Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Amor e polêmicas permeiam a produção nacional “Do Começo ao Fim”

Entrevistas com o diretor e parte do elenco.

A história de “Do Começo ao Fim” já estava na cabeça do diretor Aluízio Abranches há muito tempo. Era de seu interesse tratar de dois temas polêmicos – incesto e homossexualidade – por um outro viés, um pouco mais natural. Para isso, o choro e dor seriam personagens secundários e, acima de tudo, o protagonista de seu filme seria o amor.

Neste contexto, vemos Thomas e Francisco, dois meio-irmãos (ambos filhos de Julieta, papel de Júlia Lemmertz) que, desde a infância (quando são vividos por Gabriel Kaufmann e Lucas Cotrim), demonstram imensa afinidade. Tal aproximação desperta uma espécie de alerta nos pais para o que o tempo se responsabilizaria em desvendar: os dois se amam. Na fase adulta (vividos por Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos), vemos o casal lidando com as perdas familiares e a possibilidade deste imenso sentimento chegar ao fim.

“O incesto e a homossexualidade são apenas o contexto, o forte mesmo é o amor. Para mim, nenhum dos dois assuntos é tabu, mas sei que para muita gente aí. E também por isso me interessa tratar do tema. E os dois assuntos juntos funcionam para completar a discussão”, afirma ele. E embora o filme esteja hoje nos cinemas com grande repercussão entre o público (além do interesse do público pelos assuntos, o filme está sendo falado desde maio, mês em que caiu na internet algumas cenas do longa que logo foram vistas por milhares de pessoas), não foi fácil tirá-lo do papel. Com o orçamento de R$ 1,8 milhão, o diretor esbarrou em muitos “nãos” na hora de captar o valor com as empresas.

“Consegui apenas dois patrocínios que optaram por ficar no anonimato. As demais diziam que o filme não tinha a ver com a política de patrocínios. Não dá pra dizer que houve preconceito, mas tudo me leva a pensar que sim”, comenta ele, lembrando que diversos empresários sugeriram que ele mudasse a história de dois irmãos para primos ou irmãs. “Mas pra mim isso era absurdo, não era isso que queria fazer. Preferi arriscar de outras formas, investir dinheiro do meu bolso, mas filmar como imaginava”, continua.

Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos falam da obra com o mesmo entusiasmo do diretor. Ambos demonstram satisfação por participarem de um longa que, após a sessão, permanece na mente do público. “Acho que essa é o grande sonho de qualquer ator, estar em um filme que gera tanto debate, tanta discussão”, afirma Vasconcellos. “Me interessou fazer pois gosto da ideia de questionar os motivos de tantos ‘não pode’. ‘Não pode, mas por qual razão?”, comenta Cardoso, que também pode ser visto na televisão interpretando Eduardo na minissérie “Cinquentinha”, da Rede Globo.

Há duas semanas em cartaz em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, e nos cinemas de Belo Horizonte e Campinas desde a última sexta-feira, “Do Começo ao Fim” já foi visto por mais 40 mil pessoas, marca expressiva para um lançamento limitado. Para as próximas semanas, Aluízio deseja ampliar o circuito e conta principalmente com o boca a boca do público para que seu trabalho chegue ao maior número possível de pessoas. “Já recebi inúmeros e-mails de pessoas que gostaram do filme, que conseguiram ver ali um pouco de esperança. E fico feliz, pois foi justamente esta a minha intenção: mostrar que existe possibilidade mesmo em um mundo repleto de ‘nãos’”, diz o diretor.

Rodrigo Soares
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