O resultado da "garimpada" na locadora dessa semana foi um filme que eu já tinha assistido, mas sempre tive vontade de rever, uma belíssima película sobre sonhos e adversidades que temos que enfrentar por eles.
"Billy Elliot" é, sem sombra de dúvida, muito mais que apenas um filme bonito. Tudo é magistralmente sincronizado. Da ambientação e contextualização da época em que se passa a história até a trama, propriamente dita, que teria tudo pra se tornar um clichê, mas escapa desse destino devido à habilidade do diretor, Stephen Daldry, um especialista em transformar emoções em imagens.
O filme se passa em uma pequena cidade Inglesa na década de 80. Órfão de mãe, filho e irmão de mineiros, Billy é um garoto teoricamente fadado ao destino dos outros homens de sua família, trabalhar nas minas de carvão e viver uma vida considerada convencional.
O que ocorre, no entanto, é algo muito diferente. Billy se interessa pelo balé e descobre na dança uma paixão, pela qual está disposto a lutar. O conflito do filme, a paritr daí, vem, exatamente, do choque ideológico. Se hoje, ainda há preconceito quanto a certos tipos de atividade, um menino dançar balé, no contexto de Billy, era algo impensável. Principalmente por viver numa pequena sociedade tradicionalista e numa família patriarcal e machista.
Contudo, a paixão do menino pela dança é tão intensa que consegue até mesmo transpor a barreira do preconceito do pai e irmão, que posteriormente passam a apoiar Billy na jornada de se tornar um grande bailarino.
Um dos grandes trunfos do diretor durante todo o filme está justamente em fazer o direcionamento perfeito quanto à sexualidade do protagonista. Billy, apesar de se identificar com a dança, não provoca em nenhum momento dúvidas quando à sua orientação sexual, Enquanto tem um amigo, homossexual assumido, sem nenhuma inclinação para o balé
Como pano de fundo pra essa magnífica história, está uma bem montada contextualização histórica que mostra a difícil situação trabalhista da Inglaterra naquela época, com baixos salários e forte repressão aos grevistas. O irmão de Billy, inclusive, se mostra um ativista entre os trabalhadores das minas.
Em linhas gerais pode-se dizer que o filme foi um encontro perfeito e adequado de diretor e elenco. Stephen Daldry, como mostrou também em "As Horas", prova que é mestre na arte de materializar os sentimentos dos personagens e Jamie Bell, intérprete de Billy Elliot, mostra imenso talento e maturidade nesse trabalho. Destaque também para a excelente trilha sonora e para as maravilhosas seqüências de dança do protagonista.