Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 29 de outubro de 2011

O Retorno de Johnny English: Rowan Atkinson é o único atrativo

O comediante conquistou a simpatia e a admiração dos brasileiros com seu impagável Mr. Bean. Apesar de considerar o ator inglês um dos gênios modernos da comédia, isso não é suficiente para manter o novo longa de Johnny English de pé.

Em 2003, foi lançado “Johnny English”, longa no qual Rowan Atkinson interpretava o agente secreto britânico do título e dividia a cena com John Malkovich, que viva o vilão daquela trama. Era um filme que, se não era exatamente brilhante, divertia, até por conta da química entre o atrapalhado mocinho e seu excêntrico inimigo. Nesta sequência, comandada por Oliver Parker, perde-se Malkovich enquanto Atkinson faz o que pode para segurar o filme, o que não é fácil.

Após cinco anos afastado do MI7 por conta de uma falha de proporções épicas, English é chamado de volta do mosteiro budista onde estava treinando para assegurar que uma crucial reunião entre o primeiro ministro britânico e o premiê chinês transcorra sem incidentes. O agente de sua majestade acaba trombando com uma conspiração envolvendo assassinos internacionais e uma arma infalível, que ameaçam jogar o mundo no mais completo caos.

Muito da força do humor vem da imprevisibilidade das situações que ocorrem no transcorrer da história que está sendo contada. Infelizmente, os roteiristas da fita parecem desconhecer esse princípio. O espectador pode adivinhar tudo o que vai acontecer no filme com cinco minutos de projeção, até porque a produção parece copiar certas cenas de outras sátiras da franquia “007”.

Dentre tais pontos, posso citar a introdução do agente vivido pelo fraquíssimo Dominic West que é idêntica a do personagem de Dwayne Johnson em “Agente 86”, além da gag do herói atacando a pessoa errada, muito usada em “Austin Powers – Um Espião Nada Discreto” que aqui é repetida diversas vezes, indiscriminadamente.

Não que o filme não tenha boas sacadas. A cena da perseguição à la le parkour brinca de maneira hilária com a sequência similar de “007 – Cassino Royale” e a gag da cadeira funciona muito bem. No entanto, a produção não possui coesão alguma, geralmente dependendo de maneira excessiva dos maneirismos da Atkinson para arrancar uma risada do espectador. Algumas piadas, como a que lida com excesso de product placements no cinema, não causam o devido impacto por não terem o peso ideal.

Nisso, o ritmo da projeção acaba prejudicado, principalmente com um segundo ato bastante inconstante e uma conclusão sem muita graça. O elenco coadjuvante não tem muito a fazer. Gillian Anderson, a Dana Scully de “Arquivo X”, aparece desperdiçada em cena, não tendo nenhum momento para brilhar como a chefa do MI7, Pegasus.

A bela Rosamund Pike, que já foi uma Bond Girl na era Pierce Brosnan, apenas contrasta em beleza em relação ao seu par romântico. Na ala masculina, o parceiro de Johnny English, Tucker, vivido por Daniel Kaluuya, só aparece para que sua inexperiência seja ressaltada várias vezes (com uma mudança clara no final) e o já citado Dominic West nem como canastrão funciona aqui.

Lamento o desperdício de Rowan Atkinson com um roteiro tão pobre. Também é incrível notar como algumas gags, que poderiam não ter graça nenhuma (como a da preparação para o chute no saco), são salvas pelo carisma do eterno Mr. Bean. O grande problema é que ninguém no elenco consegue acompanhar o ator, transformando Johnny English no único ponto focal do filme inteiro, não demorando para a piada perder a graça.

Famoso por seu vício em carros velozes, certamente Atkinson pôde comprar mais alguns automóveis para a sua coleção com o cachê que ganhou por esse trabalho. Pena que esse cachê não veio por sua participação em um filme melhor.

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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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