunca tive certeza com você”.

Aí você descobre que não existe fórmula para relacionamentos. Alguns relacionamentos dão certo. Outros não. Infelizmente, ou felizmente, as coisas acontecem. Não é o fim do mundo. É difícil entender, aceitar, mas você aprende a seguir. Tom teve que aprender a seguir. A vida deu uma nova volta.

Uma nova pessoa apareceu. E o dia 1 começou…

500 Dias com Ela” não é filme fácil. Ele conversa muito bem com você que passou por uma situação parecida com a do Tom. Assistir quando você está sozinho talvez seja até um grande remédio. Você passa a entender que todo mundo já passou por aquilo. Você entende que por mais que uma relação não tenha dado certo, mesmo que você, aparentemente, tenha feito tudo certo, se doado, se entregado de corpo e alma, as vezes as coisas não tem que dar certo mesmo. É meio inevitável. Mas o seu próximo relacionamento não deve sofrer por causa do seu anterior “fracassado”. Você não pode se doar menos porque não deu certo antes. Se você é assim, seja assim. Quem estiver ao seu lado vai ter que te aceitar como você é. É assim que surgem as grandes relações. É assim que, no fim, a gente acaba dizendo:

“Eu acredito no amor”.

Saiba Mais:

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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