Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de abril de 2011

A Bela e a Fera (1991): um clássico que não envelhece com o tempo

Clássico da Disney permanece tão empolgante e romântico quanto antes.

O mundo da animação mudou nos anos 2000. A Pixar estabeleceu um novo padrão de qualidade ao qual, até agora, ninguém se igualou. É um cinema inteligente, original, divertido, mas que também não esquece de ser clássico, característica mais evidente em obras como “Ratatouille”, “Procurando Nemo” e “Wall-E”. Antes da fundação do estúdio, porém, a palavra “clássico” possuía um significado diferente quando relacionada a animações. A conexão era imediata com os filmes da Disney, os famosos contos de fada de amores impossíveis, humor comedido, explícitas lições de moral e inevitáveis finais felizes. Se alguns desses longas acabaram sendo vencidos pelo tempo, outros permanecem tão ou mais magníficos do que antes. Um deles é “A Bela e a Fera“.

O clássico de 1991 não perdeu sua vitalidade que o levou a ser a primeira película do gênero indicada ao Oscar de Melhor Filme. Continua visualmente estupendo e narrativamente uma obra-prima, ao unir diversos elementos comuns aos contos de fada com outros, em menor escala, bem modernos, mais especificamente exemplificados por meio de sua protagonista. Bela é uma garota à frente de seu tempo, insatisfeita com a vida que leva, mas, ainda assim, feliz. Ela quer deixar o campo e partir para a cidade; e quer ler quantos livros forem possíveis. Diferente das princesas Disney, a personagem principal preza por uma independência que a deixa mais carismática do que suas colegas de estúdio.

O traço da personalidade de Bela parece irrelevante, mas dá à trama uma leveza agradável, nem mesmo interrompida durante os primeiros encontros com a Fera. Ela enfrenta seus desafios, sem precisar da ajuda de ninguém para superá-los. Não dá a mínima para Gaston, o forte, mas arrogante rapaz que deseja casar-se com ela a qualquer custo. O roteiro, nascido da colaboração entre nada menos do que onze pessoas, inspirado no conto de Jeanne-Marie Le Prince de Beaumont, dá à heroína a chance de escrever seu próprio destino sem que grandes impossibilidades sem ponham a sua frente, tornando possível que viva um amor mais do que inusitado. E que amor!

A Bela e a Fera” é, acima de tudo, um romance dos mais inspirados, colocando lado a lado a graciosidade e a brutalidade, e fazendo com que os dois opostos nem pareçam tão divergentes assim. Se a caricatura acomete a Fera em suas primeiras aparições, a sutil direção de Gary Trousdale e Kirk Wise faz com que o contato com a moça trate de amansar seu coração, mostrando que há sentimentos por trás de tantos pêlos e enormes garras. As mensagens do filme contra o preconceito e sobre questões de aparência são inevitáveis, mas releva-se o didatismo exagerado quando se está diante da história de amor mais bem contada por personagens animados. O auge dela? A famosa cena em que os dois dançam ao som da premiada canção de Alan Menken e Howard Ashman “Beauty and the Beast”, no salão do castelo. Simplesmente estupenda!

O longa, aliás, traz inúmeras sequências musicais de alta qualidade que têm funções narrativas primordiais. Se a primeira delas já revela a personalidade da protagonista, assim como apresenta-nos a vila habitada por ela e outros moradores, uma outra torna o antes obscuro castelo em uma festa, amenizando o tom pesado que já se instalava com a indesejada chegada de Bela, do qual a película sabe, com louvor, como fugir. Gaston também tem o seu próprio número para gabar-se e fazer do vilão alguém maleficamente bizarro. A sequência adicional “Humano Outra Vez”, introduzida posteriormente à versão original do filme, conserta o erro de dar pouco espaço aos coadjuvantes, como os divertidos Lumière e Horloge.

Temos também Madame Samovar e seu filho Zip, o “velho louco” Maurice e o atrapalhado LeFou compondo o universo mágico, romântico e musical que é “A Bela e a Fera”. A versão brasileira, com uma dublagem magnífica (com destaque para as traduções das canções), não prejudica o resultado final da animação, mantendo-a especial. É, enfim, daqueles filmes que são vistos quando criança, mas que ainda exercem um fascínio sobre nós, mesmo crescidos. Era assim com a Disney décadas atrás. Infelizmente não é mais. Resta revisitar seus clássicos e valorizar o que o ainda mais famoso estúdio de cinema do mundo fazia com maestria. “A Bela e a Fera” talvez seja um das melhores opções para isso.

Darlano Didimo
@rapadura

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