Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 04 de junho de 2009

Mulher Invisível, A

O novo filme de Cláudio Torres traz Selton Mello e Luana Piovani como um inusitado par romântico, mas o longa fica em cima do muro e literalmente não mostra nada de bom.

Toda relação tem seus problemas, mas para Pedro (Selton Mello), um controlador de trafego muito louco (pode-se dizer), o amor por sua esposa é sublime e perfeito, isso até ele tomar um pé nos fundos e vê-la partir com um alemão. Depois disso, o rapaz nunca mais é o mesmo e, mergulhado em uma depressão profunda, começa a escrever seus pensamentos conturbados. Em meio a toda essa tristeza, acaba por criar Amanda (Luana Piovani), a mulher ideal… e também invisível. Pedro pira de vez e começa a dar bandeira pela rua ao andar com uma mulher que não existe.

Com um enredo no mínimo interessante, “A Mulher Invisível” é um filme comercial, apesar de conter alguns palavrões que com certeza sobem a censura. Este caráter enlatado prejudica muito o potencial do filme, pois além de trazer todos aqueles moldes básicos e caretas do cinema brasileiro, seu roteiro é fraco. O ar do filme não chega a ser “Global”, mas parece feito com falta de vontade, como se apenas a ideia original sustentasse tudo e todos, e dentro dessa realidade, os atores nada puderam fazer para ajudar o roteiro que em poucos momentos soa natural em suas vozes.

Veja por exemplo Selton Mello. Ator do momento, chamando atenção por seus variados e quase sempre excelentes filmes, estava completamente perdido em cena. Seu humor espontâneo e diferenciado esbarrava em falas duras e caricatas, nada naturais. Claramente que os melhores momentos do filme são dele, já que afinal é impossível não rir ao vê-lo com a língua de fora simulando um apaixonado beijo no ar. Mas estes momentos de pastelão corretamente não são uma constante e, devido à falta de conteúdo do resto, o humor acaba sendo muito ralo no que devia ser uma comédia mais sisuda em termos de risadas.

Os problemas com o elenco continuam. Vladimir Brichta interpreta Carlos, melhor amigo de Pedro. Com um papel fundamental para a história, Brichta, que não é tão mau ator assim, infelizmente se mostra limitado e revive suas eternas “personas” de novela, uma cópia requentada de tudo que ele já fez e sempre faz, com todos seus cacoetes e trejeitos. Luana Piovani, que não tem muita visibilidade como atriz, fica limitada, obviamente, a ser apenas a gostosa do filme, enquanto Fernanda Torres (irmã do diretor dando uma força ao interpretar a grávida desbocada Lúcia) e Maria Manoella (interpretando a vizinha de Pedro, Vitória) aliviam as cenas com personagens mais estruturadas e dinâmicas, mas sempre presas ao ar plastificado que acompanha o longa até o final… final que por um momento quase surpreende, mas que obviamente acaba da forma mais padronizada que o cinema já inventou. Temos ainda pequenas participações que devem ser lembradas, como de Paulo Betti vivendo Nogueira, chefe de Pedro, e também Lúcio Mauro como o Governador do estado.

A trilha sonora do filme em paralelo traz um grande diferencial, que é o uso de músicas “importadas” de forma bastante destacada, como Ramones e Janis Joplin. A trilha original também é de muito bom gosto e utiliza de lembranças sessentistas vindas de seriados da época, trazendo tons de mistério, magia e humor, elementos muito explorados em “Jeannie é um Gênio”, por exemplo.

O diretor Cláudio Torres, que inventou moda com o ousado e interessante “Redentor”, e parece ser influenciado pelo estilo caricato do ótimo Guel Arraes, caiu em uma mesmice fatal e não mostrou nada de interessante, sendo que ao mesmo tempo a obra tenta ser “cool” em meio à mídia. Torres não utiliza de nenhuma fórmula nova, ângulos diferenciados, cenas prolongadas e bem trabalhadas. É simplório, o que contrasta com a concepção original do filme, que realmente trazia ares inovadores.

Um dos atores mais destacados da atualidade eles já tinham. Faltou mais liberdade criativa? Parece que não, pois o filme traz em alguns momentos um linguajar mais pesado, mas que não deixa de soar forçado, como se quisesse ser notado. O longa não sabe se agrada a direita ou a esquerda e por isso perde. Falta um conceito básico que é a alma do negócio e essa seria a chance de fazer a diferença, mesmo com um roteiro terrivelmente precário.

“A Mulher Invisível” tem seus momentos de humor, mas que são ralos perto daquilo que era esperado. Com uma promessa implícita de ser diferenciado – talvez pela presença de Mello no elenco -, o longa realmente decepciona e isso acaba sendo o mais visível.

Ronaldo D`Arcadia
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