Os Anéis de Poder | Coordenador de VFX antecipa novas criaturas na Terra-média: “a lista é bem longa” [ENTREVISTA]
Segunda temporada estreia em 29 de agosto no Prime Video.
(Divulgação/Prime Video)
Falar de efeitos especiais atualmente é polêmica na certa. Com estúdios cada vez mais ocupados com filmes de super-heróis e grandes franquias, parte do público vem sentindo uma diferença imensa na qualidade dos efeitos atuais com os de algumas décadas atrás, por exemplo. Não na Terra-média. Aspectos técnicos geralmente estão entre os principais destaques de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder“, que entra agora em sua segunda temporada.
A convite do Prime Video, o Cinema Com Rapadura conversou com Jason Smith, o coordenador de efeitos visuais (VFX) da segunda temporada. Smith é um “cara das criaturas” autodeclarado, e a nova temporada tem diversos novos seres fazendo sua estreia na série, e até um que não esteve nos filmes de Peter Jackson, mas que finalmente aparece em “Os Anéis de Poder”.
Leia abaixo a entrevista completa:
Vamos começar falando sobre algumas das criaturas da segunda temporada. Temos Damrod, o primeiro troll da série. As Águias estão chegando. Os Barrow-wights estão estreando. E, de novo, o Balrog em Khazad-dûm. Destes, qual foi o mais divertido de trabalhar de uma perspectiva de efeitos especiais? E qual foi o mais complicado?
Olha, eu diria que, geralmente em efeitos visuais, para mim, os que são mais divertidos também são os mais complicados. É sempre assim. Mas devo dizer que talvez o mais legal, por causa da maneira como eu costumo trabalhar, sejam realmente os Barrow-wights. Porque esse foi um dos que pudemos desenvolver em uma colaboração com nossos gurus da maquiagem, Barry e Sarah Gower, que administram um estúdio de maquiagem inteiro, e pudemos basicamente conceber o nosso design e a caracterização com efeitos visuais, nossa visão do que essas criaturas poderiam ser. Barry nos enviou de volta designs de como as próteses poderiam ser no rosto e nas mãos. Aí enviávamos de volta esboços com base nos desenhos dele… Houve tanta troca que acho que nós dois realmente gostamos dessa parte do processo.
E então pudemos filmar atores fazendo a maioria da ação que precisávamos que essas criaturas fizessem. Aí entram os efeitos visuais. Nós substituíamos partes dos personagens, até mesmo partes significativas dos personagens, para que pudéssemos torná-los esqueléticos e ver através deles e coisas do tipo, e até mesmo ajustando detalhes sobre as silhuetas aqui e ali. É simplesmente a maneira ideal de trabalhar. Eu adoro começar com algo prático porque isso te coloca na realidade, especialmente quando você está lidando com algo tão fantasioso quanto os Barrow-wights. E eu amo o resultado final.
Algo interessante sobre os Barrow-wights é que eles são uma das poucas criaturas que nunca vimos em live-action em “O Senhor dos Anéis”, apesar de estarem nos livros. Então, para vocês, como foi o processo de criação? Quão difícil isso tornou o processo?
Eu amei, mas foi muito difícil. Nós voltamos para J.R.R. Tolkien. Esse é o primeiro passo. Ao ler o que Tolkien escreve sobre os Barrow-wights, que aparecem apenas no livro “A Sociedade do Anel”, notamos que o enredo do livro se passa muito tempo depois da nossa história. Então, na nossa história, temos o mesmo tipo de criatura, mas muito, muito antes e não necessariamente os mesmos indivíduos. Mas nós tentamos nos basear no que foi descrito lá.
Tolkien é muito específico sobre certas coisas, como os olhos azuis são muito penetrantes, os olhos azuis brilhantes, e ele é muito claro também sobre essas serem criaturas físicas e concretas. São cadáveres animados, basicamente, e esses cadáveres animados não eram necessariamente pessoas ruins. Eles podem ter sido pessoas realmente boas ou alguns cidadãos realmente honrados que foram afetados por essa maldição e reanimados e forçados a fazer o que fazem. Então saber que eles eram seres concretos realmente os diferenciou, para mim, do Exército dos Mortos de “O Retorno do Rei”, por exemplo. Nós sabíamos que queríamos seguir um caminho totalmente diferente disso e não fazer apenas uma pessoa que brilha. Mantivemos os olhos brilhantes, claro, mas nos guiamos pelo fato de eles serem coisas físicas, que estão realmente ali.
Então tivemos que quebrar algumas regras para deixá-los assustadoras, porque é assustador quando algo se comporta de uma maneira que realmente não esperamos. Não necessariamente correndo em nossa direção com um machado o mais rápido que pode, porque isso é apenas uma cena de super-herói e não assusta tanto assim. Mas, se algo está flutuando na minha direção, mesmo que seja muito lento e constante, há um horror causado pela ideia de ficar preso. Nós começamos a perceber que nossas opções estão ficando cada vez mais limitadas e estamos cada vez mais encurralados. Então foi muito divertido poder trazer algo para o live-action que ainda não tinha sido visto nos filmes.
Trabalhar com efeitos visuais e digitais hoje em dia é um processo que envolve muita cooperação com estúdios ao redor do mundo. Com quantos estúdios diferentes vocês trabalharam e como foi coordenar esse processo todo?
Temos a melhor equipe de produção do universo, foi uma quantidade enorme de trabalho, e a série não acontece a menos que esse trabalho seja bem feito. Diria que tínhamos entre dez e doze estúdios ao redor do mundo, e, se contarmos cada estúdio que esteve envolvido na produção, são bem mais de mil e quinhentos artistas, sem contar a equipe de produção. Todos artistas trabalhando ao máximo.
É uma quantidade enorme de trabalho de gerenciamento e produção para manter tudo organizado. Só para dar uma ideia, vamos pensar que nossa série tenha entre seis e oito mil cenas que vão entrar na versão final. Imagine essa quantidade: entre seis mil e oito mil quadros. São três ou quatro filmes de super heróis de grande porte. Agora, imagine um dia em que eu chego no trabalho e reviso cada cena por um minuto. Eu posso revisar sessenta cenas por hora. Em um dia de dez horas, eu posso revisar seiscentas tomadas. Então, vendo uma tomada por minuto em um dia dia todo, eu só consigo revisar dez por cento das tomadas e dar feedback em um minuto. Não é muito tempo para realmente ir fundo e resolver problemas. Então, você pode imaginar a equipe ao meu redor, a equipe de produção, é como uma máquina bem lubrificada. Realmente é. É incrível ver o que os artistas fazem para colocar esse material na minha frente para que, a cada minuto, eu tenha uma nova tomada para avaliar. E, claro, isso é em média. Você sabe, algumas tomadas são mais fáceis de olhar, dez segundos. E algumas tomadas levam uma hora inteira para descobrir o que fazer para que aquilo na cena pareça real.
Mas eu sou realmente sortudo por ter tido a equipe de produção que eu tinha. Sem isso, é realmente um desastre. Acho que isso é algo que mais pessoas precisam entender sobre efeitos visuais, e pessoas que queiram trabalhar no ramo de efeitos visuais devem considerar isso como uma carreira porque realmente é preciso um certo tipo de pessoa para nos manter organizados. E quando é feito corretamente, isso afeta o resultado final. Realmente faz o resultado final parecer melhor quando somos bem produzidos e administrados.
Quando falamos sobre “O Senhor dos Anéis” e efeitos visuais em geral, geralmente as pessoas pensam na Weta Workshop, mas você veio da Industrial Light and Magic (ILM). Como um cara de uma galáxia muito, muito distante foi parar na Terra-média?
Eu me sinto incrivelmente sortudo que as coisas tenham acontecido dessa forma para mim. Na primeira temporada, nós trabalhamos com a Weta, e algumas pessoas incríveis de lá se juntaram a nós depois de trabalhar na trilogia de Peter Jackson também. Então há muita camaradagem e apoio da Weta nisso.
Mas acho que foi simplesmente porque eu tinha feito um projeto com um dos produtores antes desse aqui. Quando este começou, ele sabia que eu era um cara que gosta de trabalhar com criaturas, e eu realmente vivo e respiro criaturas. E quando este projeto aqui aparece, ele pensou em mim e me pediu para ter uma conversa com ele e os showrunners. Quando fiz isso, eu realmente me apaixonei. Nos demos muito bem, com um amor compartilhado por efeitos práticos, que queríamos manter com maquiagem prostética sempre que pudéssemos, e usar efeitos visuais quando precisássemos, e, então, fazer isso direito, e termos tempo para fazer isso direito, também. Com base nesse tipo de abordagem compartilhada e o fato de que eu tive a sorte de ter trabalhado com uma dessas pessoas em outra série antes, acho que foi isso que me colocou aqui. Apenas uma espécie de amor compartilhado por como trabalhar, acho. Eu tenho muita sorte. Esse é uma espécie de projeto dos sonhos em um nível…
Minha carreira já foi muito abençoada por poder trabalhar em franquias que eu amo e trabalhar em grandes filmes para os quais eu quero contribuir com criaturas. Mas este é a cereja do bolo. Se você começar a listar as criaturas que vão aparecer nesta temporada, é uma lista enorme e é simplesmente uma coisa emocionante ter podido trabalhar nisso.
Então teremos alguma surpresa em termos de criaturas nessa segunda temporada?
Com certeza, porque a lista é bem longa. Mas acho que algumas coisas estão por aí. Acho que já saiu que teremos Ents dessa vez. E esse também é um tipo de criatura muito querida para mim. Estou ansioso para que vocês vejam.
Uma surpresa é a nossa abordagem. Nós realmente tentamos adotar uma abordagem única. Eu poderia falar sobre os Ents por horas. Mas há muita profundidade aí para cada personagem, é algo que tentamos deixar claro, e algo que quero que transpareça em cada criatura que estou abordo com a equipe. Antes de mais nada, nos certificamos que cada criatura fosse atribuída com carinho a uma empresa. Então não é só o conceito da criatura que vai para uma empresa, mas nós realmente pensamos em quem vai fazer cada uma e dar a cada empresa algo que eles realmente possam desenvolver com amor porque cada criatura merece isso.
A partir daí, nos certificamos de que essas criaturas tenham suas próprias histórias, que haja um personagem por trás delas e que elas não sejam apenas um carimbo de borracha “Ent” ou “Troll”, sabe? Mal posso esperar para vocês verem tudo. Estou realmente ansioso.
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A segunda temporada de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” estreia em 29 de agosto no Prime Video.
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