Disney censura cenas de personagens LGBTQIA+ nos filmes da Pixar, segundo funcionários; CEO se pronuncia
Polêmica surgiu a partir do posicionamento do CEO Bob Chapek a respeito de uma lei aprovada no estado da Flórida.
A gestão de Bob Chapek como CEO da Disney já enfrentava resistência desde que ele assumiu o cargo inicialmente em 2020. Agora, a divulgação pela Variety de uma carta dos funcionários LGBTQIA+ da Pixar alegando que a gigante do entretenimento censura cenas de afeto entre o mesmo gênero nos filmes do estúdio deve colocar o executivo em lençóis ainda piores.
A declaração dos funcionários da Pixar veio um dia após Chapek ter se reunido com o governador da Flórida, Ron DeSantis, para tratar de uma lei aprovada no estado estadunidense, a chamada lei “Don’t Say Gay” (“não diga gay”, em tradução literal). A norma proíbe qualquer instrução ou educação sexual sobre identidade de gênero entre o jardim de infância e a terceira série, período no qual os alunos estão entre os cinco e nove anos de idade. Ela também recomenda às escolas que evitem tópicos LGBT “quando estes não forem adequados para a idade ou ao desenvolvimento dos estudantes”.
A polêmica política chegou à Disney quando, em vez de condenar a legislação, Chapek se reuniu com DeSantis e emitiu um comunicado para a empresa afirmando que “o maior impacto que podemos causar para criar um mundo mais inclusivo é através do conteúdo inspirador que produzimos”, já que, segundo ele, “declarações corporativas fazem muito pouco para mudar desfechos ou ideias”.
Como se não bastasse, poucos dias antes, em 25 de fevereiro, uma reportagem do jornal Orlando Sentinel revelou que a empresa subsidiou as campanhas de todos os políticos que votaram a favor da lei. O fato, claro, foi visto como ultrajante para os empregados da comunidade LGBTQIA+ em todas suas subsidiárias.
A declaração dos empregados da Pixar chega para contestar a postura conivente da empresa, denunciando as práticas corporativas internas em relação à produção do conteúdo ao qual Chapek se refere:
“Nós da Pixar testemunhamos pessoalmente histórias lindas, cheias de personagens diversos, voltarem da revisão corporativa da Disney cortadas até as migalhas do que elas já foram. Quase todos os momentos de afeto gay são cortados a pedido da Disney, independente de haver protestos tanto da equipe criativa, quanto da liderança executiva da Pixar. Mesmo se criar conteúdo LGBTQIA+ fosse a resposta para consertar legislação discriminatória no mundo, estamos sendo impedidos de fazer isso.”
Em reunião para acionistas na última quarta-feira (9), Chapek tentou colocar panos quentes, anunciando a doação de US$ 5 milhões à ONG Human Rights Campaign. Os empregados enfatizaram que, ainda que importante, a doação à HRC não é o bastante para promover o impacto necessário:
“Apesar de anunciar a doação à HRC ser um passo na direção correta, a reunião de acionistas na quarta-feira deixou claro que isso não é o suficiente. A Disney não tomou uma postura firme para apoiar a comunidade LGBTQIA+, tentando em vez disso jogar para os dois lados – e não condenou as mensagens odiosas compartilhadas durante a sessão de perguntas e respostas na reunião.”
A própria HRC se manifestou publicamente, recusando a doação da Disney “até que medidas significativas para combater a legislação sejam tomadas”:
“A HRC encoraja a Disney e todos os empregadores a continuar a lutar por seus empregados – muitos dos quais se posicionaram para dizer que o silêncio de seu CEO era inaceitável – e a comunidade LGBTQIA+ trabalhando conosco e com grupos LGBTQIA+ locais e estaduais para garantir que essas propostas perigosas anti-igualdade que machucam famílias e crianças LGBTQIA+ não tenham lugar na Flórida. Todos os estudantes merecem ser vistos, e todos os estudantes merecem uma edução que os prepare para saúde e sucesso – independente de quem sejam. Esse deveria ser o começo dos esforços da Disney, não o fim.”
Nessa sexta-feira, Chapek se pronunciou novamente sobre o caso, agora pedindo desculpas aos funcionários e anunciando que irá interromper todas as doações a políticos na Flórida (via Variety):
“Está claro que isso não é apenas uma questão sobre um projeto de lei na Flórida, mas ainda mais um desafio aos direitos humanos básicos. Vocês precisavam que eu fosse um aliado mais forte na luta por direitos iguais e eu os decepcionei. Peço desculpas.”
Esse é mais um dos atritos entre a Disney e sua subsidiária Pixar. As decisões recentes de lançar os filmes da produtora de animação pelo streaming Disney Plus vem causando abatimento entre os funcionários. Foi o caso com “Soul“, “Luca” e agora “Red – Crescer é uma Fera” – que chega ao catálogo do streaming nessa sexta-feira. E, ao que tudo indica, a tendência irá se manter com o lançamento de “Lightyear” em junho.
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