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Notícias   quarta-feira, 03 de janeiro de 2018

Meryl Streep e Tom Hanks falam sobre empoderamento e o caso Harvey Weinstein

Em entrevista ao New York Times, os astros comentaram sobre política, desigualdade de gêneros e assédios em Hollywood.

Meryl Streep e Tom Hanks falam sobre empoderamento e o caso Harvey Weinstein>

Em entrevista ao jornal The New York Times publicada nesta quarta-feira (3), os lendários atores Tom Hanks e Meryl Streep falaram sobre seu novo filme, “The Post: A Guerra Secreta” e como ele se tornou uma obra pertinente nos dias atuais. Os motivos para isso, argumentam ambos, está relacionado tanto às polêmicas diretrizes da Casa Branca atualmente, quanto aos  casos de abuso sexual que vêm assolando os grandes executivos de Hollywood.

No longa, Streep interpreta a jornalista Katharine Graham, responsável pela decisão de publicar os documentos sem o aval inicial das instituições governamentais americanas, enquanto Hanks vive o editor do Washington Post Ben Bradlee. Para os dois, no entanto, o filme faz muito mais do que o relato de uma decisão jornalística e de fatos políticos, traçando um paralelo inegável com a sociedade atual, principalmente da relação das pessoas com o governo, além de homens e mulheres no ambiente de trabalho.

Para Streep, se Graham e Bradlee estivessem em papéis contrários, a situação não seria bem recebida e a jornalista ficaria marcada. Ela argumenta que provavelmente Graham seria demitida, dado que já naquela época a tolerância era muito maior para o comportamento masculino em relação ao feminino:

“Imagine só se fosse o contrário, e eu fosse a editora do Washington Post e você meu redator. Se eu dissesse para você “tire seu dedo do meu olho”, […] eu teria sido demitida. E é a isso que eu me refiro quando falo do desequilíbrio da tolerância com o comportamento masculino em relação ao feminino. As mulheres precisam se erguer para poder ter esse tipo de atitude”.

A atriz foi muito criticada à época da descoberta dos escândalos de abuso sexual envolvendo seu então amigo e colaborador Harvey Weinstein. Por não ter se pronunciado de imediato sobre o assunto, foram criadas e espalhadas por Los Angeles, alguma imagens que traziam sua foto com os dizeres “she knew” (“ela sabia”). Seu relato é de que estes incidentes a levaram a fazer uma profunda reflexão sobre o assunto, dada a quantidade de pessoas envolvidas com as quais ela costumava trabalhar:

“Eu realmente tive que sentar e refletir sobre isso, pois ressaltou demais a sensação de que eu tinha a menor noção do que realmente acontecia, e do quão profundamente mau e duas-caras ele (Weinstein) era, enquanto era também um grande produtor. Você faz filmes, mas não sabe tudo sobre as pessoas. […] Não acho que eu seja a pessoa que deve se pronunciar sobre o caso. Eu quero ouvir a respeito do silencio de Melania Trump (primeira-dama dos Estados Unidos), e de Ivanka (filha do presidente Donald Trump). Elas têm coisas valiosas a acrescentar, gostaria de ouvi-las”.

Tom Hanks comparou o momento atual a um “acerto de contas”:

“Eu fui perguntado se sabia desse tipo de comportamento predatório, e eu disse ‘bom, é fácil dizer que não. Eu não tenho noção de muita coisa em relação a isso, mas eu seria um trouxa se dissesse que isso nunca aconteceu em nenhum projeto no qual estive envolvido, pois não estou em todos os escritórios’. Quatro dias depois do caso de Weinstein vir à tona, alguém escreveu ‘quem disse que é tarde demais para aprender a se comportar?’. Acho que não há como não ver isso como um acerto de contas que fará de nós uma sociedade melhor”.

Para ele, além da questão do assédio, há ainda muito mais no que “The Post” se assemelha aos dias atuais. Ele argumenta que é possível comparar a tentativa do presidente Nixon de proibir a publicação dos Pentagon Papers com a atual postura da Casa Branca, que tenta desacreditar notícias que apresentam fatos ou dados contrários aos divulgados pelo governo, chamando-as de “fake news” (“notícias falsas”). Para ele, enquanto a atitude de Nixon na década de 1970 feria a Primeira Emenda da Constituição americana, que versa sobre liberdade de imprensa, o que a atual administração faz é “como uma guerrilha” contra a mesma instituição.

The Post: A Guerra Secreta” é dirigido por Steven Spielberg e fala sobre a história da publicação dos chamados “Pentagon Papers” (“papéis do Pentágono”, em tradução livre), uma série de documentos altamente sigilosos que tratavam da expansão do esforço de guerra norte-americano na região, em um período que deveria ser marcado justamente pela diminuição do mesmo. O presidente Richard Nixon havia conseguido proibir a divulgação dos documentos pelo New York Times, mas pouco depois eles foram divulgados de forma independente pelo periódico Washington Post.

O filme tem estreia prevista no Brasil para o dia 1 de fevereiro.

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Julio Bardini
@juliob09

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