Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de março de 2010

Homens Que Encaravam Cabras

O que é mais maluco do que um bando de soldados americanos sendo treinados dançando ao som de “Dancing With Myself” do Billy Idol?

“Os Homens que Encaravam Cabras” é inusitado por natureza. Desde seu título, até sua história – que logo no início já nos avisa conter mais verdades do que possamos imaginar –, o filme tira sarro do “coeso” exército americano com um humor nonsense implacável.

Tudo começa com Bob Wilton, um jornalista que se encontra desiludido após ter levado um cano de sua amada. Procurando algo de valor para sua vida e sua carreira, até então comum, o jovem decide partir para o Oriente Médio para cobrir os conflitos que eclodiam por lá. É então que conhece Lyn Cassady, sujeito muito estranho do qual já havia ouvido falar. Ele supostamente era um dos membros mais destacáveis de um treinamento secreto do governo americano chamado Exército da Nova Terra, que condicionava seus homens a serem “espiões psíquicos”, que podiam, com suas mentes, parar o coração de alguns animais apenas encarando os pobres bichos, como as cabras em questão.

O jornalista, seguindo algumas provas (aspas de novo) “irrefutáveis” da necessidade de acompanhar o indivíduo Cassady pelo deserto, parte em uma jornada para sabe-se lá onde, se envolvendo então em sérios problemas. No entanto, Wilton se mostra uma peça fundamental para este grupo de desmiolados que lutam para restabelecer a origem de sua filosofia: a paz, pois matar os pobres animais era errado, muito errado.

O filme é dirigido pelo cineasta Grant Heslov que, além de sócio da produtora Smoke House (juntamente com George Clooney), tem também em seu currículo diversos papéis como coadjuvante, alguns deles em produções bem duvidosas, como ”O Escorpião Rei”. Além da trilha sonora ideal, Heslov encontrou uma linguagem interessante para realizar sua obra. Com um roteiro que não se leva a sério e que serve mais para contar no passado a origem de toda essa epopeia, do que nos levar a algum lugar no presente, a trama se segura no humor da absurda loucura americana com suas guerras mal explicadas e, principalmente, mal conduzidas, podendo gerar coisas inexplicáveis como homens que encaram cabras e as matam.

Outro razão da força do longa é seu elenco de primeira, que conta com grandes nomes do cinemão. Começando por Jeff Bridges, que interpreta o fundador do movimento secreto Bill Django. Como sempre, o ator encontra o tom certo para esse soldado hippie que tem sua epifania – envolvendo mentes que podem produzir paz- após ser baleado no Vietnã, quando um esquadrão todo se recusa a atirar em um vietcongue solitário empunhando sua arma. Este ato inconsciente foi um sinal para o soldado, que após anos de laboratório (e muitas drogas), voltou para liderar seus guerreiros Jedis, como eles mesmos se auto-intitulavam.

Já  Ewan McGregor (Jedi Obi-Wan de carteira assinada) interpreta o molenga Bob Wilton. Usando de sua cara de bom moço e um humor de qualidade, o ator escocês segura as pontas como um dos protagonistas. Como vilão do filme temos Kevin Spacey na pele do inteligente, mas pouco liberal Larry Hooper. Fazendo de tudo para atrapalhar os planos utópicos do Exercito da Nova Terra, o soldado usa de artifícios cruéis e hilários (ressaltando a velha frase: “Seria cômico senão fosse trágico”).

Mas com certeza o destaque é de George Clooney como o “Skywalker” Lyn Cassady. Toda a seriedade do ator traz um ar pitoresco para seu personagem, além dos cabelos cumpridos do passado e do bigode do presente. Remetendo de uma forma paralela, mas não distante, seu personagem Everett do filme “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?” dos irmãos Coen, Clooney se mostra perfeito para comédias que flertam com o pastelão. Entre os coadjuvantes, destaque para o sempre maldito Robert Patrick (eterno T-1000) e para Stephen Lang, vilão recente do sucesso de bilheterias “Avatar”, que aqui faz o bobalhão Brigadeiro-General Dean Hopgood.

“Os Homens que Encaravam Cabras” traz um humor diferenciado que nos conta como o exército americano não consegue aproveitar boas ideias, por mais absurdas que elas possam parecer. Sem muitas pretensões, o filme explora temas como a guerra do Iraque de forma menos contundente do que esperava, mas diverte com sua história maluca. A obra como um todo talvez não fique na lembrança de muitos, mas cenas onde homens atravessam paredes ao som de “More Than A Feeling” do Boston, com certeza entrará na mente dos Jedis que existem por ai.

Ronaldo D`Arcadia
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