Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 14 de outubro de 2013

É o Fim (2013): uma insana brincadeira de jovens astros da comédia

Seth Rogen reúne sua turma do humor, dirige-os, inclui-se na algazarra e realiza um dos trabalhos mais hilários do ano.

É o FimEm 2008, Ben Stiller, Jack Black e Robert Downey Jr., entre outros nomes do humor americano, decidiram brincar de fazer cinema. Em “Trovão Tropical”, nada podia nem devia ser levado a sério. Apesar da proposta, o resultado funcionou bem demais, resultando até em uma indicação ao Oscar a Downey Jr. Cinco anos depois, é a vez da nata mais jovem das comédias de Hollywood lançar sua versão despojada da algazarra. Em “É o Fim”, Seth Rogen, James Franco, Jonah Hill e companhia lapidam a ideia ao mesmo tempo em que a bagunçam, dando origem a um guilty pleasure tão insano quanto hilário.

Interpretando a si mesmos (pelo menos no quesito “nome”), Seth Rogen e Jay Baruchel protagonizam esta história como dois grandes amigos de infância. A vinda de Jay a Los Angeles é rara e Seth decide levá-lo para a festa de inauguração da nova mansão de James Franco. Lá eles encontram o anfitrião, além de Craig Robinson, Jonah Hill e mais uma turma de grandes nomes da música e do cinema dos EUA. Mas tudo muda quando luzes misteriosas surgem do céu e terremotos partem o solo, levando alguns de seus colegas de festa ao desespero e outros à morte.

É com essa total falta de noção da realidade que o roteiro e a direção de Seth Rogen e Evan Goldberg constroem a trama. Ter astros interpretando a si mesmo e abrindo espaço para ironizar boatos e críticas que surgem a todo momento na mídia contra eles já dá ideia do nível de seriedade desta história. Mas esse é apenas o início do filme, quando a piada mais pesada é ressaltar a falta de talento de Rogen como ator ou a “constatação” de que os jovens astros de Hollywood realmente usam drogas. A partir de então, começa a loucura.

Palco: casa de James Franco, aquele mesmo que estrelou “General Hospital” por anos, foi mocinho e vilão na franquia “Homem Aranha” e ganhou indicação ao Oscar por “127 Horas”. É lá que Michael Cera e Johan Hill viram exatos opostos, invertidos das posições que ocuparam em “Superbad – É Hoje”. É lá que Rihanna e Emma Watson se divertem como nunca, com direito a palmadas na bunda. E é lá que tem acontece o pequeno filme de terror que estrelam a partir de então, obviamente intercalado com uma infinidade de piadas sobre si mesmos e sobre outros tantos famosos.

Poucos escapam do texto afiado de Rogen e Goldberg. E certamente essas não são Paris Hilton nem Lindsay Lohan. Mas quando o humor cessa (pelo menos por alguns segundos), temos também um ótimo suspense, proporcionado por uma direção que sabe como manter a tensão sempre em alta e dar sustos no público. A falta de limites (que está bem além do escatológico) ainda torna possível que tudo vire motivo pra riso em seu final. E à medida que o filme caminha, ele nos impressiona e surpreende tanto positiva quanto negativamente, arriscando sem qualquer medo, sem respeitar qualquer padrão dramático da indústria de que fazem parte.

Os melhores momentos de “É o Fim”, porém, estão nos diálogos. Por eles perpassam os mais diversos assuntos, os mais infrutíferos que você é capaz de pensar. As melhores frases saem da boca de Danny McBride, o fornecedor de drogas de “Segurando as Pontas”, que faz as vezes de rejeitado, rebelde e vingativo da turma. É dele e de James Franco que sai um papo no mínimo desconcertante sobre masturbação, dentre outros super “inspirados” do longa. Jonah Hill também diverte com seu estilo certinho, bem como a participação especial de Michael Cera, interrompida abrupta e acertadamente.

Por outro lado, a química entre Seth Rogen e Jay Baruchel não funciona. Mas eles compensam com um invejável tempo cômico, especialmente pelos gritinhos do segundo. Baruchel, por sinal, também fez parte da turma de “Trovão Tropical” e aqui acrescenta mais um sucesso bizarro à carreira. Desta vez, porém, ele compõe uma trupe diferente, menos talentosa quando o assunto é atuar, mas com incrível capacidade de fazer rir (risos que são dobrados nos 10 minutos finais), presenteando o público com a melhor comédia do ano…até agora.

Darlano Didimo
@rapadura

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