Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 05 de junho de 2009

O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991): um dos maiores clássicos do cinema

Um filme que permanece visualmente atual até hoje, “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final” é uma obra-prima do cinema de ação, que traz toques de filosofia, ficção e até drama para o gênero, de uma maneira única e sem prejuízo da adrenalina.

Nos sete anos que separam o primeiro “O Exterminador do Futuro” desta continuação, que ganha o subtítulo “O Julgamento Final”, o diretor James Cameron se tornou um cineasta mais maduro e as capacidades técnicas para se colocar na tela a história que o diretor/roteirista imaginou o acompanharam. Mesmo atualmente, o filme é completamente irrepreensível do ponto de vista técnico. No entanto, existem ínfimas falhas narrativas as quais serão analisadas posteriormente.

Após um breve prólogo mostrando que a guerra no futuro apocalíptico continua, o filme nos leva um pouco mais de uma década após os eventos do longa original. Sarah Connor (Linda Hamilton) está presa em um hospital psiquiátrico para os criminalmente insanos, diagnosticada como louca após tentar explodir uma fábrica de computadores tentando evitar a ascenção da super máquina Skynet. Seu filho, o futuro salvador da humanidade John Connor (Edward Furlong) está com pais adotivos.

O jovem cresce rebelde, usando os conhecimentos de informática, mecânica e de combate aprendidos em seu tempo com a mãe para pequenos furtos, se sentindo traído após a prisão desta, acreditando também que ela é insana. No entanto, John se depara com um brutal despertar quando um novo modelo de Exterminador, o T-1000 (Robert Patrick), chega do futuro para matá-lo.

Também chegando do século XXI está um novo T-800 (Arnold Schwarzenegger), reprogramado pelo John Connor daquela época para proteger sua versão mais jovem. Após resgatar Sarah do hospital psiquiátrico, esse grupo de renegados terá a missão de levar a cabo as palavras de Kyle Reese e mostrar que realmente “não há destino se não o que fazemos”, impedindo a rebelião das máquinas e o vindouro apocalipse.

Já nesta sinopse já é possível notar que há um escopo maior na trama. Se anteriormente o foco era levar a cabo o destino, aqui o objetivo é alterá-lo, algo consideravelmente mais complicado, possibilitado teoricamente pelo próprio Kyle Reese, que havia afirmado que o seu futuro horrendo era apenas “um futuro possível”. Como roteirista, James Cameron jamais esquece a mitologia criada por ele na fita anterior. Trabalhando ao lado de William Wisher Jr. no script, a dupla se utiliza de pequenos pontos deixados na fita original para contar a história desta produção.

São resgatadas coisas como o fato de que cães poderem detectar os exterminadores, o psicólogo forense Silberman, a foto tirada pelo garotinho hispânico de Sarah (e que será dada no futuro por John para Kyle), a já citada frase proferida pelo Connor do futuro e enviada para sua mãe e, principalmente, a mão esmagada do primeiro T-800. São elementos que podem parecer ínfimos – e por vezes até o são – mas que ajudam a estabelecer a sensação de continuidade, algo importantíssimo para as ambições que o cineasta propõe com esta película.

Ainda há a inserção, mesmo que tímida, de um tema mais complexo. Se, no primeiro filme, a noção que tínhamos das máquinas era de que estas eram criaturas frias e de que aquele futuro horrendo ocorreu por uma decisão de pura lógica e “maligna” da Skynet, há uma menção de que este sistema automatizado de defesa somente declarou guerra contra a humanidade em um ato de auto-preservação, depois que os humanos que a operavam tentaram desligá-la, entrando em pânico após perceberem que a máquina havia adquirido consciência.

A própria relação entre o Exterminador T-800 e John Connor é altamente paternal. O Exterminador chega a dizer que seu sistema foi desenhado para aprender com novas experiências e afirma ainda que sente uma versão própria de “dor”. Buscando entender como funciona as dinâmicas entre os seres humanos, o Exterminador passa a se parecer cada vez mais com eles, mimetizando as reações e os sentimentos destes enquanto protege incansavelmente o pequeno John.

A relação entre o trio T-800/John/Sarah é extremamente valiosa para que o funcionamento do filme. Inicialmente, a dinâmica dominante é entre o Exterminador e seu protegido, com o comportamento de um sendo imprescindível para tornar o outro mais simpático junto ao espectador. Sem o Exterminador, John seria apenas um moleque ridiculamente chato enquanto sem o jovem ao seu lado, T-800 jamais começaria a tentar entender as nuances do comportamento humano, e seria tão simplista quanto seu antecessor.

Daí chega Sarah Connor. Inicialmente Sarah parece bastante fria, sem em nada lembrar a adolescente tão humana que havia aparecido no primeiro filme. No entanto, aos poucos, percebemos quanta humanidade há nela, que acaba por extravasar em um dos momentos mais fortes do filme. Psicologicamente maltratada por ser uma Cassandra moderna, fadada a ver um amanhã terrível sem ninguém acreditar nisso, é o amor por John que faz com que vejamos novamente a centelha de humanidade floresça nela.

Tais características, no entanto, jamais transpareceriam para o espectador não fosse a ótima química entre Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton e Edward Furlong. O primeiro, já mais experiente como ator, se faz valer até de suas fraquezas dramáticas para interpretar seus personagens. Parece mesmo que Schwarzenegger estava realmente aprendendo a agir como humano no decorrer do filme. Sem contar que ele aqui está no auge de sua forma como herói de ação. Poucos homens conseguem ser tão brutos enquanto dirigem uma motocicleta e atiram com uma escopeta ao mesmo tempo.

Linda Hamilton, por sua vez, mostra muito bem a complexidade de Sarah Connor, dividida entre a dureza militar que teve de encarnar para sobreviver ao que virá e a ternura de seus sentimentos por John, com destaque para suas cenas no hospital psiquiátrico e para aquela que se passa na residência dos Dyson, na qual a atriz está absolutamente fantástica, se mostrando dividida entre sua missão e o que considera moralmente correto.

Edward Furlong, por sua vez, é pura energia, contagiando o público como o rebelde Connor. Suas interações com Schwarzenegger, que, conforme já dito anteriormente, limam o efeito “menino-prodígio” do jovem personagem, já valem o filme, sendo cômicas e dramáticas na medida correta. Pena que o ator não teve uma das carreiras mais brilhantes após este longa, pois se mostrava um jovem bastante promissor.

Já o vilão T-1000 de Robert Patrick não chega a ser tão marcante quanto o T-800 no longa original. No entanto, o modo como Patrick “corre” em sua forma humana atrás de suas presas consegue ser tão neutro que chega realmente a assustar. Sem contar que, como se trata de um infiltrador mais avançado, sua interação com humanos é mais “naturalmente forçada”, chegando ao ponto de provocar arrepios.

No entanto, para contar uma história maior, Cameron não se furta em ampliar o foco de sua câmera. Se na fita anterior víamos o predomínio de cenas noturnas e escuras, com uma quase ausência de cenas mais ambiciosas em ambientes mais iluminados, o diretor já engata uma incrível perseguição automobilística em plena luz do dia, envolvendo uma moto e um caminhão (em nova referência a “Transformers”). Aliás, o longa todo tem um visual mais “claro”, uma boa opção do cinematógrafo Adam Greenberg.

É extremamente difícil escolher a cena de ação mais eletrizante neste filme. Desde a já citada perseguição automobilística, passando por uma sequência envolvendo um helicóptero, o tenso resgate de Sarah Connor… Enfim, James Cameron realmente fez o que quis nesta película contando, mais uma vez, com o auxílio do já falecido mago da maquiagem e das criaturas Stan Winston. No entanto, Winston não foi a única arma de Cameron, que recrutou a Industrial Light & Magic para criar os fabulosos efeitos de metal líquido para o T-1000, criando perfeitamente o maleável, cromado e implacável perseguidor deste longa.

Mesmo se utilizando da computação gráfica para como parte do novo vilão, o diretor jamais se furta de se utilizar efeitos práticos e explosões reais nas cenas de ação do longa, ressaltando-se ainda o espetacular trabalho da equipe de dublês da fita, altamente competentes. A trilha sonora de Brad Fiedel, que havia sido um dos pontos fracos do primeiro episódio, finalmente encontra o tom certo. Em sua parte musical, o longa ainda conta com breves som do bom e velho rock, representados por “Bad to The Bone” de George Thorogood and The Destroyers e “You Could Be Mine” da banda Guns N’ Roses, que chega até a ser referenciada no filme em uma sequência de ação que conta com… armas e rosas!

Na montagem do longa há um pequeno problema, já que o filme começa à toda velocidade e acelerando quando, de repente, há uma diminuição brusca no ritmo da fita, para depois voltar ao passo anterior. Neste momento mais “calmo”, acaba havendo uma quebra no crescendo do filme que chega a incomodar, mas não chega a comprometer. Há ainda dois pequenos furos de roteiro já durante o clímax do filme, mas já era tarde. Mesmo imperfeito, a fita já havia se tornado tão marcante que meros deslizes não a diminuiriam tanto assim.

A mensagem da secretária eletrônica de Sarah Connor, lá no primeiro filme, dizia que “as máquinas também precisam de amor”. Este “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final” provou que ela estava certa, já que foi esse sentimento que levou a mitologia a um novo patamar. No entanto, o filme jamais esqueceu que ninguém vive somente de amor, misturando-o com uma dose cavalar de ação, resultando em uma das melhores ficções científicas já produzidas e em um dos maiores clássicos cinematográficos dos anos 1990, sendo atual até hoje. Recomendado.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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