Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003): uma excelente aventura

Filme veio como um produto spinoff (derivado) de um brinquedo do parque de diversões da Disney. Por se tratar de um filme com o selo da Disney (conhecida por seus filmes mais voltados para o público infantil), muitas pessoas não tiveram fé. E, para surpresa, chegou aos cinemas um filme que marcaria muito a história do gênero de aventura e de se fazer filme com este selo.

Em 29 de agosto de 2003, chegava aos cinemas uma inesperada produção, dirigida por um indivíduo que menos de um antes tinha feito sucesso com “O Chamado”, versão americana de um terror japonês. A descrença era grande. O filme haveria de ser lançado no período de férias americanas, e a Disney já vinha enfrentando vários problemas financeiros (que ainda continuam). Então, se os parques estão em parte vazios, se as produções de animações estão enfraquecendo com a entrada de novas produtoras, por que não unir o útil ao agradável? E assim surgiu “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”.

Criado originalmente para ser apenas um filme para divulgação de um dos brinquedos mais populares do parque, Piratas iria se basear no brinquedo, mas não necessariamente na história contada por ele. Para não correr o risco de um fracasso na bilheteria, juntaram-se ao elenco nomes de peso como Johnny Depp e Geoffrey Rush. Aproveitando-se também do marketing que havia sobre “O Senhor dos Anéis”, contrataram Orlando Bloom para o filme.

A história gira em torno de um navio, o Pérola Negra, que carrega uma tripulação sob a maldição de um ouro asteca, que a deixou morta-viva, mas que só a luz do luar mostra sua verdadeira identidade. Para quebrar o encanto, os integrantes da tripulação precisam devolver todo o ouro asteca que gastaram. Então somos apresentados aos personagens de Elizabeth Swann (que possui o último medalhão de ouro) e Will Turner, que é resgatado quando criança e passa a viver na cidade governada pelo pai de Elizabeth. Também no começo do filme somos apresentados ao Capitão Jack Sparrow (um dos melhores personagens de Johnny Depp). Em um incidente, o ouro atrai a presença dos piratas amaldiçoados que seqüestram Elizabeth. Claro, os laços se estreitam quando se descobre que Sparrow era capitão do Pérola Negra e que fora destituído do posto pelo atual capitão, Barbossa. Então Will e Jack partem em uma busca para resgatar, o primeiro a sua amada, e o segundo o seu navio.

Filmes de piratas há muito haviam deixado de ser um mercado interessante para Hollywood, e esse era o maior receio da Disney, que investiu cerca de 140 milhões de dólares no filme. Resultado? 305 milhões, 413 mil e 918 dólares somente nos Estados Unidos em 189 dias de exibição, fora a bilheteria mundial de 348 milhões e 500 mil dólares que engordaram a Disney e a fizeram repensar seu modo de ver o filme. Logo, o longa se transformou em uma franquia que ainda teria mais dois episódios, a serem gravados um em seqüência ao outro, claro, que com um orçamento bem mais gordo. Além disso, a Disney fechou o brinquedo que inspirou o filme e mudou a história do brinquedo para uma forma de continuação após o filme, e que voltaria a ser reaberto na estréia do segundo longa nos cinemas, em 2006.

A direção do filme é impecável e Gore Verbinsky se mostrou um diretor contido, com verdadeiro domínio sobre o que quer que seja revelado em tela, e o momento certo da revelação, bem como maestria sobre os efeitos especiais, que são simplesmente espetaculares. Na atuação, para a felicidade de muitos, Johnny Depp esteve impecável, sendo uma das suas melhores atuações em todos os seus filmes, um personagem que acabou se tornando memorável para muitos. Do mesmo modo, Geoffrey Rush, que sempre se deu bem com personagens mais expansivos que desafiam mais as suas atuações (como em “Contos Proibidos de Marquês de Sade”). O resto do elenco, infelizmente, se manteve muito reprimido e amarrado a estereótipos, como o mocinho que resolve enfrentar a tudo e a todos para salvar sua amada, ou a menina donzela que precisa ser resgatada.

O roteiro, mesmo com frases de efeitos, consegue encaixá-las no contexto geral, não as tornando descartáveis, muito pelo contrário, as tornam necessárias e parte integrante de todo o projeto, não desmerecendo ou diminuindo o nível do filme. Infelizmente o longa acaba se tornando um pouquinho extenso, podendo ter tido algumas cenas cortadas, mas, mesmo assim, e apenas para alguns, o filme pode até cansar em seus 143 minutos de duração.

A trilha sonora de Klaus Badelt se encaixa perfeita, respirando o espírito aventureiro e clássico de filmes ou seriados que tratavam sobre piratas ou caça ao tesouro, sem nenhum momento deixar de se tornar um pouco além do que a música é realmente para o filme.

Em suma, uma verdadeira surpresa para aqueles que adoram uma boa aventura, um bom filme de entretenimento, e um passaporte obrigatório para quem quiser assistir ao segundo longa.

Leonardo Heffer
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