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Notícias   sexta-feira, 14 de setembro de 2018

It: A Coisa 2 | Ritual bizarro e outras situações polêmicas que podem estar na sequência

Violência, homofobia e uma possível cena de orgia envolvendo o Clube dos Perdedores: alguns dos momentos controversos que constam no livro e que o filme, de alguma forma, deve abordar.

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Atenção! Este texto contém pequenos spoilers do livro “It: A Coisa”.

O livro “It: A Coisa” foi publicado originalmente em 1986. Levando-se em conta que essa publicação foi realizada há mais de 30 anos, é possível concluir que, de fato, ela demorou muito tempo para receber sua primeira adaptação às telonas – algo relativamente incomum se considerarmos que se trata de uma obra com forte apelo junto ao grande público.

A história, baseada no livro homônimo do escritor americano Stephen King, só chegou aos cinemas em 2017, quase três décadas após a versão feita para a TV. Por sua vez, “It: Uma Obra-Prima do Medo” (1990) foi uma minissérie em dois capítulos produzida e exibida nos EUA pela rede ABC – mais tarde, tal versão seria condensada em um filme de três horas e disponibilizada para aquisição em VHS, e depois em DVD. Com o enorme sucesso do longa lançado em 2017, sua continuação, “It: A Coisa 2”, entrou rapidamente nos planos da Warner Bros. e, neste momento, encontra-se em fase de produção.

Houve muitas razões pelas quais, ao longo dos anos, a chegada de “It” aos cinemas foi postergada. Entre elas, está o fato de que o romance de King contém em sua narrativa muitos momentos estranhos e controversos, que, uma vez transpostos para um longa-metragem, resultariam – pelos menos para o crivo de boa parte da audiência – em cenas um tanto quanto constrangedoras – ou até mesmo chocantes. Exemplos de possíveis incômodos a que as plateias estariam sujeitas vão desde uma polêmica cena de orgia envolvendo os membros do Clube dos Perdedores – ressalta-se que o referido grupo é formado pelos sete pré-adolescentes protagonistas da história – até a forma bizarra como os seus integrantes derrotam o seu principal oponente: a Coisa. Esta, que na maior parte do tempo está personificada no palhaço Pennywise, é vencida em um ritual nativo-americano, chamado de Ritual de Chüd, em que é preciso morder a língua da criatura e fazê-la rir.

No cinema, ainda que o público de “It: A Coisa” tenha sido preservado de boa parte das esquisitices presentes no livro de King, tudo indica – a julgar pelas recentes declarações do roteirista Gary Dauberman (“A Freira”) – que os espectadores de “It: A Coisa 2” não serão poupados de contemplarem cenas violentas e situações grotescas. Segundo Dauberman, momentos impactantes descritos no livro receberão uma visão cinematográfica e particular. Em entrevista ao portal Cinema Blend, ele falou a respeito, justificando a necessidade de incluir as passagens mais fortes narradas na obra literária; mas também destacou a dificuldade em realizá-las, citando como exemplo o Ritual de Chüd:

“O Ritual de Chüd é um desafio, mas é um componente tão importante para o livro que tivemos que lidar com ele [no filme]. É algo difícil de equilibrar, mas como já trabalhamos uns com os outros antes [se referindo ao diretor Andy Muschietti e à produtora Barbara Muschietti], quando estou escrevendo as páginas [do roteiro], todas essas abordagens se tornam na verdade uma conversa, e menos algo do tipo ‘Ei, aqui está o que eu fiz’. É meio orgânico; algo como remover uma pedra e tentar encontrar um caminho, uma maneira acessível de introduzir alguns aspectos metafísicos do livro.”

Dauberman não entrou exatamente em detalhes sobre a inclusão ou não do Ritual de Chüd em “It: A Coisa 2”; entretanto, ele confirmou ao entrevistador que o filme tentará, de alguma forma, abordar o significado do ato, ainda que apenas simbolicamente. Para quem não leu o livro, o Ritual de Chüd é uma espécie de batalha psíquica de vontades, e é demonstrado pelo autor por meio da descrição de algumas imagens muito estranhas. Em suma, a ideia implica que um dos membros do Clube dos Perdedores estenda a sua língua para fora da boca, assegurando-se, por meio de algum ardil, que Pennywise, o palhaço dançarino, faça o mesmo; depois que a língua da Coisa estiver devidamente mordida, os demais “perdedores” devem contar piadas até que ela ria(!).

O ritual ainda inclui uma viagem ao plano astral, visto que a Coisa não pode ser derrotada por completo estando no mundo físico. Essa seria a única forma de vencer definitivamente a entidade maligna, porque também seria a única maneira capaz de destruí-la nas duas linhas do tempo em que ela atua – uma dessas linhas é a que os membros do Clube dos Perdedores ainda são crianças, e a outra corresponde ao período em que esses já estão na fase adulta. Trata-se de um confronto mais psíquico do que físico. No livro, o ritual não é realizado de maneira literal, mas interpretado por seus executores de maneira figurada: quando as crianças imaginam que podem derrotar a Coisa, efetivamente elas conseguem.

Além das situações polêmicas já citadas, outras histórias emblemáticas do livro – todas elas também de difícil abordagem – estão sendo trabalhadas pela equipe criativa do filme. Um exemplo é a trama envolvendo o personagem Adrian Mellon, um rapaz homossexual que é alvo do preconceito dos habitantes da contemporânea Derry – a cidadezinha fictícia em que Adrian vive com seu companheiro Don Hagarty -, e que termina como vítima da violência e da homofobia existente no local.

Além disso, ainda há a estátua de Paul Bunyon, um gigante de pedra que a certa altura da história ganha vida própria. Dauberman também falou sobre como ele e Muschietti, que trabalharam juntos no primeiro longa, têm tratado as possibilidades de exploração desses contextos nessa segunda parceria da dupla:

“Eu acho que é algo que deu a Andy muito o que pensar, o que foi ótimo, porque eu estava meio que devorando as coisas sobre Adrian Mellon, e mais ou menos do material que está no livro e que vocês simplesmente querem ver na tela. Estou escrevendo sobre isso, enquanto Andy iria pensar a respeito de Chüd e em como ele quer representar visualmente todas essas coisas. Ele acabou de apresentar algo brilhante, um material brilhante… Será incrível.”

Em relação à cena de orgia – em que a personagem Bev tira a virgindade de cada um dos garotos do Clube dos Perdedores -, não existe, até o presente momento, uma perspectiva de aparição desta no filme. Por enquanto, não há nenhum indício de que essa situação seja mostrada, ou de alguma forma referenciada, pois, do ponto de vista de sua recepção perante os fãs do livro, ela foi considerada absurda e desnecessária. Todavia, como os realizadores de “It: A Coisa 2” ainda não fizeram nenhuma menção objetiva quanto à inclusão desse momento em particular no longa, seja confirmando, seja negando, a possibilidade de sua adição ao filme permanece válida, ainda que possivelmente distante.

Na época do lançamento de sua obra, Stephen King explicou que a cena servia como um símbolo de passagem da infância para a fase adulta. No contexto em que ela ocorre, as crianças, depois de terem derrotado a Coisa, encontram-se perdidas nos esgotos de Derry, e a atitude da garota – adotada de acordo com uma percepção subjetiva – visa ajudá-los a encontrarem a saída daquele ambiente sombrio. Segundo a interpretação de Bev, assim como o Clube conseguira derrotar a Coisa por meio de um ritual que unira duas linhas temporais distintas, à semelhança seu gesto também teria o efeito de unir novamente os períodos cronológicos num único momento, pois esse seria um evento que marcaria a transição entre a infância e a fase adulta de todos os “perdedores”.

É possível, mas não certo, que boa parte das cenas aqui descritas não apareçam no corte final do filme, dado o teor contrastante em comparação ao que se espera do longa, visto que, com o sucesso financeiro do primeiro “It”, a sequência tenha que alcançar o equilíbrio de se manter fiel às expectativas dos fãs, assim como angariar ainda mais bilheteria. No entanto, é provável que o material, uma vez pronto, seja, no mínimo, incluso ao conteúdo extra do Blu-Ray.

A história de “It: A Coisa 2” se passará 27 anos após o final do primeiro filme e mostrará a reunião do Clube dos Perdedores, com seus membros já adultos, após a volta de Pennywise a Derry. O cineasta argentino Andy Muschietti (“Mama”) dirige, enquanto Dauberman assina o roteiro.

Além dos atores mirins que estrelaram o primeiro filme – e que aqui retornam em cenas de flashback -, “It: A Coisa 2” terá em seu elenco os seguintes atores que darão vida à versão adulta dos protagonistas: Jessica Chastain (“A Grande Jogada”) como Beverly, James McAvoy (“Fragmentado”) como Bill, Isaiah Mustafa (da série “Shadowhunters”) como Mike Hanlon, Jay Ryan (da série “Beauty & the Beast”) como Ben, Andy Bean (“A Série Divergente: Convergente”) como Stanley, Bill Hader (da série “Barry”) como Richie e James Ransone (“A Entidade 2”) como Eddie. Bill Skarsgard (“Deadpool 2”) retorna como Pennywise. Xavier Dolan (“Tom na Fazenda”) será Adrian Mellon, enquanto Taylor Frey (da série “Gossip Girl”) será Don Hagarty. Jess Weixler (da série “The Son”) como Audra Phillips e Teach Grant (da série “Perigo na Montanha”) como Henry Bowers também compõem o elenco.

“It: A Coisa 2” estreia nos cinemas daqui a pouco menos de um ano. Nos EUA, a data para o lançamento oficial do filme está marcada para 6 de setembro de 2019. No Brasil, a estreia está agendada para um dia antes, em 5 de setembro.

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Fernando Gomes
@rapadura

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