Cinema com Rapadura

Entrevistas   quinta-feira, 06 de maio de 2021

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas | Equipe fala sobre o processo criativo por trás da animação

Desenvolvida pela Sony Pictures Animation e lançada pela Netflix, animação produzida pela dupla Lord & Miller tem charme de sobra.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas | Equipe fala sobre o processo criativo por trás da animação>

É verdade que a Sony Pictures Animation surpreendeu a todos com a qualidade de “Homem-Aranha no Aranhaverso” em 2018, mas o estúdio já havia lançado algumas pérolas dignas de atenção antes disso. “Tá Dando Onda” (2007) – especialmente com a dublagem brasileira – é um filme hilário, e “Tá Chovendo Hambúrguer” (2009) já mostraria sinais da inventividade nas técnicas do estúdio. O primeiro exemplo teve co-direção de Chris Buck, que eventualmente seria responsável por “Frozen”, e o segundo foi a estreia da dupla Phil Lord e Chris Miller.

Os dois, produtores de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, oferecem agora “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, desenvolvida pela Sony Pictures Animation e lançada pela Netflix em 30 de abril. Amplamente elogiada, a animação reforça a ideia de que este formato é ideal para expandir a imaginação e usar todas as ferramentas possíveis para uma narrativa que se destaque no meio de tantas outras. A direção fica a cargo de Mike Rianda e Jeff Howe, ambos estreando em longa-metragem. Eles trabalharam no seriado animado “Gravity Falls”, e agora tiveram a chance de juntar experiência com visão original.

A Netflix concedeu ao Cinema Com Rapadura declarações exclusivas dos envolvidos no filme, destacando a empolgada equipe e as ideias por trás de decisões visuais.

Kurt Albrecht, executivo de produção da Sony Pictures Animation e produtor do filme, diz que o estúdio deu toda a liberdade para Rianda e Rowe colocarem suas ideias originais em prática:

“Mike e Jeff vêm do mundo da animação em 2D para TV. A designer de produção Lindsey Olivares e o diretor de storyboard Guillermo Martinez nunca tinham trabalhado em posições de liderança antes deste filme. A equipe tem muito sangue novo, e todos são muito dedicados, estão sempre trazendo ideias novas e adicionando pontos de vista e piadas diferentes”.

O principal tema do filme, claro, é a conexão familiar, e para Guillermo Martinez, diretor de storyboard, esta foi uma das experiências mais gratificantes de sua vida. Ele diz:

“Em última análise, o tema do filme é a busca de novos pontos de vista e novas formas de conexão dentro da família, e como aproveitar esses momentos compartilhados. Meu sonho é que pais e filhos possam se conhecer melhor graças ao filme”.

Contribuindo para a ideia do aconchego familiar está o fato de que a equipe trouxe muita inspiração de seus próprios lares. A diretora de arte/designer de personagens Lindsey Olivares afirma:

“Muitos detalhes da casa em que eu cresci também estão presentes na casa dos Mitchells. Isso é muito importante porque queremos que o público se identifique com o mundo humano, que as pessoas vejam partes de si mesmas nos personagens ou que se lembrem de suas mães, pais ou tios. Peguei muitos detalhes da minha vida e é ótimo ver que esses personagens e essas histórias geram identificação de outras pessoas”.

Desde a primeira imagem divulgada, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” já se destacava entre outras produções, e isso se deve à distinta identidade visual. Toby Wilson, diretor de arte do filme, explica os dois ambientes distintos do longa:

“Existe familiaridade e ternura no mundo dos Mitchell, com formas orgânicas, irregulares, maleáveis e instáveis. As imperfeições e esse visual manual deram bastante trabalho, já que tentamos imitar o visual 2D feito à mão para dar ternura ao filme. O mundo tecnológico é o extremo oposto. É um mundo projetado por IA, então procuramos muitas referências fotográficas. Quando as máquinas invadem e dominam o mundo humano, a paleta de cores delas também passa a predominar.”

“Também trabalhamos na iluminação dos personagens para que não parecessem feitos por computadores. Parece que alguém pintou aquela luz ao redor do corpo. Estamos imitando a animação em celuloide em 2D. A iluminação é 100% ou 25%, com pouca coisa intermediária, para parecer uma animação clássica”.

O diretor de animação de personagens Alan Hawkins elabora:

“Existem dois estilos muito diferentes no filme, um mais parecido com desenho animado e outro mais realista, e nem sempre existe uma separação clara entre os dois. Os personagens interagem com os dois mundos de formas totalmente diferentes. O mundo humano é aconchegante, familiar e tátil. Quando um personagem se senta em uma cadeira, pode se sentar de qualquer jeito ou incliná-la para trás de uma forma natural. Queríamos que a atuação fosse natural para que o público se identificasse com ela. Os espaços são menores, com uma sensação orgânica e confortável que afeta como a família interage com eles. Em contraste, o mundo dos robôs é minimalista, aberto e rígido. Não há nada sobrando nem fora do lugar, e existem pouquíssimos personagens com quem interagir. Os ambientes dos robôs, como o escritório da Pal, passam uma sensação de isolamento, que usamos para ajudar a orientar as atuações”.

Embora a Sony Pictures Animation já tivesse sido responsável por diversas animações divertidas, “Homem-Aranha no Aranhaverso” se destacou não só por sua história incrível, mas também por como a mídia dos quadrinhos foi diretamente transposta para as telas, de forma tão criativa e envolvente. O supervisor de efeitos visuais Michael Lasker explica a diferença entre o filme de 2018 e “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”:

“O filme combina mídias tradicionais, nas quais você consegue sentir a mão do artista, com os aspectos 3D da animação. Parece feito à mão e artístico. É um estilo completamente novo. Quando conseguimos o visual que queríamos, analisamos pinturas criadas pela equipe de desenvolvimento visual que ilustravam o que eles buscavam em termos de estilo para descobrir a melhor forma de dar vida a elas. Acabamos criando novas ferramentas em nosso processo, projetadas para replicar cada componente da arte. Como o estilo visual evolui ao longo da história, começando no mundo humano e terminando no mundo tecnológico dos robôs, nossas novas ferramentas tinham que ser flexíveis. O novo visual é mais fluido do que o que usamos nos filmes anteriores”.

O destaque final, claro, tem que ser da protagonista Katie Mitchell. A jovem cineasta se mostra extremamente criativa com seus filmes caseiros, e fora deles vemos sempre como suas emoções ou pensamentos são expressos em tela. Mike Rianda falou sobre o assunto:

 “A ideia era: se a Katie é uma cineasta que faz todos esses filmes bobos, que tal se parecesse que ela estaria editando o nosso filme? Então, é ela que escreve no frame e desenha corações em volta da mãe e chifrinhos no pai. Pareceu um jeito muito divertido de mostrar a personagem mais por dentro da criação do filme em si. Queríamos que ela fosse essa pessoa incansavelmente criativa que desenha nos sapatos, nas calças, nas paredes e onde mais puder. Então, faria sentido ela desenhar no frame”.

O que faz uma boa animação? Certamente uma ideia inovadora faz parte da receita, mas o mais importante é a equipe envolvida, que transpõe suas próprias visões de mundo em um produto único. “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” está disponível na Netflix – leia nossa crítica.

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Louise Alves
@louisemtm

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