Roma | Associações europeias de cinema criticam prêmios do Oscar dados ao filme
Representantes afirmaram que dar o prêmio da Academia a um filme feito para serviço de streaming é uma "desvalorização do cinema".
>De acordo com o The Hollywood Reporter, associações de cinema da Europa criticaram a decisão da Academia de premiar “Roma”, filme do diretor Alfonso Cuarón para a Netflix, na última cerimônia do Oscar, transmitida no dia 24 de fevereiro.
Durante a temporada de premiações, críticas não faltaram à Netflix por ter lançado o longa nos cinemas só para que pudesse concorrer às principais premiações. Agora, após “Roma” receber três estatuetas – Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia -, o descontentamento continuou.
O THR relata que o presidente da CICAE (Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Experimentais), Detlef Rossmann, afirmou que “dar três prêmios a ‘Roma’ é uma desvalorização do Oscar”. A entidade acredita que a cerimônia da Academia seja “só mais um derivado do Emmy“, valorizando “produções para televisão”.
Francois Ayme, presidente da AFCAE (Associação Francesa dos Cinemas de Arte e Experimentais), acredita que a vitória de “Green Book: O Guia” como Melhor Filme foi “positiva para mostrar que ‘Roma’ não é bem um filme, porque não teve lançamento oficial nos cinemas”. Ayme também criticou a campanha da Netflix para promover o longa, que chegou a fechar salas de cinema para exibições exclusivas e investiu milhões na campanha.
A França tem demonstrado oposição ferrenha à participação da Netflix em festivais, concorrendo com filmes lançados diretamente na plataforma de streaming. Em 2018, o Festival de Cannes conseguiu proibir longas que não estreassem nos cinemas de concorrer aos prêmios oficiais.
Na Itália, a ANICA (Associação Nacional da Indústria do Cinema Audiovisual Multimídia) também se posicionou a favor do “boicote” à “Roma” enquanto Melhor Filme do ano. “A vitória de ‘Green Book’ indiretamente reafirma o poder que uma sala de cinema tem, mesmo quando a cadeia de valor está se tornando cada vez mais integrada”, disse Francesco Rutelli, presidente do órgão. A Alemanha também concorda, dizendo que “a Netflix não se importa com ‘Roma’, ela só quer usar o Oscar para se promover. Mas dinheiro não compra tudo”, segundo Christian Brauer, chefe da associação de cinemas do país, a AG Kino.
Tim Richards, CEO da Vue International, empresa de cinemas que opera no Reino Unido, quer que o assunto continue sendo debatido: “A Netflix não deve subestimar o valor e o impacto um lançamento em circuito aberto tem para o conteúdo que possui, e esperamos que eles estejam abertos para discutir com os expositores como alcançar um público mais amplo no futuro”.
O único a enxergar algo positivo na participação do serviço de streaming no Oscar foi Jason Chae, CEO da Mirovision, distribuidora independente da Coréia do Sul. “A Netflix permite que filmes menores e mais experimentais alcancem públicos maiores em mais territórios”, disse. “Eu mesmo fiquei feliz em encontrar um filme que eu perdi no Festival de Sundance para estar disponível na plataforma. Os padrões de consumo estão mudando e é hora do setor também acompanhar”.
‘Roma’ é baseado nas memórias de infância do diretor Alfonso Cuarón. O longa narra um ano turbulento na vida de uma família de classe média na Cidade do México, na década de 70. A trama segue a jovem trabalhadora doméstica Cleo (Yalitza Aparicio) e sua colega de trabalho, Adela (Nancy García García), que trabalham para uma pequena família em um bairro chamado Roma. Ao tentar construir um novo sentido de amor e solidariedade em um contexto de hierarquia social, Cleo e sua patroa, Sofia (Marina de Tavira, de “Cómplices“), lutam silenciosamente contra as mudanças na casa da família em um país que enfrenta uma milícia apoiada pelo governo.
O filme está disponível no catálogo da Netflix desde 14 de dezembro de 2018.
