Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 06 de agosto de 2010

Meu Malvado Favorito (2010): apenas agrada, não mais que isso

Trazendo valores família, o longa cumpre seu papel de divertir, mas não vai muito longe.

Ser o maior vilão do mundo sempre foi o sonho de Gru (Steve Carrel). Ele já realizou algumas façanhas, mas nenhuma que alavancasse sua carreira no mundo do crime. Após descobrir que o mal feitor Vetor (Jason Segel) roubou as Pirâmides do Egito, ele se vê obrigado a agir e bola o um plano mirabolante: Adquirir uma arma encolhedora e roubar a lua, entrando assim para o hall da fama do mal. A tarefa seria ingrata senão fosse a inusitada ajuda da qual necessitaria: a de três pequenas órfãs. Este relacionamento, primeiramente baseado apenas em interesses malignos, revelaria então que no peito de Gru bate um coração.

“Meu Malvado Favorito” é uma boa diversão, apesar de muitas inconsistências no roteiro que se baseiam em mudanças drásticas demais, pouco enfáticas e justificadas. Mas todo o universo criado para o longa realmente respira essa falta de senso, e por vezes essas discrepâncias atuam também como um ponto positivo, como o fato de Vetor pintar a pirâmide roubada com as cores do céu, deixando com que fique exposta bem atrás de sua casa.

O interessante da obra é o trabalho psicológico que aborda. Apesar das coisas acontecerem rápido demais, a mensagem do filme é muito positiva e explora fortemente o relacionamento entre pais e filhos. Gru desde muito pequeno sempre quis surpreender sua mãe com suas invenções mirabolantes, mas nunca recebeu a atenção necessária, pelo contrário, sempre foi destratado e desmotivado. Por ser desmerecido a vida toda pela pessoa que ama, Gru só poderia virar um vilão mesmo, ou seja algo ruim e pouco construtivo, e o pior é que ele gosta disso e quer ser o melhor, pois já que não conseguiu ser bom só lhe restou o mal.

Do outro lado temos as órfãs Agnes, Edith e Margô, crianças adoráveis que teriam tudo para serem tristes e desiludidas. Mas mesmo com os maus tratos da sem caráter Miss Hattie (Kristen Wiig), as crianças são adoráveis e lindas. Fica a cargo delas desmanchar o coração de pedra de Gru, que as adotou pensando apenas em seu plano maligno. Apesar de muito interessante e bonita a mensagem, ela não é trabalhada de forma satisfatória, diferente da Pixar (impossível não comparar) que esmiúça de forma primorosa seus dramas. No geral tudo perde espaço para o plano maquiavélico do vilão.

Toda a força do filme está principalmente no visual e no humor pastelão. Todo esquisito, Gru é uma caricatura viva, que só de olhar já provoca risos, levando tiros de canhões então fica melhor ainda. Junto a ele temos o hilário (e bem surdo) Dr. Nefário (Russell Brand), braço direito de Gru e responsável pela parte técnica das operações. Seus assistentes, os minions, são o melhor do longa e levam a quinta potência o fator pastelão. Falando poucas palavras, quase sempre sem muito nexo com o que estão fazendo, esses pequenos seres amarelinhos, que mais parecem M&Ms, roubam a cena e protagonizam alguns dos momentos mais engraçados.

Com uma trilha sonora cool, o filme ganha muito, seja no tema do vilão, com um rap que traz toda a suposta malandragem do personagem ao se vangloriar de como é desprezível (Despicable Me), ou também com icônica “Sweet Home Alabama” do grupo setentista Lynyrd Skynyrd. Esta música serve de tema para uma família americana de caipiras que visita as pirâmides e tira fotos como se uma delas estivesse em seus ombros. Humor de estereótipos feito com inteligência.

“Meu Malvado Favorito” apenas agrada, não mais que isso. Teria dado tudo para assistir à versão legendada do filme, pois é uma tarefa difícil substituir Steve Carrel e Jason Segel. Esta missão quase impossível ficou a cargo de Leandro Hassum e Marcius Melhem, dupla dinâmica, tipo o gordo e o magro, que apresenta o programa “Os Caras de Pau” aos domingos na Rede Globo. Melhen se sai bem e consegue por vezes desaparecer por trás de seu Vetor, mas Hassum não agrada nem um pouco como o personagem principal. Realmente uma pena, pois minha nota final foi fortemente afetada por isso. Já todo o elenco de apoio foi substituído por dubladores profissionais, com um resultado positivo. Final razoavelmente feliz para este malvado de meia tigela.

Ronaldo D`Arcadia
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