Cinema com Rapadura

Entrevistas   sexta-feira, 03 de setembro de 2021

[Entrevista] Ryan Meinerding, chefe do departamento visual da Marvel, define What If…? como uma versão mais ousada do MCU

Parte do MCU desde seu início, Meinerding foi (e continua sendo) essencial em estabelecer as identidades visuais dos icônicos personagens.

[Entrevista] Ryan Meinerding, chefe do departamento visual da Marvel, define What If…? como uma versão mais ousada do MCU>

Como o primeiro projeto em animação do Marvel Studios, “What If…?” tinha o desafio de explorar um novo formato e apresentá-lo satisfatoriamente a uma fanbase já consolidada como algo canonicamente parte do MCU. Apesar de ser um passo potencialmente intimidador, é também uma oportunidade única não só de explorar histórias alternativas com personagens já conhecidos, mas também de trazer um estilo visual que só a animação seria capaz de fazer.

Anunciada oficialmente em abril de 2019, a série estreou no Disney Plus em 11 de agosto, e já está agora em seu quarto episódio (potencialmente o melhor até então). Mesmo com os trailers, muitos não sabiam o que esperar desta transposição de live-action para a animação, mas apesar da mudança de formato, o DNA Marvel continua intacto, e muito disso se deve a uma equipe que conhece bem este universo e seus personagens.

O Cinema Com Rapadura teve a chance de conversar Ryan Meinerding, chefe do departamento visual do Marvel Studios, e importante membro deste time desde o início do MCU. Ele deu detalhes sobre o desenvolvimento de “What If…?”, falou sobre inspirações e objetivos da série, e nos deu uma ideia do que esperar para os episódios restantes. Veja os destaques abaixo!

Ryan Meinerding se juntou ao MCU em seu projeto inicial, quando Jon Favreau o contratou para “Homem de Ferro”. Ele fez o design da Mark I e a armadura do Iron Monger, além de contribuir com ilustrações keyframe para todo o filme, como em cenas na caverna em que Tony Stark fica preso, e sua garagem. Meinerding viria a trabalhar em todos os filmes do Homem de Ferro, do Capitão América – sendo responsável pelos designs de todos os uniformes do herói -, do Thor, e foi peça-chave como líder do departamento visual para definir os designs dos Vingadores. Com todos estas conquistas, ele ainda continua realizando sonhos, e ao falar sobre “What If…?”, Meinerding deixa transparecer a felicidade que seu trabalho lhe proporciona.

Trabalhar em ‘What If…?’ foi um sonho realizado. Eu estava envolvido desde bem cedo, Brad Winderbaum [produtor executivo] propôs a ideia de fazer uma versão animada de ‘What If…?’, e Bryan Andrews [diretor] havia entrado no projeto com a noção de trazer J.C. Leyendecker como um guia estilístico.

E do meu ponto de vista, quando se está em um projeto tão cedo, eu essencialmente começo a desenhar. Eles estão dizendo várias coisas inspiradoras e conversando sobre o projeto, então eu fui inspirado a começar logo. Neste estágio eu estava trabalhando em Capitã Carter, Steve Rogers e o Hydra Stomper, o T’Challa Senhor das Estrelas e Doutor Estranho. E neste estágio, a ideia é descobrir o estilo do projeto, misturado com designs de personagem, você realmente tenta com os desenhos dos personagens deixar o estilo geral da animação claro. E eu provavelmente fiz sete ou oito desenhos destes personagens nos estágios iniciais, e isso se tornou a direção que nós tomamos.

E a partir daí, os roteiros estavam sendo preparados, o outline dos roteiros estavam ficando prontos, estávamos contratando outras pessoas, e começamos a ter o dever de desenhar todos os personagens dos episódios que estavam ficando prontos. Então essencialmente foi a ideia de descobrir o estilo através de criar o design dos personagens de antemão, e depois passando para os modelos 3D, e os diferentes estúdios com quem trabalhamos, garantindo que todos continuassem no mesmo estilo. Realmente é a noção de olhar para o MCU, achar um jeito atraente de traduzir para animação, e surfar na diversão do que os diretores e produtores estão tentando fazer.

J.C. Leyendecker foi um ilustrador de renome do início do século XX, mais conhecido por suas artes de propaganda, em que fazia pinturas com pessoas em um estilo polido e idealizado, sendo a grande referência para o visual de “What If…?” desenvolvido por Meinerding e o diretor Bryan Andrews.

“Men Reading”, por J.C. Leyendecker

A identidade estilística da série tinha de permanecer a mesma, apesar dos diferentes estúdios envolvidos no desenvolvimento dos episódios. Blue Spirit, Squeeze e Flying Bark foram as produtoras envolvidas, trabalhando da França, Canadá e Austrália, respectivamente. Como leiga assumida no assunto, perguntei a Meinerding se garantir a fidelidade aos designs criados por ele e seu equipe seria mais fácil no formato de animação, mas ele explicou que o processo é o mesmo:

É bem similar na tradução que precisa acontecer. Nós fazemos desenhos que são 2D, essencialmente em pedaços de papel, só que no computador, e basicamente os estúdios que estão fazendo o show constroem os personagens em 3D. Então existe uma tradução que acontece nisso. E é bem similar com a tradução que acontece quando trabalhamos nos filmes, ainda fazemos designs em 2D no computador, e mandamos para departamentos de figurinos super talentosos, ou casas de efeitos visuais incríveis, e a tradução que acontece lá é a ideia de trazer as coisas à vida. Estamos fazendo desenhos que toda uma equipe de pessoas talentosas transforma em personagens vivos. É um processo bem similar.

Uma das vantagens da animação é poder explorar ainda mais universos fantásticos, sem os limites de até onde os efeitos visuais podem ir (embora hoje em dia, eles possam ir bem longe). O episódio 4 chama atenção especial por trazer as Artes Místicas do Doutor Estranho de uma forma deslumbrante, e senti que o personagem atingiu um potencial ainda pouco explorado nos filmes. Perguntei a Meinerding se ele acredita que “What If…?” tenha dado ou venha a dar um destaque maior a algum personagem já conhecido através da animação, em oposição ao live-action. Para ele, é só uma nova forma de ver algo que já conhecemos:

Eu acho que estamos sempre tentando nos basear naquilo que vem do MCU, então a noção de ‘What If…?’ ser uma versão mais ousada ou mais maluca do que está no MCU é bem o que é a proposta da série em vários sentidos. Eu não sei se existe um personagem que se traduz melhor ou parece melhor em animação. Eu sinto que as oportunidades que a animação provê, as rodas de proteção estão mais soltas, você pode forçar os limites um pouco mais, e isso é visível na própria série, e é visível nos próprios designs.

Não estamos limitados a proporções específicas de humanos. Thanos pode ser um pouco maior, ele pode parecer um pouco mais intimidador, ao mesmo tempo que é mais amigável, e nesse contraste você tem algo bem interessante. Eu entendo seu pensamento, eu amo o episódio do Doutor Estranho também, mas eu gosto de pensar que nós essencialmente ainda estamos tentando representar o MCU de um jeito interessante.

Ao explorar o Instagram do artista – que é como um museu em que se pode perder horas observando as lindas artes -, notei alguns designs não usados para o uniforme do Doutor Estranho em seu filme de 2016 que me lembraram o design escolhido para o Strange Supreme (o “gêmeo malvado” do episódio 4). Explorando ainda mais as artes, me peguei pensando se a ideia de “What If…?” permitiria a Ryan reutilizar conceitos abandonados como parte destas histórias alternativas, assim como os próprios episódios exploram caminhos que poderiam ser. Ele explicou que é possível, mas depende da jornada do personagem:

Uma das partes divertidas do meu trabalho é abordar cada projeto como se fosse um novo desafio, e é algo novo a ser visto. Um dos benefícios de ter feito estes outros trabalhos antes é que eu posso mostrar para o Bryan Andrews e dizer ‘ei eu fiz esse outro desenho, é interessante?’, e se ele gostar de algo, eu posso começar por isso.

Mas eu acho que com o episódio do Doutor Estranho, foi mais algo como, vamos achar uma nova direção, vamos achar algo que pareça certo para este personagem, porque ele obviamente está passando por algo bem diferente do que ele passou no MCU até agora. Eu acho que toda essa exploração para mim se torna algo que está no meu subconsciente como coisas que eu já explorei, coisas que já tentei, coisas que podem vir à tona novamente, mas eu não diria que estávamos necessariamente procurando nestes lugares para a série.

A semelhança do manto pontudo, no entanto, é inegável. Passa justamente a ideia de um mago maligno, e Meinerding comentou que foi justamente por isso que o design foi reprovado em 2016:

Honestamente, talvez algumas daquelas coisas já estejam enraizadas em mim, de eu ter tentado e não lembrado depois, e talvez não tenha funcionado antes porque as pessoas acharam que faz ele parecer maligno e eu tive que fazer de novo.

É impressionante como pequenos detalhes de fato ajudam a caracterização de personagem, mesmo que nem sempre entendamos por quê. Mas minha empolgação com o Doutor Estranho não parece ser tão compartilhada por Meinerding (talvez pelo medo de falar algo que não deve sobre um personagem que ainda pode voltar…?). Perguntei que tipo de maravilhas nos esperam nos episódios vindouros, e ele disse:

Têm várias coisas empolgantes que estão vindo que mal posso esperar para as pessoas verem, e honestamente assistir na minha TV em casa também será incrível. Mas eu não acho que posso falar sobre elas.

“Nenhum personagem que você está animado para ver?”

O Homem-Aranha é um dos meus personagens favoritos, acho que vimos imagens dele nos trailers. A ideia de ter trabalhado em uma versão animada do Homem-Aranha, é um sonho realizado pra mim. Então estou animado para vê-lo na tela.

Meinerding esteve totalmente envolvido nos designs do Capitão América desde o primeiro filme. No episódio 36 da série de curtas “Um Dia na Disney”, disponível no Disney Plus, podemos acompanhar um pouco do processo interessante que é o design de um uniforme do herói, indo dos primeiros desenhos, até a transposição 3D, e eventualmente ao uniforme materializado para como vimos no filme. Quando questionado sobre seus designs favoritos em “What If…?”, Meinerding não hesita em mencionar o episódio 1, da Capitã Carter:

Tem muita coisa do episódio 1 em que foi muito divertido trabalhar, e do qual me orgulho muito de como ficou. A dinâmica entre Peggy Carter, Steve e o Hydra Stomper, estes três juntos é… Eu trabalhei em muitos filmes do Homem de Ferro e do Capitão América, e a ideia de tê-los juntos no formato de animação. Estes são provavelmente meus três favoritos.

Veja diversas outras artes sensacionais de Ryan Meinerding aqui.

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“What If…?” tem novos episódios lançados às quartas, no Disney Plus.

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Louise Alves
@louisemtm

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