Longa baseado na HQ homônima se perde num roteiro desconexo, violência e nudez gratuitas e desperdício de seus protagonistas.
Keanu Reeves lançou uma franquia de sucesso com “John Wick: De Volta ao Jogo”, onde vive um assassino de primeira linha que lida com a aposentadoria mas acaba sendo arrastado de volta para a vida de antes, onde usa seu arsenal de habilidades para dizimar os inimigos em impressionantes cenas de ação. Grandes franquias geram cópias, é como Hollywood funciona. Algumas são boas, outras são fracas. “Polar”, da Netflix, infelizmente se encaixa na última categoria.
O assassino da vez é Duncan Vizla, interpretado por Mads Mikkelsen (“No Portal da Eternidade”), prestes a se aposentar e convocado para uma última missão, apenas para desvendar que o alvo não é quem ele pensava ser. Nesse ínterim, ele conhece a jovem Camille (Vanessa Hudgens, de “Uma Nova Chance”), e ao reconhecer uma alma traumatizada similar a sua, passa a querer protegê-la. Ele então acaba se encontrando numa situação em que precisa enfrentar assassinos mais jovens e sádicos para ter a paz que almeja.
A direção é de Jonas Åkerlund (“Os Cavaleiros do Apocalipse”), conhecido por seu trabalho com videoclipes musicais. Aqui ele procura trazer essa linguagem para o filme com uma montagem pop e veloz, cheia de letreiros coloridos e estilizados, talvez numa tentativa de trazer um visual que realça cores (também nos figurinos estrambólicos) para fazer jus à HQ homônima em que é baseado. Porém, a identidade visual não condiz com a soturnidade do protagonista. O diretor procura usar do exagero da violência para criar situações cômicas, mas sem um mínimo de desenvolvimento dos personagens para que suas relações sejam relevantes, nada é realmente engraçado.
Mikkelsen é uma das poucas coisas boas de “Polar”: trata-se de um homem frio e reservado, mas que guarda camadas dentro de si. E o ator procura explorá-las, porém o roteiro não dá espaço para que ele realmente tenha o que mostrar além do porte físico. Sua jornada emocional é sombria e ele parece avulso ao filme em que se encontra. Hudgens também faz um ótimo trabalho como a jovem que carrega um grande trauma, mas sua personagem sofre com um texto que só revela o que ela tem a trazer para a trama nos minutos finais, numa patética tentativa de criar um final surpreendente. É tudo tão desconexo que parecem dois longas distintos em termos de estética.
As cenas de luta e ação até funcionam, mas se é para surfar na onda de John Wick, ficam muito aquém do que o próprio Mikkelsen consegue oferecer fisicamente. Sem contar que elas estão basicamente concentradas nos 30 minutos finais, ilustrando mais uma falta de equilíbrio narrativo ao vender um filme de ação que não tem lá tanto disso assim. Além do mais, o trabalho dos jovens assassinos durante todo o resto do longa não parece muito eficiente na relação custo-benefício, o que faz zero sentido quando o chefe deles (Matt Lucas, de “Fútil e Inútil”) coloca a trama em movimento por sua mesquinhez e ganância. O antagonista, aliás, até tem elementos sonoros e visuais interessantes em sua construção, mas que rapidamente se tornam apenas irritantes, resultando num personagem canastríssimo e caricato.
Há poucos momentos em que “Polar” permite aos atores entregarem um pouco mais de profundidade, mas eles caem por terra ao não serem desenvolvidos. Fica apenas aquele gosto amargo de um longa que poderia ter sido bom e divertido, mas morre numa obra chata e tediosa, que quando tenta apelar para a violência e nudez gratuitas para pagar de cool, acaba passando vergonha.