Em seu segundo dia de atividades, a 23ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, apresentou ao público os primeiros filmes da Mostra Homenagem a Maria de Medeiros. Foram exibidos os filmes, “Aventuras do Homem Invisível” (curta) e o documentário “Repare Bem”, ambos dirigidos pela artista. Em seguida, ocorreu debate com Medeiros e a protagonista do filme, Denise Crispim.

Cena de “Repare Bem”

A atriz, cineasta e cantora portuguesa é um dos artistas homenageados nesta edição do Cine Ceará. Na noite de sábado (7), em Fortaleza, Medeiros recebeu o Troféu Eusélio Oliveira pela carreira e abriu com um show o festival cearense. A retrospectiva segue até quinta-feira, (12) e conta ainda com as produções “Henry & June”, “O Contador de Histórias”, “Capitães de Abril” e “Viagem a Portugal”. A mostra acontece às 14h30, no Centro Cultural Dragão do Mar (sala 1).

Maria de Medeiros na abertura do
Cine Ceara 2013 – (Foto: Rogerio Resende)

Durante o debate promovido para a plateia, Medeiros explicou todo o processo de produção de seu documentário. “Repare bem” conta a história de três gerações de mulheres perseguidas políticas, a partir dos relatos de Denise Crispim e Eduarda Leite, mãe e filha, a obra enfoca a vida de Eduarda, que cresceu sem conhecer seu país de origem e sem nunca ter visto seu pai, Eduardo Collen Leite, o “Bacuri”, morto pela ditadura após 109 dias de tortura. Eduarda só conseguiu inserir o nome do pai em sua certidão de nascimento em 2009 por determinação da Comissão de Anistia.

A diretora revelou que “Repare Bem” dá continuidade ao tema da violência promovida por regimes ditatoriais existente em outra obra sua, o longa “Capitães de Abril”.

“Vinha estudando histórias da ditadura brasileira e ter contato com a Comissão de Anistia permitiu ter acesso a essa história tão triste, mas tão bela e importante. Estou muito feliz por poder mostrar o filme e estar ao lado de Denise Crispim”.

Denise foi mulher de Eduardo Collen Leite, o guerrilheiro de extrema-esquerda conhecido por Bacuri, torturado e morto brutalmente pelos militares em 1970. Ela conta em detalhes como se conheceram, a gravidez inesperada, a perseguição e a fuga para o exílio com a filha Eduarda, que hoje vive na Holanda. O documentário venceu recentemente o Kikito de Melhor Filme Estrangeiro, Prêmio Don Quixote e Prêmio da Crítica do Festival de Gramado.

“Maria é de uma generosidade tremenda. É um ser humano especial. É por essa razão que eu me senti a vontade para realizar os relatos que estão no filme”, destaca Denise.

Maria de Medeiros nasceu em Lisboa. Desde jovem ligou-se ao teatro e desse meio surge a artista de muitas qualidades. Seu trabalho tornou-se mundialmente conhecido por conta de  personagens como “Anaïs Nin” em “Henry and June” de Phil Kaufman e “Fabienne” em “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino.

Em entrevista, a atriz revela ser uma “honra” toda a homenagem recebida pelo Cine Ceará. Atualmente, a artista está na produção de um trabalho voltado para o teatro. Nomeada pela Unesco em 2007 como “Artista pela Paz”, Maria descreve como é complicado para ela escolher qual obra em sua carreira seria a mais importante:

“Ah, é muito difícil precisar uma espécie de top 10 em meus trabalhos. Sempre temos muito carinho por nossas realizações mais próximas. Mas, acredito que os filmes reunidos nessa mostra estão sim entre os trabalhos que mais tenho carinho”.

Saiba Mais: Cine Ceará 2013