Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Scarface (1983): obra de arte da dupla Al Pacino e Brian De Palma

Al Pacino em um dos melhores papéis de sua carreira. Um filme polêmico sobre o submundo do tráfico de cocaína em Miami.

Não é à toa que Al Pacino já foi O Poderoso Chefão. Esse é o tipo de papel em que ele melhor lhe encaixa, seja um chefão da máfia ou um chefão do tráfico de drogas. Apesar de não ser tão respeitado quanto Michael Corleone, o cubano emigrado aos EUA, Tony Montana, é cruel e ao mesmo tempo fiel. Quando o assunto diz respeito aos seus inimigos, ele é impiedoso, mas mostra um coração bom quando diz respeito à sua família. Como sempre muito durão em suas atuações, o papel de Scarface caiu como uma luva para Al Pacino. Muitos consideram o melhor papel de sua carreira, outros simplesmente o vêem como mais uma prova de sua incrível capacidade de incorporar o papel de forma magnífica.

Tony Montana é um criminoso cubano exilado (Al Pacino) que vai para Miami e em pouco tempo está trabalhando para um chefão das drogas. Sua ascensão na quadrilha é meteórica, mas quando ele começa a sentir interesse na amante do chefe (Michelle Pfeiffer) este manda matá-lo. No entanto ele escapa do atentado, mata o mandante do crime, fica com a amante dele – mas simultaneamente sente ciúmes e até mesmo desejos incestuosos por sua irmã (Mary Elizabeth Mastrantonio) – e assume o controle da quadrilha. Em pouco tempo ele ganha mais dinheiro do que jamais sonhou. No entanto ele está na mira dos agentes federais, que o pegam quando ele está “trocando” dinheiro. Mas seu problema pode ser resolvido se ele fizer um “serviço” em Nova York para um grande traficante e pessoas influentes, que podem manipular o poder para ajudá-lo. Porém, a missão toma um rumo inesperado quando, para concretizá-la, ele precisa matar crianças.

Em um dos primeiros papéis de sua carreira, quiçá o primeiro em um filme mais sério, a atriz Michelle Pfeifer faz um papel secundário, mas de extrema importância para o enredo. É por ela que Tony Montana se sente atraído e ela é responsável pelas situações mais impensáveis para o personagem de Al Pacino, pois ela é a única que bate de frente com o mesmo. Com seu poder de sedução, ela molda Tony ao seu melhor estilo, e ele nem mesmo percebe.

Destaque também para a interpretação de Mary Elizabeth Mastrantonio como Gina, a irmã caçula de Tony. Um toque singelo em sua personalidade que de repente sofre uma incrível transformação com uma pequena ajuda financeira de Tony. Quando o mesmo percebe a estupidez que seu dinheiro causou à sua irmã mais querida, Tony parte para a ignorância mostrando o lado ciumento que Pacino trabalha muito bem.

O filme possui uma fotografia de primeira, mostrando toda a beleza das praias de Miami e a famosa avenida à beira-mar com seus pequenos hotéis e bares que chamam atenção por sua iluminação chamativa à noite. É em um desses pequenos hotéis que acontece uma das cenas mais importantes do filme, responsável pelo pontapé na ascenção de Tony no mundo do tráfico.

Um roteiro bem trabalhado, muito bem dividido em épocas e regiões, consegue mostrar com facilidade a evolução de Tony após sua entrada nos EUA. A sua sagacidade, frieza e poder de persuasão consegue conquistar os mais perigosos contrabandistas, o levando ao status de homem calculista. O roteiro tem como ponto forte mostrar os lados mais distantes dentro da mente de Tony. Tanto seu lado temperamental como sua fraqueza pelas mulheres; tanto a paixão por elvira, persoangem de Michelle Pfeifer, quanto ao ciúme por sua irmã Gina, vivida por Mary Elizabeth Mastrantonio.

Um filme longo, mas excelente. Se você se deixar levar pela trama, o tempo passa e você nem percebe. Quando chega o ápice da história, você tem a sensação de que faz parte da vida de Tony e conhece todos os detalhes de sua personalidade e de sua vida. Al Pacino em ótima atuação com uma fenomenal direção de Brian De Palma.

Bruno Sales
@rmontanare

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