Netflix troca de CEO, aumenta número de assinantes e vai bloquear o compartilhamento de senhas – entenda
Mudanças foram anunciadas em reunião para acionistas na última quinta-feira (19).
(Imagens: divulgação/Netflix, Getty Images)
Uma nova Netflix vem aí? Em reunião para acionistas na última quinta-feira (19), a gigante do streaming anunciou uma série de mudanças e atualizações em seu quadro. Entre elas, a saída do CEO Reed Hastings após 25 anos, o aumento de mais de 7 milhões de assinantes no fim de 2022 e uma data para iniciar o bloqueio de compartilhamento de senhas.
Troca de comando
A saída de Reed Hastings pode ter pego a indústria de surpresa, mas, segundo ele, era algo previsto. O executivo é um dos co-fundadores da Netflix, e atuou como CEO da empresa durante 25 anos, levando-a ao patamar gigantesco em que está hoje.
A troca de liderança, contudo, não é surpresa para a administração interna da Netflix. Hastings vinha atuando como co-CEO da empresa junto a Ted Sarandos desde junho de 2020, e revelou que sua sucessão vinha sendo trabalhada há mais de dois anos. Agora, Sarandos será co-CEO junto a Greg Peters, enquanto Hastings seguirá como membro do conselho executivo da empresa.
“Ted e Greg são agora co-CEOs. Depois de 15 anos juntos, temos uma ótima relação e estou muito confiante em sua liderança. Duas vezes o coração, o dobro da capacidade de agradar os membros e acelerar o crescimento. Orgulho de servir como presidente executivo por muitos anos.”
Além disso, a Netflix nomeou Bela Bajaria, ex-chefe de TV global, para o cargo de diretora de conteúdo, enquanto Scott Stuber, chefe de filmes global, tem o novo cargo de presidente da Netflix Film.
Aumento de assinaturas
A Netflix também divulgou seus dados relativos ao quarto trimestre de 2022, período que coincide com o lançamento de sua modalidade de assinatura mais barata e com anúncios, além da estreia da série “Wandinha“, um dos grandes sucessos da plataforma no ano. A empresa somou 7.66 milhões de novos assinantes, superando com folgas a estimativa inicial de 4.5 milhões (via Variety).
Em carta aos acionistas, a liderança atribui o aumento à consolidação de seu modelo de produção de conteúdo original:
“Agora que estamos há uma década em nossa iniciativa de programação original e a escalamos com sucesso, passamos da fase de maior fluxo de caixa dessa construção. Como resultado, acreditamos que agora estaremos gerando um fluxo de caixa livre anual positivo e sustentado daqui para frente. Supondo que não haja oscilações materiais (flutuações de moeda estrangeira), esperamos pelo menos US$ 3 bilhões de fluxo de caixa para todo o ano de 2023.”
Após um começo turbulento, 2022 encerrou em uma nota positiva para a Netflix. No terceiro trimestre, a empresa já havia somado 2.41 milhões de novos assinantes após perdas significativas no início do ano, chegando a recomendar os investidores a não esperarem “aumentos materiais” no número de assinantes. Diz o comunicado:
“2022 foi um ano difícil, com um início acidentado, mas um final mais brilhante. Acreditamos que temos um caminho claro para reacelerar nosso crescimento de receita: continuar a melhorar todos os aspectos da Netflix, lançar o compartilhamento pago e desenvolver nossa oferta de anúncios. Como sempre, nossas estrelas do norte continuam agradando nossos membros e construindo uma lucratividade ainda maior ao longo do tempo.”
Fim do compartilhamento de senhas
Talvez o assunto mais polêmico em relação ao futuro da Netflix, a empresa anunciou que vai intensificar as medidas de combate a essa prática nos próximos meses, pretendendo instaurar mecanismos de controle nos EUA ainda no primeiro trimestre, provavelmente até o fim de março (via Forbes).
Novamente em comunicado aos acionistas, a gigante do streaming explicou a medida:
“O compartilhamento generalizado de contas de hoje (mais de 100 milhões de domicílios) prejudica nossa capacidade de longo prazo de investir e melhorar a Netflix, bem como de desenvolver nossos negócios. Embora nossos termos de uso limitem o uso da Netflix a um domicílio, reconhecemos que essa é uma mudança para membros que compartilham suas contas de forma mais ampla. À medida que lançamos o compartilhamento pago, os membros em muitos países também terão a opção de pagar mais se quiserem compartilhar o Netflix com pessoas com quem não moram.”
A empresa vinha buscando formas de combater o compartilhamento de senhas desde meados de 2022, quando enfrentava um período de crise e queda brusca no número de assinantes. Assim, o fim do compartilhamento poderia representar uma forma de compensar as perdas financeiras. Em dezembro, a notícia foi confirmada, e agora novos detalhes começam a aparecer.
A Netflix admite que, observando a experiência na América Latina (o bloqueio já está em vigor em Chile, Costa Rica, Peru, Argentina, República Domnicana, El Salvador, Guatemala e Honduras), cada mercado terá “alguma reação de cancelamento”, o que afetará o crescimento de assinantes no curto prazo. Ainda assim, a liderança está otimista:
“Mas, à medida que as famílias que costumavam compartilhar começarem a ativar suas próprias contas autônomas e contas de membros extras são adicionadas, esperamos ver uma receita geral melhorada, que é nossa meta com todas as mudanças de planos e preços.”
Os termos de serviço da plataforma afirmam há muito tempo que a pessoa que paga pela conta deve manter o controle dos dispositivos que a utilizam e não compartilhar senhas, mas a empresa nunca aplicou a regra com rigor. Traçar uma linha clara sobre quem deve ter permissão para compartilhar senhas provou ser complicado, principalmente dado que cada usuário tem seu próprio contexto pessoal de vida. Este ano, as páginas de ajuda ao cliente foram atualizadas com a mensagem de que as contas devem ser compartilhadas apenas por pessoas que moram juntas. A empresa disse que aplicaria suas regras com base em endereços IP, IDs de dispositivos e atividade da conta.
A função “Casas da Netflix” vai fixar a assinatura em um local físico onde é possível usar o serviço em qualquer aparelho. Para utilizar o serviço em outros locais físicos, seria necessário pagar uma taxa extra. Nos testes feitos, o streaming permitiu que os usuários acessem o serviço em seu laptop, smartphone ou tablet enquanto estiver viajando, mas só será possível usar a plataforma numa televisão fora de sua casa por duas semanas sem pagar a taxa. Esse período grátis só será válido para um local cada ano. Depois, a televisão será bloqueada a não ser que o usuário pague.
Em outros testes a Netflix está usando códigos de validação. Esta pode não ser a versão definitiva, contudo, dado que a empresa continua tateando para encontrar uma estratégia definitiva para aumentar seu número de assinantes.
Na Costa Rica, Peru e Chile, onde testes estão rolando, usuários que compartilham a senha tem que pagar uma taxa pelo usuário extra. O preço é algo em torno de 15 reais.
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