[Entrevista] Undone | Equipe e elenco da série do Prime Video falam sobre produção da segunda temporada
Os criadores da série, Raphael Bob-Waksberg e Kate Purdy, e as atrizes Angelique Cabral e Constance Marie falam sobre a universalidade dos temas da segunda temporada da produção, bem como conversam sobre os novos desafios dos bastidores desse novo ano.
Lançada em 2019, “Undone” trouxe ao Amazon Prime Video uma interessante jornada através do tempo protagonizada pela excêntrica Alma (Rosa Salazar), uma jovem de 28 anos deprimida e sem rumo que acaba descobrindo ter curiosos poderes ao sofrer um acidente. Ao perceber que problemas hereditários podem na realidade não passar de incompreendidas habilidades, ela começa a planejar uma possível maneira de evitar a morte de seu querido pai, Jacob (Bob Onderkirk), tirado de sua vida durante a infância.
Abraçando a ambiguidade e especializada na construção de interessantes visuais que mesclam com a fantasia e a realidade – alavancadas pelas ferramentas oferecidas pela animação em rodoscopia -, a primeira temporada se despediu dos espectadores com um cliffhanger desafiador e que deixou inúmeras questões a serem respondidas. Três anos após essa provocação, a série finalmente retornou para dar avanço à jornada de Alma e sua família de viajantes do tempo, bastando apenas alguns episódios dessa nova leva para demonstrar um aprofundamento ainda maior em questões como a migratória e a busca por pertencimento.
O Cinema Com Rapadura teve a oportunidade de assistir à segunda temporada em antemão e conversar com os criadores Raphael Bob-Waksberg e Kate Purdy, atuantes da Tornante Animation (que também encabeçaram o seriado da Netflix “BoJack Horseman”), e com as atrizes Angelique Cabral e Constance Marie, que interpretam as personagens Becca e Camila. Veja os destaques da conversa logo abaixo!
Raphael Bob-Waksberg (Criador): A série partiu, na verdade, da minha vontade de trabalhar com a própria Kate, que eu não tinha conhecido diretamente ainda além do seu trabalho, que eu sabia que ela já havia escrito justamente para “BoJack”. Por conta disso, dessa empolgação em trabalhar mais uma vez com ela, começamos a discutir sobre os tipos de narrativas que gostaríamos de elaborar, e da mistura de diferentes perspectivas de mundo foi surgindo a trama de “Undone”, uma mistura de diferentes paixões e interesses.
Kate Purdy (Criadora): Trabalhar com a primeira temporada, em termos de rodoscopia, foi bem mais difícil que a segunda, e especialmente porque a equipe, na maior parte das vezes, estava totalmente à mercê das nossas palavras. Eles tinham que imaginar a maior parte dos cenários, e nos estágios iniciais não havia praticamente nada concreto nos sets onde gravávamos a cena. Por outro lado, o resultado final acabava ficando mais emocionante, quando percebíamos que a junção daqueles elementos isolados tinha dado super certo. Com certeza levamos esse aprendizado para a segunda temporada, que não apenas amplificou os visuais como deixou tudo muito mais dinâmico…
Raphael Bob-Waksberg: … acho legal destacar também que o processo de atuação com a rodoscopia é interessante, porque muitos tendem a pensar que o processo envolve o exagero, levando o personagem para uma exacerbação das ações e expressões faciais. Mas desenvolvendo a série foi ficando muito claro que esse formato permitia, felizmente, seguir pelo caminho contrário, preservando as interpretações da forma mais pura e convincente possível no estilo animado.
Kate Purdy: Voltando ao que o Raphael comentou, no meu caso especialmente eu busquei muitos ecos no histórico de esquizofrenia apresentado pela minha própria família. Meu pai nunca falou muito sobre o que a minha avó atravessou, mas eu me apoiei em uma única memória específica que ele compartilhou, sobre ela varrendo a sala de aula enquanto as crianças assistiam televisão. Eu acredito que, em conjunto, a criação de narrativas é muito sobre isso, esse retorno constante a uma mesma memória que pode acabar se completando em paralelos de outras pessoas…
Raphael Bob-Waksberg: … com certeza! Nesse processo eu acabei incorporando muito do histórico da minha família na Polônia, os traumas geracionais criados pela perseguição, e como isso se conectava com a grande questão do deslocamento da Alma e seus parentes, entre outros segmentos da trama do seriado. Então é realmente muito bonito perceber como esses paralelos partem de perspectivas subjetivas mas se completam dentro de questões de escopo universal.
Angelique Cabral (Becca): O que mais me anima nessa segunda temporada é que as pessoas poderão perceber o crescimento da Becca, que mostrará ela se envolvendo com a viagem do tempo e reconhecendo a força que a personagem naturalmente também possui. Eles vão poder entender melhor o lado da personagem, talvez construir uma compaixão muito maior por ela…
Constance Marie (Camila): … essa mesma lógica da compaixão vai se aplicar à Camila. Se antes ela é retratada como essa personagem extremamente dura, principalmente no seu relacionamento com Alma, agora vamos poder compreender muito melhor porque ela é desse jeito, que acontecimentos a deixaram assim. Isso representou um desenvolvimento muito interessante da criação criativa dela nesse processo, e quero muito ver como as pessoas vão se conectar com ela e suas vivências.
Angelique Cabral: Sobre a rodoscopia, ela definitivamente é a nossa melhor amiga, dando formas de ter uma maior conexão com o espaço e tudo que acontece ao redor da gente. Isso tem um impacto grandioso na nossa performance, aumentando o impacto de nossas emoções e tornando aqueles personagens mais críveis. A maior dificuldade do processo está na ausência dos espaços, o que por outro lado dava uma maior liberdade nessa criação, apesar de definitivamente não ser um processo para todos…
Constance Marie: … eu acredito que isso auxiliou demais no meu processo criativo, ajudou demais na maneira como eu imaginava as situações. E o fato dos atores não estarem todos reunidos em todas as cenas amplificava esse efeito ainda mais. Teve essa cena que eu precisei gravar sem o Bob (Onderkirk) por exemplo, e acabou sendo uma performance impressionante de término de relacionamento com um móvel, é um processo muito bacana.
Angelique Cabral: Acho muito tocante também como essa temporada amplifica as tendências de cunho familiar da série, mesmo em torno desse contexto mais surreal de dissolução e suspensão do tempo e da realidade. Existem dramas bastante sensíveis dentro desse escopo, e que podem se conectar com todos das mais diversas formas. Acho engraçado como a cena que mais me marcou em filmar foi a do piano, em que eu toco ao lado da Alma. É algo tão simples, mas extremamente tocante…
Constance Marie: … nesse sentido, a minha cena favorita da série até o momento é uma em que eu sequer estou em cena. Em um certo dia a minha filha passou um tempo no set, e colocaram ela para captar uma cena em que uma criança tinha um momento bastante inocente e de descontração. Ver ela se habituando à rodoscopia, e usando a imaginação para performar algo tão genuíno e humano foi muito emocionante!
A segunda temporada de “Undone” já está disponível no Prime Video.
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