Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor e Outras Drogas

Mesmo perdendo o equilíbrio entre o drama e a comédia, o filme se destaca pela ótima química toda vez que Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway se encontram.

Se existe um gênero cinematográfico que não necessita de muitas inovações é a comédia romântica. Mudam-se os cenários, os contextos, a trilha sonora, o rosto dos atores, mas a essência é sempre a mesma: rapaz conhece garota, ambos se apaixonam, um deles mete os pés pelas mãos e depois tem que provar seu amor para reatar a paixão. A fórmula é essa e, raramente, alguém arrisca mudar a cartilha.

Como as histórias, no fundo, são sempre as mesmas, o que diferencia uma comédia romântica da outra é a química e o charme dos protagonistas. Nesse sentido, “Amor e Outras Drogas” não poderia ter se saído melhor. De um lado, temos um Jake Gyllenhall no auge de sua beleza e exalando charme como um rapaz cheio de lábia para os negócios e que não hesita em passar uma cantada em uma mulher.

Do outro, Anne Hathaway faz uma garota independente, meio maluquinha e dona de um par de seios de parar o quarteirão.

Ambos se esbarram e a atração é mútua. O relacionamento começa baseado apenas em sexo, mas, como manda o figurino, logo os dois estarão apaixonados um pelo outro. O que seria um diferencial é que, aqui, a história é contada a partir do ponto de vista do rapaz. É Jamie (Gyllenhall) que primeiro assume seu amor por Maggie (Hathaway) e é ela que fica reticente em transformar uma relação casual em algo mais sério. O motivo do pé atrás da garota, talvez, seja o grande calcanhar de Aquiles do filme: Maggie sofre de uma doença degenerativa.

Quando Anne e Jake estão juntos na tela grande, “Amor e Outras Drogas” se destaca da multidão e ganha um ar sofisticado graças à química perfeita entre os dois atores. Os diálogos são inspirados, o ritmo flui e narrativa foca no que o filme tem de melhor a oferecer: o casal. Mas o que começa como uma ótima comédia romântica ganha ares de drama em razão da doença de Maggie e da possibilidade de Jamie deixá-la para poder realizar seus sonhos.

A mistura entre comédia e drama até poderia funcionar, mas quando a doença de Maggie vira o centro da trama, “Amor e Outras Drogas” perde força, ritmo e vira mais um filme qualquer sobre a doença da semana. A química entre os dois atores permanece a mesma, mas a mudança de tom não faz bem ao longa, que vira um genérico de produções como “Outono em Nova York” ou “Doce Novembro”.

Mas nem tudo está perdido. Ainda assim, este é um filme que deixa marcas. Chega a ser surpreendente como um diretor geralmente “épico” como Edward Zwick (“Templos de Glória”, “Lendas da Paixão”, “O Último Samurai” e “Um Ato de Liberdade”, todos filmes grandiosos) tenha conseguido fazer um tão eficiente em sua modesta proposta. Zwick deixa de lado seu perfil de diretor mais exagerado e aposta mesmo nos atores e na história.

Acerta em cheio no humor inteligente e nos personagens coadjuvantes que funcionam de forma correta (o irmão de Jamie é hilário e até mesmo Oliver Platt fazendo o mesmo papel de sempre não incomoda). Nem mesmo a suposta crítica à indústria farmacêutica atrapalha (Jamie vende amostras de remédios para médicos, entre eles a recém descoberta pílula do Viagra – a trama se passa no final dos anos 1990).

Outro ponto a favor do longa é sua abordagem totalmente aberta sobre sexo. Os personagens não têm pudores e isso fica claro nos diálogos e na postura dos mesmos. A bunda de Jake Gyllenhaal e os seios de Hathaway são quase personagens do filme, e as cenas de sexo entre os dois podem não ser chocantes, mas são filmadas de modo bem honesto. O sexo é, inclusive, a força motriz da produção, mais até do que o tal amor do título.

Mais do que a mistura desequilibrada entre comédia e drama, talvez esse olhar liberal sobre o sexo tenha sido o grande responsável pelo fracasso injusto de público e crítica da produção nos Estados Unidos. “Amor e Outras Drogas” pode não revolucionar a roda e tem suas falhas, mas é bem acima da média quando comparado às comédias românticas estreladas pela Jennifer Aniston ou Katherine Heigl, por exemplo. Se a química perfeita entre Gyllenhaal e Hathaway é pouco para você, então, definitivamente, fuja de comédias românticas.

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Fábio Freire escreve para o CCR desde 2010. É jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com pesquisa sobre a relação entre música pop e cinema. Já passou dos 30, mas ainda assim entende mais sobre cinema, música e seriados do que entende sobre gente.

Fábio Freire
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