Reprodução/Marvel Studios

Antes de chegar à reta final com seus dois últimos episódios, “Cavaleiro da Lua” deixou o público com uma intrigante surpresa ao fim do episódio 4. Deixando de lado os deuses do Egito e suas artimanhas, a série jogou a pergunta “o que é real?”. E esse questionamento serve não só para o espectador, mas também para o próprio protagonista, que, dividido em duas (ou mais) personalidades, precisa decifrar a si mesmo antes de salvar o mundo.

Para entender mais sobre o aspecto visual da série, e como as diferentes facetas de Oscar Isaac são retratadas, o Cinema Com Rapadura teve a chance de conversar com Gregory Middleton, diretor de fotografia de “Cavaleiro da Lua”. Conhecido por seu trabalho em “The Killing” e “Game of Thrones”, e vencedor do Emmy por “Watchmen”, Middleton destrinchou o difícil processo de mostrar Marc e Steven em tela ao mesmo tempo, e jogou boas dicas sobre o que o público pode esperar para os últimos episódios. Veja os destaques da conversa abaixo!

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Uma das maneiras mais criativas que a série encontrou para representar a dualidade entre Steven e Marc foi através de reflexos. Embora comece a ser mais perceptivo quando Steven começa a se dar conta de Marc, desde o início vemos que reflexos em espelhos, vidros e água estão sempre presentes na narrativa. Mas como essas cenas são filmadas, principalmente quando Oscar Isaac tem de conversar consigo mesmo sendo personagens diferentes?

Isso também nos confundiu. Tem vários jeitos que você pode fazer isso. A parte complicada é que quando você tem um reflexo espelhado, existe uma perspectiva do reflexo. Então se a câmera se move, a perspectiva muda. Então, porque Oscar está interpretando ambos os personagens, se você move a câmera, você tem que mover a câmera da mesma forma duas vezes. O que é um pouco complicado, porque ele vai interpretar ambos os personagens, e às vezes com um deles, a gente só vai gravar bem depois. Então nós fizemos muita pesquisa de antemão com o departamento de efeitos visuais, e existem várias formas de fazer isso.

Se você não mover a câmera muito, você pode fazer algo simples, que é gravar um elemento do Oscar em tela verde e depois jogá-lo dentro do espelho. Esse é o jeito mais comum. Nós só precisávamos ter cuidado com como usamos a câmera, então tínhamos que planejar cuidadosamente. Por exemplo, o shot no fim do episódio 1, quando mostramos o espelho do banheiro. Mohamed [Diab, diretor] insistiu para que em vez de usarmos apenas um personagem, nós fizéssemos um one shot mostrando todos os reflexos, o que foi bem complicado. E foi bem difícil para o nosso operador de steady cam e para Oscar. Mas nós só tínhamos que entender como nós movíamos a câmera, para depois fazer o mesmo com o Oscar no fundo verde. Então o timing tinha que ser preciso.

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Oscar teve seu irmão Mike [Hernandez] atuando com ele, então nós ouvíamos Mike, mas tínhamos que saber exatamente onde Marc ficaria e como seu reflexo andaria, por exemplo, e tínhamos que entender tudo isso enquanto filmávamos Steven, que era o herói do shot. Depois, então, tínhamos que filmar Oscar sozinho e juntar os shots. Para isso, nós tínhamos que saber o que a câmera estava fazendo, para que não nos pegássemos filmando um shot para o qual não conseguiríamos filmar um reflexo.

Dá para imaginar a complexidade de fazer isso para todas cenas com Steven e Marc conversando em reflexos, que ficam ainda mais constantes com o passar dos episódios. No entanto, para o final do episódio 4, em que ambas as personalidades se encontram externamente, o processo foi um pouco diferente:

Às vezes nós usamos motion control [câmera que permite a repetição remota dos mesmo movimentos], como quando Steven e Marc aparecem juntos no episódio 4. Eles dois foram filmados no mesmo set, Oscar interpreta ambos os personagens e a câmera é remotamente controlada com o mesmo movimento. Então ele atua com Mike uma vez, e depois nós repetimos o mesmo movimento de câmera com ele como Steven, e depois podemos juntá-los. Por isso parece tão bem feito, não é um shot de tela verde. Essa é outra forma de fazer, mas você tem que saber exatamente o que a câmera vai fazer, o que é complicado.

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Desde o primeiro episódio, os reflexos também dão a entender que pode existir mais de uma personalidade além de Steven e Marc. De início, assumia-se que o detalhe se referia ao próprio Cavaleiro da Lua, a entidade de Khonshu, que também esteve presente no marketing como essa terceira figura. Mas os episódios seguintes, e principalmente a metade final do quarto, parecem confirmar que ainda há algo escondido a ser descoberto. Middleton é cuidadoso com spoilers, mas confirma que a ideia de mostrar três facetas do mesmo corpo sempre foi a ideia.

Você percebe três reflexos, o que foi intencional. Tem um shot no episódio 1, quando ele acorda do sonho e acha que estava nos Alpes, e vemos um pequeno reflexo com três. Porque nos quadrinhos geralmente são três — em certo ponto são cinco —, mas nós sabíamos que três era o comum nos quadrinhos, então estávamos determinados a colocar isso lá. E claro, no quarto episódio tem uma dica que existe um segundo sarcófago e talvez exista algo lá dentro. Então é uma referência para os fãs do personagem nos quadrinhos, que podem pensar que talvez existam três personalidades, talvez isso vá fazer parte da história, e também é uma forma de mostrar visualmente a confusão. Steven vê múltiplas versões de si, e ele não sabe quem é, então é uma forma de mostrar isso para o público.

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Se as dicas sobre as três personalidades sempre estiverem presentes, no que devemos prestar atenção nos próximos dois episódios?

Se você assistir aos episódios anteriores, tem uma referência a um hipopótamo no episódio 1, em que é falado sobre a deusa Tuéris, e aparece o boneco. Existem várias coisas escondidas lá, por algumas razões. Mohamed tinha uma ótimo expressão: “tudo sempre deve ser uma pergunta”. Steven não sabe o que é real, então nós sempre tentávamos plantar coisas, seja dos quadrinhos ou da própria história da série, porque se você está imaginando algo, você traz isso da sua vida real, não vem do nada. Sempre é algo que você vê, se é um sonho, pode ser algo que você viu enquanto dirigia para casa, então nós sempre tentamos cuidadosamente plantar coisas que poderiam apoiar isso. Nada é real para ele, ou melhor, o que é real para ele? Ele não sabe. Então assim, sem spoilers, mas nós definitivamente prestamos atenção nisso, e isso definitivamente foi parte do que tentamos fazer.

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Embora a produção da série não tenha tido a chance de visitar o Egito — com as filmagens acontecendo na Jordânia, Hungria, Eslovênia e Inglaterra —, sempre foi desejo do diretor Mohamed Diab que sua terra Natal fosse representada além do que a cultura pop sempre costuma mostrar. Falando sobre essa intenção, Middleton explicou:

Mohamed é egípcio com orgulho e ele queria que o Egito fosse representado em suas várias glórias. Cairo é uma metrópole, com vários tipos de vizinhanças e vários tipos de pessoas. Ele não queria que fosse só uma coisa, deserto e arqueologia, ele não queria só isso. Ele queria mostrar o máximo da parte cosmopolita de sua cultura e país, então existe esse lado.

Embora já tenhamos visto o Egito Antigo em várias obras diferentes, sejam mais voltadas para aventura ou terror, “Cavaleiro da Lua” traz um aspecto mais contido, apenas com o quarto episódio indo um pouco mais além. O diretor de fotografia menciona o comprometimento com a veracidade de como seriam esses lugares, elogiando o trabalho de design de produção da série:

Sobre as tumbas, é interessante, porque Stefania Cella, nossa designer de produção, pesquisou bastante, como por exemplo com o background de Alexandre, o Grande, ela foi à fundo nisso. Se você olhar para todas aquelas paredes, que foram pintadas por incríveis estudantes de arte de Budapeste, tudo é cheio de detalhes, e ela não botou nada lá que não foi pesquisado, ou que não faria sentido, mesmo que seja algo fantástico.

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O quinto e penúltimo episódio de “Cavaleiro da Lua” vai ao ar nesta quarta-feira (27) no Disney Plus, continuando o intrigante mistério da ala psiquiátrica em que Marc/Steven se encontram.

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